De protesto em protesto até à derrocada do regime parece ser a estratégia da oposição venezuelana, agora encabeçada pelo autoproclamado Juan Guaidó. Durante a manifestação pacífica que decorreu entre as 12.00 e as 14.00 locais, Guaidó convocou para sábado mais uma jornada de luta nas ruas para que o presidente Nicolás Maduro renuncie e se convoquem eleições livres.."Fazemos demonstração de força e organização! Em cada manifestação cidadã aproximamo-nos da nossa merecida liberdade e da ajuda humanitária urgente. Avancemos em paz com o nosso protesto e preparamo-nos para sábado em toda a Venezuela e no mundo", escreveu..O presidente da Assembleia Nacional juntou-se à manifestação nas imediações do Hospital Universitário de Caracas. Horas antes, o Supremo Tribunal proibira a sua saída para o estrangeiro e o congelamento dos seus bens. "Não recebi ordem alguma, foi uma declaração de quem usurpa funções na Procuradoria e daqueles que ocupam espaço no Supremo Tribunal", reagiu Guaidó..Por sua vez, o emissário dos EUA na Venezuela, Elliott Abrams, disse que qualquer medida retaliatória do regime contra Guaidó será "uma ação extremamente tonta"..O dia ficou também marcado pela conversa de Donald Trump e Guaidó, com o primeiro a dar os parabéns "pela histórica posse da presidência e para reforçar o forte apoio dos EUA à luta da Venezuela para recuperar a sua democracia"..Ordem de liquidação.O presidente venezuelano declarou estar pronto a realizar eleições legislativas, mas nada de presidenciais, porque as últimas realizaram-se há dez meses. "Eu venci legitimamente, nós realizámos eleições através de um sistema eletrónico transparente, com observação internacional. Nós não aceitamos o ultimato de ninguém no mundo, não aceitamos chantagem. As eleições presidenciais na Venezuela ocorreram e, se os imperialistas querem novas eleições, esperem por 2025", disse Maduro em entrevista à agência de notícias russa Ria Novosti.."Donald Trump deu ordens para me matar, disse ao governo colombiano, à máfia colombiana para me matar", afirmou na mesma entrevista. Ainda assim, mostrou-se aberto a encontrar-se com o homólogo dos EUA. "Estou pronto para falar pessoalmente com Donald Trump, em público, nos EUA, na Venezuela, onde queira, com qualquer agenda, sobre qualquer assunto que queira falar (...) agora parece-me extremamente difícil", disse, tendo explicado que foi o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, a proibir o diálogo..Venezuela Bela.No terreno, Maduro respondeu à crescente pressão de todos os lados com a apresentação do programa Venezuela Bela - ao mesmo tempo que Juan Guaidó falava aos jornalistas. O programa consiste na transformação de 572 espaços públicos em 62 cidades do país. A requalificação passa por novos pavimentos, iluminação pública e recolha de lixo, num projeto que os documentos oficiais dizem custar mil milhões de euros "para o início da primeira fase".."Para um país onde se viva bem (...) em comunidades socialistas", disse Maduro, que reconheceu "o abandono e esquecimento de anos" dos espaços públicos..O sucessor de Hugo Chávez foi também falar aos militares, tendo apelado à unidade e a uma "grande revolução militar da moral" em resposta à promessa de amnistia de Guaidó aos militares que passarem para o seu lado. "Querem no governo da Venezuela uma marioneta dos gringos?", perguntou Maduro aos soldados..Nas redes sociais, o líder bolivariano pediu o apoio do povo norte-americano contra a "interferência da administração de Donald Trump, a qual pretende transformar o meu país numa 'guerra do Vietname' na América Latina. Não o permitam!", escreveu..Os Estados Unidos reforçaram a pressão a Caracas. O vice-presidente Mike Pence recebeu uma delegação diplomática encabeçada pelo encarregado de negócios venezuelano em Washington, Carlos Vecchio. E o conselheiro de Segurança Nacional de Trump, John Bolton, aconselhou os empresários a não fazerem negócios com a Venezuela em ouro, petróleo ou outras matérias-primas "roubadas pela máfia de Maduro"..Mas não são só os norte-americanos que estão com Guaidó. O Parlamento Europeu vota nesta quinta-feira uma resolução em que reconhece o jovem presidente da Assembleia Nacional como presidente interino e insta os Estados membros a seguir o exemplo. A resolução conta com o apoio das duas maiores bancadas, PPE e S&D, pelo que deve ser aprovada..Os chefes da diplomacia europeia reúnem-se nesta quinta-feira para discutir os próximos passos a dar. No domingo termina o prazo para Nicolás Maduro convocar eleições, segundo o ultimato de Espanha, França, Reino Unido, Holanda e Portugal..Portugal admite envio de militares.O governo português, através do ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, admitiu a possibilidade de envio de militares para o país da América do Sul. "Atualmente, isso não está em cima da mesa. Naturalmente que, se a situação o justificar, teremos de ter planos para tal", referiu o governante, ao falar aos jornalistas em Bucareste, à margem de uma reunião informal dos ministros da Defesa da União Europeia..A matéria "tem sido discutida de forma hipotética" com França, Espanha e Itália, informou, mas esclareceu que não existe "nenhum planeamento concreto". "Naturalmente, se se justificasse estaríamos em contacto com esses países para trabalhar em conjunto", concluiu.