Mãe de Bin Laden: "Nunca admitiu o que fazia porque me amava muito"
"Ele era um rapaz muito bom até ter conhecido algumas pessoas que lhe fizeram uma lavagem cerebral quando tinha vinte e poucos anos. Pode-se dizer que era um culto. Conseguiram dinheiro para a causa deles. Eu dizia-lhe para ficar longe dessa gente, e ele nunca admitiu o que fazia porque me amava muito." Foi assim que Alia Ghanem quebrou o silêncio sobre o seu filho, Osama Bin Laden, em entrevista ao The Guardian.
Ladeada dos filhos Ahmad e Hassan, Alia conta que o filho mais velho foi radicalizado na Universidade de Jidá, quando estudava economia. Ali conheceu Abdullah Azzam, palestiniano membro da Irmandade Muçulmana, e que se tornou no seu guia espiritual.
"Tornou-se num homem diferente", reconhece Alia, fotografada com uma moldura de Osama ao lado.
Osama segue o homem que advoga a jihad contra a ocupação da URSS no Afeganistão. E nesse período torna-se num herói para a família e para os sauditas.
A mãe diz que nunca pensou que o filho se transformasse num mujahidin. "Nós ficámos extremamente preocupados. Eu não queria que nada disso acontecesse", disse a mãe, que cresceu no seio de uma família alauita, em Latáquia, na Síria.
"No início tínhamos muito orgulho dele. Até o governo saudita tratava-o de uma forma muito nobre e respeitosa", diz o meio-irmão Hassan, numa entrevista que o jornalista Martin Chulov negociou durante meses, quer com a família Bin Laden, quer com a casa de Saud.
Hassan não consegue esconder sentimentos contraditórios. Afirma ter orgulho no irmão mais velho, que o "ensinou muito", mas não tem muito orgulho de Osama enquanto homem. "Atingiu o estrelato no palco mundial e tudo para coisa nenhuma", disse.
Quando a mãe sai da sala, conta Chulov, os filhos continuam a conversa e relevam que uma mãe nunca consegue ser objetiva em relação aos filhos.
"Passaram-se 17 anos [do 11 de Setembro] e mantém-se em negação sobre Osama. Ela ama-o tanto que recusa responsabilizá-lo. Ao invés culpa os que o rodeavam. Ela só conhece o lado do bom rapaz, o lado que todos conhecemos", diz por sua vez Ahmad.
A família Bin Laden, uma das mais ricas da Arábia Saudita, sofreu algumas consequências pelo facto de Osama ter sido o cérebro dos ataques do 11 de Setembro. Espalhada por vários países da Europa e do Médio Oriente, teve de se reagrupar em Jidá e aí ficou confinada durante anos.
Várias famílias das vítimas dos ataques de 2001 instauraram ações em tribunal contra o reino saudita, mas sem consequências até hoje.
O filho de Osama bin Laden, Hamza, de 29 anos, foi declarado "terrorista global" pelos EUA.
Que pensam os tios dele? "Nós pensávamos ter ultrapassado tudo isto", diz Ahmad. "Se Hamza estivesse na minha frente agora eu diria: 'Deus te guie. Pensa duas vezes sobre o que estás a fazer. Não sigas os passos do teu pai. Estás a entrar em partes horríveis da tua alma'", disse sobre o homem que se presume estar no Afeganistão.