Falando curto e grosso: o triunfo de João Sousa no Estoril Open 2018 "foi brutal" e não há palavras para quantificar, para já, o impacto da conquista do vimaranense. No entanto, há números que já ajudam a perceber o efeito positivo da vitória do melhor português de sempre. "Crescemos em tudo no ano passado e aumentámos de forma brutal o valor mediático em Portugal, de 22 para 37 milhões de euros", revelou ao DN João Zilhão, o diretor do torneio, que neste ano se joga entre 27 de abril e 5 de maio, no Clube de Ténis do Estoril..Para Zilhão, a vitória do vimaranense "foi um momento inolvidável do desporto nacional", algo que "supera a esfera do ténis" e cujo impacto "já se vê neste ano". A começar pelos bilhetes vendidos: "A procura tem sido muito superior à do ano passado, as pessoas anteciparam-se na compra dos bilhetes e o dia em que o João deve entrar em ação já esgotou. Em 2018 tivemos três sessões esgotadas e neste ano já há oito (de 12) sem ingressos à venda.".Ainda segundo o diretor da prova português, em termos financeiros "o torneio valorizou-se em mais de quatro milhões de euros em 2018", e "o impacto do open em Portugal foi de 32,9 milhões de euros". Isto "muito graças" a João Sousa e à cobertura editorial que foi dada ao evento. Foram 759 horas de transmissão do Estoril Open e 597 240 páginas visualizadas, o que perfaz 186 milhões de euros em gross sponsorship (mais 43% do que em 2017). A projeção do torneio sentiu-se também nos resultados e nos valores para os sponsors. As imagens do evento passaram em 127 países e foram vistas por 65 milhões de espectadores, gerando 277 milhões de sponsorização..Em maio do ano passado, João Sousa passou finalmente o cabo das Tormentas que era o Estoril Open e conquistou o open português, numa final épica frente a Frances Tiafoe (duplo 6-4). Sousa superou-se a cada jogo e a cada adversário (Medvedev, Pedro Sousa, Kyle Edmund, Tsitsipas e Tiafoe) até ao triunfo final. E João Zilhão não esconde a felicidade que foi vê-lo vencer: "Pensei que estava a sonhar, que não era real. Às vezes ainda me belisco quando vejo esse momento.".O triunfo do português foi também "um grande, grande alívio" para a organização. "Era uma situação que causava um certo amargo de boca desde 2015, depois de três anos a ver o João cair na primeira ronda. Nunca deixámos de o apoiar, mas sentíamo-nos já algo constrangidos perante as marcas e os parceiros. Se ele não tivesse passado a primeira ronda no ano passado iam dizer-nos "esqueçam o João Sousa, ele não consegue ganhar em casa", e as más-línguas iam novamente deitá-lo abaixo. Graças a Deus e a ele não só passou a primeira ronda como venceu. Foi muito bom para o torneio, para o ténis e para o desporto em Portugal. Nesse dia o ténis superou o futebol nas capas dos jornais. O João pôs o ténis no mapa.".Semear para colher novos Sousas.A importância da vitória também se pode medir pelo nível de patriotismo que a final teve, com a presença do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa nas bancadas e no balneário. "Esse foi o momento em que o ténis passou uma mensagem importante, o momento em que deixou de ser de vez um desporto elitista para ser do povo. O João e o presidente levaram o ténis até às pessoas", garante Rui Machado..Para o ex-jogador e atual capitão da seleção e coordenador técnico nacional, a vitória de Sousa era uma questão de tempo. "Temos assistido a um quebrar de barreiras por parte do João. Foi o primeiro jogador português a ser top 50, o primeiro a ganhar um torneio ATP e o primeiro a vencer o Estoril Open, que é o sonho de qualquer tenista nacional e organizador. Isso tem um impacto no alto rendimento direto e indireto, pois é mais uma razão para os atletas portugueses acreditarem que é possível chegar lá e vencer", enalteceu Rui Machado, que eliminou Sousa em 2015 na primeira ronda..O ex-jogador recorda que no seu tempo "as pessoas estavam saudosas" daquela geração de Nuno Marques e Cunha Silva e "não tinham grandes esperanças" nos atletas nacionais: "Nessa altura, um português passar a primeira ronda do torneio era um feito enorme. Depois começámos a passar a primeira e a segunda ronda, depois uma final do Frederico Gil [2010] e agora esta vitória do João." Hoje os adeptos já vão ao Estoril Open ver as pérolas nacionais: "Criou-se um hábito e um interesse em ver tenistas portugueses e isso não é um feito só do João, mas de toda uma geração e dos duelos épicos que eles têm tido na prova, mas um título é sempre um título e só o João conseguiu aquele que é o momento mais alto do ténis português.".Rui Machado não tem dúvidas de que "o triunfo do João no ano passado vai potenciar o trabalho que a federação de ténis faz na divulgação da modalidade e captação de novos talentos", embora ressalve que "não é um resultado por si, sem base ou estrutura, que vá fazer milagres pelo ténis", a terceira modalidade mais mediática do mundo, depois do futebol e da Fórmula 1..Em Portugal, o ténis tem crescido e já vai nos 200 mil praticantes. Mas, na opinião de Vasco Costa, presidente da Federação Portuguesa de Ténis (FPT), "não é possível ou sequer justo" para o João colocar-lhe essa responsabilidade: "O fenómeno João Sousa e a vitória no Estoril Open podem fazer mais pelo ténis do que qualquer ação de promoção que a federação possa fazer e isso é o maior elogio e reconhecimento que se lhe pode fazer.".No entanto, no entender do líder federativo, "é difícil de quantificar" a imagem de ver um tenista português a levantar um troféu ATP 250 em Portugal. "Uma imagem vale mais do que mil palavras e hoje os jovens tenistas querem ser como o João Sousa, já acreditam que é possível, ele mostrou-lhes isso no ano passado. Quando há um ídolo nacional, o desenvolvimento da modalidade é completamente diferente. Por isso, os frutos do que ele semeou no ano passado vão aparecer no futuro e quem sabe render mais Sousas", referiu Vasco Costa..O court onde no dia 6 de maio de 2018 o português levantou o troféu depois de enrolar a bandeira nacional à cintura é do Clube de Ténis do Estoril (CTE), que cede o espaço para a organização do evento da ATP (apoiado pela Federação e a Câmara de Cascais). "A nossa escola tem cerca de 350 miúdos e vemos refletida neles a vontade de ser como o João. Os miúdos falam em ser como o João quando antes só falavam em ser como o Federer, Nadal ou o Djokovic", confessou ao DN o presidente do CTE, que no início do mês presidiu à cerimónia que tornou o vimaranense sócio honorário do clube..Para Luís Campos Guerra, depois de um triunfo daqueles, "há todo um movimento que se gera", pois "é impossível ter um campeão português no ATP sem que isso tenha um reflexo imediato no ténis". Depois dessa vitória "impactante", "qualquer um quer bater umas bolas, quanto mais um miúdo ou atleta que quer fazer vida disso". Por isso ele espera que o CTE possa aproveitar esse balanço, pois "é dos muitos que saem os excelentes e, quantos mais praticantes houver, mais hipóteses há de aparecer um novo João Sousa".