A chanceler alemã, Angela Merkel, considera o coronavírus o maior desafio para a Alemanha desde a II Guerra Mundial. Um desafio que, a avaliar pelos níveis de popularidade (64%) e de aprovação (89% dos alemães defendem as medidas que tem tomado), Merkel tem sabido enfrentar na parte final do seu quarto mandato, que prometeu ser o último. Até o tabloide Bild, normalmente crítico, já perguntou: "Quinto mandato por causa do Corona?".Merkel não parece contudo interessada em voltar atrás na decisão de não se candidatar às eleições de 2021, que anunciou em outubro de 2018. Essa hipótese foi ficando cada vez mais longe após a chanceler ter sido várias vezes vista a tremer descontroladamente em público no ano passado, recuperando sempre e dizendo estar bem..E não esteve em cima da mesa nem mesmo quando a sua protegida, Annegret Kramp-Karrenbauer, deixou a liderança dos conservadores da CDU em fevereiro, um ano após ter sido eleita para substituir Merkel. A corrida à sucessão foi contudo abalada pela pandemia que já matou mais de cinco mil pessoas na Alemanha e muitos continuam a ver na doutorada em Física de 65 anos a líder que assumiu as rédeas do partido há 20 anos (a 10 de abril de 2000)..Duas décadas na ribalta.Merkel, que estava na política há apenas dez anos, beneficiou então da proteção de Helmut Köhl, distanciando-se dele quando um escândalo de desvio de fundos o fez cair. Cinco anos depois de ser eleita para liderar a CDU, tornou-se chanceler. A estabilidade e prosperidade económicas que marcaram os seus mandatos foram postas à prova com a crise económica de 2008 e a crise do euro, mas isso não a impediu de quase conseguir a maioria absoluta em 2013. E nem a abertura das portas da Alemanha a mais de um milhão de migrantes durante a crise de refugiados de 2015 a abalaram, conseguindo ser reeleita em 2017 apesar da ascensão da extrema-direita da Alternativa para a Alemanha (AfD)..Agora, veio a pandemia, o confinamento geral e medidas que vão quase de certeza deixar a economia em recessão - não a herança que Merkel queria deixar. Logo no início, numa rara declaração ao país fora da habitual de Ano Novo, Merkel lembrou a infância na Alemanha de Leste e admitiu que é difícil abdicar das liberdades, mas deixou claro que os factos não mentiam e que era preciso ir longe para evitar mortes e conter o covid-19. Depois, foi fotografada com o mesmo fato azul que usava na declaração a comprar comida, vinho e papel higiénico no supermercado - mostrando que era como todas as outras pessoas..Ainda em março, a chanceler ficou de quarentena a trabalhar a partir de casa, depois de um médico que lhe administrou uma vacina ter testado positivo para o coronavírus. A 3 de abril, quando a sua quarentena acabou, regressou com um aumento da popularidade - 11 pontos percentuais num mês, para os 64% de aprovação segundo uma sondagem da televisão pública ARD - e rumores sobre um eventual quinto mandato. Noutra sondagem, da ZDF, 89% dos alemães diziam concordar com as medidas que o governo aplicou. Entre elas, um pacote de estímulos de 750 mil milhões de euros. A nível europeu, Merkel continua líder como sempre, mostrando-se disponível para contribuir mais para o orçamento dos 27..Em meados deste mês, os conservadores da CDU (e os aliados bávaros da CSU) subiam nas sondagens para 38% - mais três pontos em 15 dias (os mesmos perdidos pelos Verdes). Os aliados na coligação, os sociais-democratas do SPD também ganhavam um ponto (17%), o mesmo perdido pela AfD, beneficiando do facto de um dos seus líderes, Olaf Scholz, ser o ministro das Finanças e o rosto do pacote de estímulos. Entretanto, a Alemanha já começa a levantar algumas restrições, sempre com o aviso de que a situação poderá voltar a piorar..Liderança da CDU.A CDU tinha previsto este fim de semana eleger o novo líder, depois da demissão de Kramp-Karren-bauer por causa da polémica eleição regional na Turíngia (em que o partido acabou por votar ao lado da extrema-direita). A pandemia obriga contudo a adiar a disputa, ainda sem nova data marcada..Entre os candidatos (todos homens da Renânia do Norte-Vestefália) o favorito é o atual líder do governo dessa região, Armin Laschet, que escolheu para braço direito o ministro da Saúde alemão, Jens Spahn (que não esconde também ele a ambição de chegar a chanceler). Na corrida estão também Friedrich Merz e Norbert Röttgen. O próximo líder da CDU estará bem posicionado para disputar as eleições federais do outono de 2021, mas os aliados bávaros da CSU podem querer que seja o seu líder, Markus Söder, o candidato a chanceler..Söder, que está à frente do governo da Baviera, foi o primeiro a introduzir medidas restritivas no seu estado, quando outros ainda estavam com dúvidas. E agora parece ser o que menos pressa tem em levantá-las, decidindo abrir as escolas apenas uma semana depois dos outros, já a 4 de maio. Medidas que são bem vistas na Baviera, onde a sua taxa de aprovação chega aos 94% e já é conhecido como "Corona Kaiser" (imperador). E que podem catapultá-lo para uma candidatura nacional. Não seria a primeira vez: Franz-Josef Strauss, da CSU, foi o candidato em 1980, em vez de Helmut Kohl (mas diz-se que este sabia que não tinha hipótese diante de Helmut Schmidt, do SPD, e portanto não tinha nada a perder ao concordar ceder o lugar).