Merkel e Macron dispostos a alterar tratados europeus

Berlim foi o destino da primeira visita do presidente francês. O conservador Édouard Philippe é o escolhido para liderar o governo
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Emmanuel Macron e Angela Merkel mostraram-se ontem disponíveis a uma mudança de tratados europeus para, entre outras coisas, mudar o funcionamento da zona euro. O novo presidente francês foi ontem recebido em Berlim pela chanceler alemã, mantendo a tradição da primeira visita ao estrangeiro do ocupante do Eliseu ser à Alemanha. "Do ponto de vista alemão, é possível mudar os tratados, se tal fizer sentido", declarou Merkel, enquanto que Macron afirmou que essa hipótese não é um "tabu".

Após um encontro onde houve aparentemente uma grande sintonia, o presidente francês apelou a uma "refundação histórica" do projeto europeu e prometeu "reformas económicas" para reduzir o desemprego. Já a chanceler alemã aludiu a um "roteiro" que poderá introduzir reformas na UE e na zona euro, e Macron sublinhou a necessidade de promover "profundas reformas que são necessárias e necessitam de um trabalho em comum".

Os dois defenderam ainda um "novo dinamismo" na relação franco-alemã, com Merkel a anunciar a realização a curto prazo de um "conselho de ministros franco-alemão para apresentar projetos bilaterais suscetíveis de dar uma nova dinâmica aos nossos trabalhos".

Macron sublinhou que a cooperação entre os dois países será "económica, fiscal, em matéria educativa, de segurança, de política internacional". Já a alemã concordou na necessidade em melhorar a proteção comum para os investimentos e avançar na integração da zona euro.

Início socialista

O conservador Édouard Philippe, de 46 anos, deputado e presidente da Câmara do Havre, foi o eleito de Macron para primeiro-ministro de França. Uma escolha que pretende alargar a base eleitoral e enfraquecer os seus opositores antes das legislativas marcadas para 11 e 18 de junho. Esta é a primeira vez na política moderna francesa que um presidente nomeia um líder do governo de outro quadrante sem ser obrigado por uma derrota nas eleições para a Assembleia Nacional. Membro da fação moderada d"Os Republicanos, Philippe vai servir também como contrapeso aos deputados socialistas que se juntaram ao movimento do presidente francês.

Macron, um centrista, quer acabar com o fosso esquerda-direita, e arranjar uma base de apoio para o La République en Marche!. O sucesso nas legislativas é vital para as hipóteses de conseguir implementar o seu programa de cortes na despesa do Estado e criação de emprego.

A escolha de Philippe tem também o objetivo de conquistar mais desertores d"Os Republicanos, da mesma maneira que a decisão de não apresentar candidato na circunscrição de Manuel Valls para as legislativas caiu bem ao ex-primeiro-ministro e dificulta uma reunificação da esquerda.

Na cerimónia de passagem de poder com o seu antecessor Bernard Cazeneuve, que também tem ligações à Normandia, Édouard Philippe brincou, dizendo que os normandos são "agressivamente moderados", mas também "conquistadores". O novo primeiro-ministro descreveu-se ainda como sendo um "homem da direita".

Da parte d"Os Republicanos vieram diferentes reações. "Isto não é de todo uma coligação governamental, mas sim uma decisão pessoal", afirmou o partido. "Ele colocou-se fora da nossa família política", disse Bernard Accoyer, o secretário-geral da formação.

Alain Juppé, o mentor político de Philippe e que lidera a ala moderada do partido, foi menos radical, felicitando a escolha e desejando-lhe boa sorte, dizendo que Philippe tem "todas as qualidades necessárias para esta difícil função".

Bruno Le Maire, um veterano d"Os Republicanos que defende uma aproximação a Macron, também felicitou o colega de partido. "Vamos além das antigas divisões para sermos úteis a França e ao povo francês", escreveu no Twitter.

Édouard Philippe começou a sua vida política, ainda estudante, no Partido Socialista, antes de virar à direita. No ano passado fez parte da equipa da campanha de Juppé para as primárias d"Os Republicanos que acabou por ser derrotada. Depois juntou-se ao vencedor, François Fillon, acabando por sair com o aparecimento dos escândalos relacionados com o candidato de direita.

Tal como Macron, Phillipe frequentou a Escola Nacional de Administração e o seu herói político é o socialista Michel Rocard, outro ponto em comum com o presidente. Numa coluna de opinião publicada no dia 3 no Libération, o novo primeiro-ministro dizia o seguinte sobre Macron: "Ele tem de ser audaz. Abandonar a antiga, confortável, instituída oposição esquerda-direita para criar uma nova maioria".

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