Macron começa com protestos e recados de Bruxelas

Movimento En Marche! já tem candidatos para legislativas. Metade são mulheres e todos têm de ter registo criminal limpo
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"Não vou ter estado de graça", afirmou Emmanuel Macron na sexta-feira. Ontem, no seu primeiro dia como presidente eleito, depois de vencer as eleições com 66,10% dos votos, a previsão confirma-se. Protestos nas ruas e muitos recados dos desafios que o esperam. Pelo meio, o seu movimento En Marche! transformou-se em La Republique en Marche! a pensar nas legislativas de 11 e 18 junho.

O alívio europeu face à vitória de Macron deu rapidamente lugar a alguma pressão, vinda principalmente de Bruxelas. "Com a França, temos um problema específico... Os franceses gastam muito dinheiro e gastam demasiado nas coisas erradas. Isto vai deixar de funcionar com o tempo", declarou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

Angela Merkel, que receberá Macron em Berlim naquela que será a primeira visita ao estrangeiro enquanto presidente, foi mais branda, mas não deixou de deixar clara a sua posição. "Ele fez uma corajosa campanha pró-europeia, defende a abertura ao mundo e está comprometido de forma decisiva com uma economia social de mercado", declarou a chanceler alemã.

Mas, ao mesmo tempo que prometeu ajudar a França a combater a sua taxa de desemprego, Merkel rejeitou a sugestão de que a Alemanha poderia fazer mais para apoiar a economia europeia, aumentando a importação de bens de países do bloco.

Em Paris, o ambiente também não era dos mais amigáveis para Macron. Pelo menos mil pessoas manifestaram-se ontem no centro da capital francesa contra as políticas liberais do presidente eleito, advertindo que "não se toca" nas conquistas sociais. Os manifestantes contestam fundamentalmente a reforma da lei do trabalho proposta por Macron, que inclui medidas como a limitação das indemnizações por despedimento.

Jornalistas no local presenciaram momentos de tensão entre manifestantes e a polícia no final da marcha, mas as autoridades não divulgaram até ao fecho desta edição se houve detenções no protesto. Mais tenso foi um protesto anticapitalista realizado no domingo à noite, que terminou com 141 pessoas detidas.

Ontem foi também tempo para o primeiro ato oficial de Macron como presidente eleito, ao lado de François Hollande, nas cerimónias do 8 de maio, no Arco do Triunfo. O presidente cessante afirmou que não se sentiu "traído" por Macron, por este ter saído do governo para fundar o seu movimento. "Na verdade, ele seguiu-me durante muitos anos, mas depois emancipou-se, quis propor um projeto aos franceses. Cabe-lhe agora continuar o seu caminho, com a experiência que ganhou comigo. Dirijo-lhe os meus melhores votos para o sucesso".

O sucesso de Emmanuel Macron vai depender em grande parte do resultado das legislativas e como ficará composta a Assembleia Nacional. Para isso o presidente eleito pediu, no domingo à noite, a mobilização dos seus apoiantes de forma a conseguir uma "maioria de mudança".

Uma sondagem da Kantar Sofres da primeira volta aponta para que o La Republique en Marche! tenha 24 a 26% dos votos, à frente d"Os Republicanos (22%), Frente Nacional (21 a 22%), La France Insoumise de Jean-Luc Mélenchon (13 a 15%) e do PS (8 a 9%).

Ontem, elementos mais moderados d"Os Republicanos mostram-se disponíveis para trabalhar em conjunto com Macron, apesar de a linha oficial do partido de direita ser o apelo a uma oposição unida contra o novo presidente. "Eu consigo trabalhar numa maioria governamental", declarou ontem Bruno Le Maire, um destacado republicano próximo de François Fillon. "A situação é demasiado séria para sectarismos e partidarismos".

Tendo abandonado a liderança do seu movimento após a sua vitória, Macron vai delegar no seu primeiro-ministro a liderança da campanha para as legislativas, disse o porta-voz do La Republique en Marche!, Richard Ferrand.

O movimento irá apresentar um candidato em cada uma dos 577 círculos franceses, adiantou Ferrand, referindo que metade destes serão da sociedade civil e "pelo menos 50% serão mulheres".Os nomes - dos quais 14 são já conhecidos - serão anunciados na quinta-feira. O movimento que quer "moralizar a vida política" exige um registo criminal limpo aos seus candidatos.

Um "congresso fundador" irá decorrer "antes de 15 de julho", disse a mesma fonte. Até lá, o movimento será liderado por Catherine Barbaroux, uma reformada que teve carreira política nos anos 70 e enveredou depois pelo privado.

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