Manifesto O Abraço contra luta fratricida entre Errejón e Iglesias
De um lado estão os errejonistas, que apoiam o moderado secretário político do Podemos, Íñigo Errejón. Do outro os pablistas, fiéis ao mais radical fundador e líder do partido, Pablo Iglesias. Pelo meio, estão as "vítimas" desta guerra fratricida: a última é José Manuel López, errejonista que acaba de ser afastado do cargo de porta-voz do partido na Assembleia da Comunidade de Madrid, sendo substituído pela sua número dois, Lorena Ruiz-Huerta, ligada ao setor anticapitalista mais próximo de Iglesias. Fartos desta luta interna estão cerca de uma centena de militantes, que já assinaram o manifesto O Abraço, que pede "um partido de acordos e não de fações" no congresso de fevereiro.
"Não é o momento de entrar em combate e que uns ganhem e outros percam", diz o texto escrito ainda antes dos últimos episódios da guerra Errejón-Iglesias. "Se uns ganham e outros perdem e não se abre a possibilidade do acordo constituinte, o Podemos viverá, como aconteceu até agora, em permanente crise interna, num ambiente competitivo devastador para a ilusão que as boas gentes deste país precisam para intervir na História", lê-se no documento.
A Assembleia Nacional Cidadã do Podemos realiza-se de 10 a 12 de fevereiro no Palácio de Vistalegre, um pavilhão multiusos em Madrid. O congresso é conhecido como Vistalegre II e há menos de uma semana, numa consulta interna, a proposta de Iglesias sobre as regras de votação venceu a de Errejón pela margem mínima. Este falou então de "dois projetos complementares que têm que se entender".
Mas depois José Manuel López foi afastado do cargo em Madrid e os errejonistas lançaram-se num coro de críticas. Em resposta, os pablistas começaram uma campanha no Twitter contra Errejón, com a hashtag #ÍñigoAsíNo (Íñigo assim não), que por sua vez põe em causa o secretário de organização e número três, Pablo Echenique.
Figura de consenso no meio desta guerra fratricida, ligado ao setor anticapitalista, participou nessa campanha contra Errejón e teve de se justificar. "Quando uma família/corrente começa a pôr os seus (legítimos) interesses à frente da legitimidade dos processos democráticos e das decisões das direções eleitas pelas pessoas, tenho obrigação de o dizer", escreveu no Facebook, referindo que o seu "primeiro dever" no Podemos é "proteger o projeto".
De um e de outro lado, choveram as críticas sobre quem é que afinal está a dividir o partido. "Podemos não será Podemos sem Íñigo Errejón, mas a força de Íñigo não se pode construir debilitando ou prejudicando Pablo", disse a chefe de gabinete de Iglesias, Irene Montero. Já a porta-voz da Câmara de Madrid, Rita Maestre, fala num "erro grave" por parte da equipa do secretário-geral, lembrando que sem Errejón "o Podemos não estaria onde está agora, não teria nascido o Podemos, não teríamos conseguido cinco milhões de votos".