João Vieira tem 46 anos, mas diz que tem dias que acorda a pensar que tem 20. Como aconteceu naquela manhã de 29 de setembro de 2019 em que conquistou a medalha de prata nos Mundiais de Doha, que fez dele o medalhado português mais velho de sempre. Agora, o quarentão da marcha portuguesa volta aos Campeonatos do Mundo, que decorrem em Eugene, nos EUA, entre hoje e 24 de julho, para fazer história no atletismo português... com uma inédita 12.ª participação..O atleta preferia marchar 50 km em vez dos 35 km - distância se se estreia nestes Mundiais. "Não é uma distância que me vá favorecer, mas eu vou lá estar para lutar de igual para igual com os outros adversários", avisou o atleta do Sporting, cauteloso na hora de definir objetivos. "O melhor é tentar entrar nos oito primeiros e, se puder, conquistar uma medalha. É para isso que todos os portugueses olham para mim neste momento. E é isso que eu posso prometer", disse o vice-campeão do mundo, pouco interessado em encontrar significado em alguns números históricos, como o facto de ser o português com mais participações em Mundiais.."Para o ano talvez some os 13.ºs, em Budapeste, e já podia ter mais, porque recusei ir àquele que seria o primeiro, em 1997, em Atenas", lembrou João Vieira, que só compete no último dia, juntamente com Rui Coelho, a 24 de julho..Em Eugene, Portugal procura um recorde de medalhas, com meia dúzia de atletas (de uma comitiva de 23) com fortes possibilidades de chegar ao pódio. A começar com o campeão olímpico Pedro Pichardo (triplo salto) e a campeã mundial Auriol Dongmo (lançamento do peso). O objetivo é fazer igual ou melhor do que em Gotemburgo 1995, que ainda hoje é a melhor participação lusa de sempre, com quatro medalhas, incluindo dois ouros (Fernanda Ribeiro e Manuela Machado) em duas disciplinas que agora não estão representadas..Pelo que fizeram nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020 e já este ano nos Mundiais Indoor de Belgrado, Pichado e Auriol são os atletas que mais esperança de medalhas dão. E não escondem que é isso que pretendem. O campeão olímpico do triplo salto é líder do ranking e terá pela frente o campeão em título, o norte-americano Christian Taylor, que regressa longe da melhor forma depois de uma longa paragem por lesão. Já o espanhol de origem cubana Jordan Diaz, que seria o seu principal opositor, está em ano de transição entre seleções. "Claro que o tenho de respeitar o Christian Taylor, é o único que me tem vencido muitas vezes e ainda não o consegui ultrapassar, não há outro que me tenha ganhado tantas vezes (5)", admitiu o campeão olímpico do triplo salto..Pichardo promete lutar até à última pela medalha que lhe falta."O que me passa pela cabeça é o que pensa qualquer atleta, chegar lá e ganhar. É um título que me falta, ainda não ganhei um Mundial ao ar livre - o de pista coberta também não porque fui prata. Como me falta, vou lutar até à última tentativa para trazer esse título para casa", afirmou o triplista à agência Lusa..A 18 de março, o atleta português ficou a 18 centímetros do cubano Lázaro Martínez, na final do triplo salto nos Mundiais de pista coberta. Campeonatos em que abdicou dos dois últimos saltos, devido a uma lesão no pé. Desde então só voltou a competir na etapa de Paris da Liga Diamante, onde se ficou pelos 17.49 metros, longe dos desejados 18 metros: "Eu gostaria que fosse nos Mundiais, mas depende de muitos fatores. Depende do dia, do vento, de muitos fatores, não é só chegar lá e fazer 18 metros"..Detentor do recorde nacional (17.98), Pichardo tem como melhor marca pessoal 18.08 metros alcançados em maio de 2015, quando ainda competia com a nacionalidade cubana..O atleta do Benfica não tem medo da competitividade e acha até que deveria ser incentivada, apelando a mais apoio governamental e a uma abordagem "diferente" da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA): "Eu já sou atleta profissional, mas faço parte de uma seleção com atletas amadores. A FPA tem de entender que o nosso desporto não pode ser amador e [...] querer competir com profissionais. Porque vai acontecer o que sempre acontece, um atleta fica em oitavo, nono ou 10.º e está feliz. Não me sinto superior, e eu nem gosto de falar deste assunto porque acham que é por eu ser campeão, mas eu não nasci campeão, eu perdi, fiquei em quarto, em quinto e continuava a lutar para ser campeão. Não podemos ficar felizes com um nono lugar, seja em Mundiais ou Jogos Olímpicos. O nono lugar é o nono lugar e temos de tentar lutar pelas medalhas, sempre!"..Lutar por medalhas é o que Auriol Dongmo também tem feito sempre. A campeã do mundial do lançamento do peso em pista coberta pode contar com a oposição forte das norte-americanas e chinesas. Já Patrícia Mamona (triplo salto) ainda não se mostrou ao nível de Tóquio 2020 (foi vice-campeã), mas a superação faz parte da carreira da atleta do Sporting. Também Liliana Cá (quinta no disco nos JO) tem credenciais para apontar ao pódio, assim como os marchadores Ana Cabecinha e João Vieira..Desde que Rosa Mota (ouro na maratona) e Domingos Castro (prata nos 10 mil metros) subiram ao pódio em Roma 1987, Portugal já conquistou 22 medalhas em Mundiais, seis delas de ouro. A comitiva de 23 atletas (16 mulheres) supera a de Doha 2019 (19 e uma medalha), mas fica longe dos 30 de Atenas 97, no auge de atletas como Fernanda Ribeiro e Manuela Machado, que terá a filha (Mariana Machado) nestes Mundiais a dar seguimento ao legado da mãe nos 5000 metros..O meio-fundo praticamente desapareceu e pela primeira vez a comitiva não integra um único maratonista. A especialidade com mais presenças até teve mínimos feitos, por Solange Jesus, mas a atleta decidiu optar pelos Campeonatos da Europa, que também se realizam este ano, num calendário internacional ainda em acertos da paragem forçada pela pandemia de covid-19. Com Lusa.Femininos Lorene Bazolo (100 e 200 metros) Cátia Azevedo (400 metros) Vera Barbosa (400 m barreiras) Marta Pen (1500 metros) Mariana Machado (5000 m) Evelise Veiga (Salto em comprimento) Patrícia Mamona (Triplo Salto) Auriol Dongmo (Lançamento do peso) Jessica Inchude (Lançamento do peso) Liliana Cá (Lançamento do disco) Irina Rodrigues (Lançamento do peso) Ana Cabecinha (20 km marcha) Carolina Costa (20 km marcha) Inês Henriques (20 e 35 km marcha) Sandra Silva (35 km marcha) Vitória Oliveira (35 km marcha) Masculinos Isaac Nader (1500 metros) Tsanko Arnaudov (Lançamento do peso) Pedro P. Pichardo (Triplo Salto) Tiago Pereira (Triplo Salto) Leandro Ramos (Lançamento do dardo) João Vieira (35 km marcha) Rui Coelho (35 km marcha)