Manuela Ferreira Leite disse, na TSF, que o PSD não é de direita e que preferia que o seu partido tivesse menos votos a enveredar por esse caminho. Luís Montenegro fez-se de muito zangado e acusou a ex-líder social-democrata de querer um partido pequenino..Aproveitar um comentário de alguém que não tem qualquer cargo no PSD como derradeira razão para tentar substituir um líder que foi eleito há apenas um ano é, digamos assim, estranho. Mas, claro está, Montenegro apenas utilizou as palavras da antiga ministra das Finanças como pretexto para avançar com uma espécie de desafio que ele deseja que venha a ser uma candidatura..O problema é que Manuela Ferreira Leite tem razão tanto na questão substancial como na estratégica..Primeiro, o PSD não é hoje um partido de direita - nunca foi aliás, fez essa aproximação durante o mandato do inominável Barroso e foi-o durante o passismo tardio. Rui Rio já deixou isso perfeitamente claro por mais de uma vez. Não o sendo, não se percebe o que de diferente podia dizer Ferreira Leite. Das duas, uma: ou Montenegro discorda e acha que o PSD se deve afirmar como de direita ou acha que um partido pode dizer o que lhe apetece desde que capte eleitores. Ou seja, como o ex-líder da bancada parlamentar de Passos Coelho não disse que queria um PSD declaradamente de direita, presumo que acha que vale tudo para angariar votos, até dizer que é aquilo que não é..Mas se Montenegro, que me recorde, nunca assumiu essa deriva direitista, não faltam atuais deputados do PSD que já a assumiram. A pergunta é: que diabo fazem eles no partido? Aliás, é de um descaramento sem nome a presença de deputados do partido na convenção do MEL, melhor dizendo, na convenção "vamos dar cabo do PSD e fazer uma coisa da direita Observador". Há mesmo um deputado e ativista do MEL, Miguel Morgado, que, sem se rir, afirmou que poderia ser candidato a líder do PSD. Utilizar um partido para ter notoriedade para o destruir é, sejamos brandos, feio..Em segundo lugar, Ferreira Leite tem razão na parte estratégica. Um encosto à direita, isso sim, condenaria o PSD ao nanismo. Logo à partida porque já não seria o PSD. Mas mesmo se continuasse com esse nome e se passasse a ser assumidamente de direita nunca mais voltaria a ser poder em Portugal..A realidade é o que é e não o que gostaríamos que fosse: as eleições em Portugal ganham-se ao centro porque a grande maioria do eleitorado é de centro. E o PSD foi historicamente o primeiro partido a perceber isso..O PSD está com maus resultados nas sondagens não porque não se encostou à direita, mas porque o PS, via Mário Centeno, ocupou o centro. Alguém com o mínimo de honestidade intelectual é capaz de dizer que os socialistas governaram com a agenda dos bloquistas e dos comunistas? Claro que não. Deram-lhes umas migalhas, enquanto praticavam a austeridade, o rigor orçamental e a contenção. Mais, onde estão esses votantes à direita que é suposto captar para aumentar os resultados do PSD? Até posso admitir que a deriva direitista poderia dar, neste momento, mais dois ou três pontos percentuais ao PSD, mas transformá-lo-ia num partido sem acesso ao poder por muitos anos, se não mesmo irrelevante..Aliás, as pessoas que agora arrancam os cabelos com as sondagens que dão um mau resultado ao PSD são exatamente as mesmas que tiraram o partido do governo e conduziram a uma derrota estrondosa do partido nas autárquicas. Uma derrota que pôs em causa o património do PSD como maior partido autárquico e que foi o maior revés de sempre para um partido que depende das autarquias para preservar a sua base eleitoral. Alguém se esqueceu dos 10% para a Câmara do Porto? Ou dos 11% para a de Lisboa? Mas não só. Foram eles que secaram completamente o partido de quadros, que afastaram a sociedade civil do PSD, que fizeram que seja quase impossível arranjar bons candidatos para as principais autarquias..Dentro do atual cenário político externo e dado o estado em que deixaram o partido, é quase falta de vergonha haver gente do passado a dizer que o PSD deveria estar a liderar as sondagens. Pior, tenho como certo que todos os putativos candidatos a líder sabem que não teriam melhores resultados..Rui Rio cometeu um erro grave no começo do seu mandato: deixou que as pessoas que querem destruir o PSD ou que querem transformá-lo naquilo que nunca foi continuassem a sua campanha utilizando o próprio partido. Sobretudo, não foi absolutamente claro na rejeição da herança passista..Sendo verdade que tem sido alvo de uma feroz campanha por parte de alguns órgãos de comunicação social e de uma campanha interna contra ele que até num partido como o PSD não tem paralelo, cometeu muitos erros e alguns graves. Mas o caminho que Rio escolheu, de recentrar o partido e recuperar o seu património histórico, é o único que pode assegurar o regresso ao poder (provavelmente não nas próximas eleições) e a um ressuscitar autárquico. Se é que depois desta loucura de se querer destituir um líder a cinco meses de umas eleições e a nove de outras ainda haverá PSD..Vou comprar um colchão.Sei bem que já não tenho privacidade. Que me leem o correio eletrónico, as mensagens, que sabem onde e como gasto dinheiro, que conhecem os meus gostos e segredos. Eu bem resisto mas o Grande Irmão até se ri. Tudo foi feito com as melhores intenções, é sempre. Era para me proteger, era só para vigiar a malandragem. Eu não tinha nada que recear, sendo eu tão bom rapaz e, claro, quem não tem deve não teme, não é? Agora, se eu tiver mais de 50 000 euros, o banco vai ter de dizer ao fisco. Porquê? Roubei alguém? Basta eu ter esse dinheiro para ser suspeito de alguma coisa? Mas que razões pode ter o fisco para andar a espiolhar a minha vida? Ah, espera, pronto, é a tal proteção. Eu sou bom rapaz, mas por via das dúvidas... Vou comprar um colchão para guardar o dinheiro. Mas não vai servir-me de nada, já deve faltar muito pouco para ter uma câmara de filmar no quarto ligada ao fisco..Trotinetes.Tudo o que se faça para diminuir o número de carros em circulação nas grandes cidades, e não só, é bem-vindo. A Câmara Municipal de Lisboa tem feito um bom trabalho nesse sentido. As ciclovias, a disponibilização de bicicletas, a limitação de circulação em certas zonas de certos tipos de veículos e, claro, o novo passe para Lisboa e zonas limítrofes a um preço reduzido e outras tantas são todas excelentes medidas. Em tese, as trotinetes motorizadas que agora vemos por todo o lado seriam outro bom passo. Simplesmente, os riscos para a segurança das pessoas parecem evidentes. Ver uma pessoa em cima de uma tábua a rodopiar na via pública, no meio do trânsito, sem qualquer tipo de proteção, nem sequer capacete, é de arrepiar. Por muito que me custe - porque a solução é interessante, barata e é uma boa alternativa de transporte -, as consequências da utilização destes veículos vão trazer muitos problemas.