Menos 20 mil casos ativos desde início de fevereiro. UCI ainda sobrecarregadas

Ministra da Saúde avisa para "próximas semanas difíceis" nos cuidados intensivos. Pico da terceira vaga já terá sido ultrapassado, apontam modelos matemáticos
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Os efeitos do novo confinamento geral, sobretudo desde o fecho das escolas, chegam finalmente aos números diários da pandemia em Portugal. Desde início de fevereiro, o número de infeções por covid-19 ativas no país desce a bom ritmo, com uma queda superior a 11% nos primeiros quatro dias deste mês. No total, subtraíram-se já 20 180 casos ativos, para um número atual de 161 442 anunciado nesta quinta-feira (4 de fevereiro) pelo boletim epidemiológico diário da Direção-Geral da Saúde.

Indicadores que, aliados à redução do número de mortes e de casos diários, reforçam a predição dos modelos matemáticos de que o pico desta chamada terceira vaga já terá sido ultrapassado em Portugal. Mas que não permitem ainda aligeirar preocupações, sobretudo no que toca à pressão sobre as unidades de cuidados intensivos, que continuará a fazer-se sentir de forma elevada nas próximas duas semanas, advertiu a ministra da Saúde, Marta Temido.

"Neste momento, a incidência de novos casos de covid-19 começa a cair em Portugal, quer em termos da média a sete dias quer em termos da média a 14 dias, e isso resultou de um esforço significativo em termos de cumprimento de regras de saúde pública", declarou a ministra, numa audição na comissão de Saúde Pública do Parlamento Europeu onde antecipou ainda mais "semanas difíceis pela frente". "E nessas semanas procuraremos fazer o melhor com os nossos serviços de saúde e sei que poderemos contar com as ajudas de vários países", referiu a ministra.

Numa entrevista à revista Visão, publicada esta quinta-feira, Marta Temido reconheceu que o país está a atravessar uma "situação dramática", particularmente na pressão sobre os cuidados intensivos, e explicou que os planos feitos não conseguiram prever este cenário. "Nunca pensámos que isso fosse acontecer - nunca pensámos ver-nos confrontados com uma situação de tal necessidade de meios, de meios profissionais e de recursos."

"Mais de 800 doentes em unidades de cuidados intensivos, nunca tivemos nada assim nem nunca pensámos que isso acontecesse", admitiu Temido, que prevê que nas próximas semanas se possa atingir as mil camas de UCI ocupadas com doentes covid, numa situação que "já é de rutura".

De facto, as unidades de cuidados intensivos não sentem ainda o alívio que o mês de fevereiro trouxe já ao número de infeções ativas ou de novos casos - que ontem foram, por exemplo, menos de metade dos que se tinham registado no mesmo dia (quinta-feira) da semana anterior, quando Portugal batia o recorde de novos casos (16 432) e de mortos (303). Nesta quinta-feira (dia 4), foram menos 8518 casos (7914) e menos 78 óbitos (225).

Nas UCI, no entanto, o número de doentes continua consistentemente elevado, apesar do ligeiro recuo dos últimos dados: são agora 863, menos 14 do que na véspera, mas, ao contrário do que acontece com as infeções ativas, ainda acima dos números que se registava no último dia de janeiro (858) - normal, sabendo-se que demora em média duas a três semanas a notar-se nos cuidados intensivos o reflexo da oscilação de casos ativos. Daí também a preocupação ainda da ministra da Saúde quanto ao panorama nas UCI nas próximas semanas.

Segundo os modelos matemáticos, Portugal já terá ultrapassado o pico desta terceira vaga da pandemia no país. Os modelos da plataforma Covid-19 Insights, uma iniciativa da COTEC Portugal e Nova Information Management School (Nova IMS), indicam que o pico da incidência já terá sido ultrapassado, tendo ocorrido por volta do dia 28 de janeiro, com uma média móvel a sete dias de 12 800 casos diários. O pico da prevalência estará também a ser ultrapassado nesta semana, segundo este modelo.

De acordo com os especialistas, o máximo de internamentos terá sido atingindo no dia 1 de fevereiro, com 6869 internados; já o máximo de internamentos em UCI será, provavelmente, atingido por estes dias, acrescentam os especialistas da Nova. "O Rt está neste momento ligeiramente abaixo de 1 e só deverá descer abaixo de 0.8 na segunda metade de fevereiro, altura em que deveremos atingir a barreira de segurança dos 5000 casos diários", nota Pedro Simões Coelho, o coordenador científico do projeto.

A região de Lisboa e vale do Tejo continua a liderar o número de novas infeções e de novos óbitos e uma das possíveis explicações está na proliferação da nova variante inglesa. Segundo projeções do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge (INSA), citadas pelo Expresso, esta variante será já responsável por 61% dos novos casos registados na zona de Lisboa, enquanto a nível nacional essa proporção será bem menos significativa: 35%

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