Malcolm: O gato extravagante do casal Sinatra
No Verão de 1966, a América mais puritana chocou-se com o casamento de Frank Sinatra, 50 anos, com a jovem atriz Mia Farrow, de 21. Para a nova relação cada um levava o que tinha: ele, uma fortuna colossal e um passado cheio de paixões e casos com mulheres como Ava Gardner, Kim Novak ou Lauren Bacall; ela levava um gato persa branco chamado Malcolm, um penteado muito curtinho à Jean Seberg e muita inocência. Ambos, gato e tutora, aterraram no meio da vida louca do Rat Pack (grupo constituído por Sinatra e seus amigos de sempre, Dean Martin e Sammy Davis Jr) e adaptaram-se como puderam, entre noitadas sem fim e milhares de garrafas vazias.
Não consta que Malcolm alguma vez tenha dado caça a uma destas "ratazanas", mas, como os humanos com quem convivia, dava-se a alguns luxos como a comida de bebé em boião a que Mia Farrow o habituara em detrimento da dieta adequada aos da sua espécie ou as viagens no jato privado da família Sinatra. Para espanto do cantor, Mia levava Malcolm para todo o lado, tocada pela fragilidade do animal, surdo de nascença. Em sua defesa, a atriz dizia saber muito bem até que ponto a doença ou a deficiência podiam isolar um ser vivo.
Nascida em Los Angeles em 1945, Maria de Lourdes Farrow(Mia) conhecia Hollywood e o seu particular modo de vida como a si mesma: era filha do realizador e argumentista John Farrow e da atriz irlandesa Maureen O"Sullivan, popularizada nos anos 30 como Jane, a beldade que "roubava" Tarzan a Cheetah e aos demais habitantes da selva.
Mas este mundo dourado desfez-se em fumo quando, aos 9 anos, Mia contraiu poliomielite, uma doença que, nessa época, ainda matava ou incapacitava para toda a vida. Isolada durante meses num quarto de hospital, perceberia depois, no regresso a casa, que todos os seus bens - brinquedos, roupas, livros - tinham sido queimados, tal fora o pânico de que a doença contaminasse os seus seis irmãos. Esta experiência, a que se somaria, na adolescência a morte súbita e prematura do pai, torná-la-iam para sempre uma mulher desperta para a necessidade de proteger os mais fracos, fossem eles animais ou crianças em perigo.
O doce Malcolm tinha, pois, tudo para conquistar a atriz. Mas a sua capacidade de sedução era tal que acabou por arrebatar o coração de Sinatra, tido por um dos homens mais duros de Hollywood. A convivência, porém, não duraria muito já que menos de dois anos depois badalado casamento, Mia pediu o divórcio, sentindo que o marido a impedia de prosseguir livremente a sua carreira e se opunha à sua participação no filme de um realizador novato com fama de mulherengo, Roman Polanski. Malcolm, ao contrário de Mia, não entrou em Rosemary"s Baby, mas continuou a sua vida dourada de gato em Hollywood.