Um presidente reforçado mas sem carta-branca.??As sondagens chegaram a dar-lhe mais de 400 deputados, os resultados finais mostram que o La République en Marche!, de Emmanuel Macron, e os aliados do MoDem obtiveram 350 lugares na segunda volta das legislativas francesas. Um triunfo para o presidente que a abstenção recorde (57%) mitiga um pouco, mostrando que depois da vitória em maio os franceses não quiseram dar carta-branca total ao inquilino do Eliseu. Passada a euforia, agora começa o trabalho. Macron inaugurou ontem o Salão Aeronáutico de Le Bourget, num dia marcado por uma tentativa de atentado em Paris - a segunda desde a posse de Macron em maio. Um homem lançou o carro contra uma carrinha da Gendarmerie, nos Campos Elísios. Não fez feridos, mas o veículo, no qual escondera armas e explosivos, incendiou-se. O homem morreu. O terrorismo - que desde janeiro de 2015 fez 239 mortos em França - é um dos desafios para o novo presidente, que esta semana deve fazer uma remodelação "técnica" do governo. Com larga maioria no Parlamento - mesmo se constituída por muitos deputados sem experiência -, o presidente terá de aplicar uma agenda que quer um mercado de trabalho mais livre, sem deixar de proteger os mais vulneráveis, ou que quer reduzir o papel do Estado mas sem quebrar o contrato social. "Nem de esquerda nem de direita", vamos ver para que lado pende Macron na hora de decidir..Frente Nacional contraria sistema e elege 8 deputados Não chegaram aos 15 necessários para criar um grupo parlamentar, mas com oito deputados a Frente Nacional de Marine Le Pen provou que o sistema francês já não chega para a travar de chegar ao Parlamento. A única vez em que elegeu mais deputados - 35 - foi em 1986, quando François Mitterrand decidiu mudar para o sistema proporcional a uma só volta. No ano seguinte, o presidente voltou a instituir o escrutínio uninominal em duas voltas. Desde então, e apesar da subida na percentagem de votos, a FN não elegia mais do que um ou dois deputados. Desta vez, além da própria líder, Marine Le Pen, e do companheiro, Louis Aliot - que trocam o Parlamento Europeu pelo Palácio Bourbon -, o partido de extrema-direita elegeu mais seis deputados. Um resultado que Marine Le Pen considerou "insuficiente", culpando o "modo de escrutínio"..Uma Assembleia cada vez mais no feminino.Marine Le Pen será uma das 224 (num total de 577 lugares) mulheres eleitas para a Assembleia Nacional - um recorde que representa quase 40% dos eleitos. Na última legislatura eram apenas 155. O République en Marche! lidera com 47% de mulheres entre os seus eleitos - com a paridade a ser uma das promessa de Macron. O Observatório das Desigualdade estima que, a manter-se este ritmo, as mulheres ocuparão metade dos lugares na Assembleia "dentro de uma quinzena de anos"..A vingança de Mélenchon depois das presidenciais.Quarto na primeira volta das presidenciais, mas com perto de 20% dos voto , Jean-Luc Mélenchon foi um dos mais inconformados com o resultado do escrutínio. Agora, o líder da França Insubmissa teve a sua vingança, ao ser eleito deputado por Marselha. Batido por Marine Le Pen em Hénin-Beaumont na primeira volta das legislativas de 2012, Mélenchon apresenta-se como o líder da oposição de esquerda a Macron, tendo a França Insubmissa eleito 17 deputados, suficientes para constituir um grupo parlamentar próprio. No discurso de vitória, Mélenchon denunciou a abstenção e diagnosticou que o povo francês entrou "numa forma de greve geral cívica".."Derrota sem apelo" do PS mas menos catastrófica.Há cinco anos, os socialistas conquistavam o Eliseu e dominavam o Parlamento. Agora, o próprio líder do partido, Jean-Christophe Cambadélis, admite que depois de o seu candidato presidencial ter tido pouco mais de 6% dos votos nas presidenciais, e de terem eleito apenas 29 deputados - aos quais se juntam 12 eleitos da esquerda - nas legislativas, o PS sofreu uma "derrota sem apelo". É verdade que as sondagens apresentavam um cenário ainda pior e que alguns socialistas temiam não chegar aos 15 deputados necessários para formar um grupo parlamentar. Na verdade, só um punhado de socialistas se salvou, entre eles o ex-primeiro-ministro Manuel Valls, reeleito em Évry, com mais 139 votos do que a rival da França Insubmissa. Farida Amrani já prometeu contestar os resultados em tribunal. Mas muitos caíram, como o próprio Cambadélis, eliminado à primeira volta, ou as ex-ministras Najat Vallaud-Belkacem e Myriam El Khomri. "A esquerda tem de mudar tudo [...] É preciso iniciar um novo ciclo", explicou Cambadélis..Os Republicanos salva a face mas saem divididos.Com 137 deputados (juntando os 18 da UDI e outros eleitos de direita), Os Republicanos são o maior grupo da oposição no Parlamento francês. Mas os conflitos internos prometem continuar a minar um partido que se divide entre os que defendem o apoio ao governo de Edouard Philippe (ex-Os Republicanos) e a linha dura, que recusa misturar-se com a maioria do governo.