Quem não conhece as imagens de Marilyn Monroe em Niagara (1953), Os Homens Preferem as Louras (1953) ou O Pecado Mora ao Lado (1955)? Ou ainda o romance e o drama da história da família Von Trapp contada em Música no Coração (1965)? Enfim, dando um salto no tempo, como compreender a evolução técnica do cinema sem ter em conta o impacto de Titanic (1997) e Avatar (2009), de James Cameron? Pois bem, a pergunta de algibeira será: como é que estes títulos se ligam entre si?.A resposta é simples: são produções com chancela da 20th Century Fox, por certo um dos emblemas mais fortes da história de Hollywood. Desde a sua fundação, em 1935 (resultante da fusão de dois estúdios: Fox e 20th Century), tornou-se um símbolo universal do cinema das majors, quer dizer, os seis grandes estúdios sediados na Califórnia - os outros cinco são Paramount, Warner, Universal, Columbia e Disney..Mas será que vai continuar a sê-lo? Depois de 27 de julho, a pergunta justifica-se. Foi nesse dia, através de um negócio consolidado no New York Hilton, que os estúdios Disney adquiriram a Fox por nada mais nada menos que 71,3 mil milhões de dólares (contas redondas: 62 mil milhões de euros). É caso para perguntar: como vai ser a nova existência de Marilyn Monroe na casa onde nasceram o Rato Mickey e o Rei Leão?.Uma coisa é certa: a Disney vai consolidar a sua posição como o maior conglomerado mundial na área do entertainment. Aliás, no século XXI, a Walt Disney Company tem mostrado especial apetência pela aquisição de entidades suscetíveis de alargar o seu poder de produção e difusão. Hoje, o império Disney integra a Pixar, o revolucionário estúdio de animação digital (adquirido em 2006), a Marvel Entertainment, origem de alguns dos mais rentáveis "super-heróis" (desde 2009), e a Lucasfilm, que serviu a George Lucas para produzir os primeiros seis episódios da saga Star Wars(transação fechada em 2012)..No plano financeiro, os responsáveis máximos pelo negócio - Rupert Murdoch (Fox) e Bob Iger (Disney) - já fizeram saber que estão muito otimistas, prometendo ainda maiores lucros aos acionistas. Por razões legais, a Disney terá de alienar algumas das empresas do conglomerado Fox (22 canais televisivos regionais dedicados ao desporto), mas a fusão deverá ficar consolidada ao longo do primeiro semestre de 2019..Nem que seja por nostalgia cinéfila, convenhamos que o futuro do imenso património da Fox se apresenta algo desconcertante. Além da maior parte dos filmes de Marilyn, podemos supor que iremos ver muitos nomes da idade de ouro de Hollywood e, em particular, dos filmes da Fox - Shirley Temple, Gene Tierney, Henry Fonda, Betty Grable, Tyrone Power, etc. - em genéricos precedidos pelo logótipo da Disney. Isto sem esquecer que, nesse período, foi dos estúdios da Fox que saíram títulos tão populares como As Vinhas da Ira (John Ford, 1940), A Luz É para Todos (Elia Kazan, 1947) ou Eva (Joseph L. Mankiewicz), este, curiosamente, um dos primeiros da filmografia de Marilyn, ainda numa personagem secundária..A Fox tem-se distinguido também pela capacidade de adaptação a novas tendências do mercado. Em anos recentes, o caso da animação digital será o mais revelador: desde 1997, através dos Blue Sky Studios, a Fox impôs-se como protagonista nesse domínio, através da série de filmes A Idade do Gelo (cinco longas-metragens produzidas entre 2002 e 2016)..Foi também a Fox que lançou o formato largo CinemaScope - em 1953, com o filme A Túnica -, oferecendo uma grandeza de imagem suscetível de recuperar os espectadores que, cada vez mais, ficavam em casa a ver... televisão. Tal formato abriu caminho às superproduções da década de 1960: uma das mais lendárias, Cleópatra (Joseph L. Mankiewicz, 1963), com o par Elizabeth Taylor-Richard Burton, tem o selo da Fox. Ironicamente, tão grandioso património possui, agora, um valor acrescido para os circuitos caseiros de televisão e streaming. E escusado será dizer que os herdeiros do Rato Mickey sabem o que estão a fazer.