Super tufão a caminho. Macau admite içar sinal 9 de tempestade tropical
As autoridades de Macau admitiram este sábado existir uma "probabilidade alta" de içar o sinal 9 de tempestade tropical, o segundo mais elevado, quando o tufão Manghkut atingir o ponto mais próximo do território, este domingo.
Em comunicado, os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), referem uma "probabilidade muito alta" de içarem o sinal 8 entre a noite de hoje e a madrugada de domingo, dia em que são esperados "ventos muito fortes e inundações graves" e o alerta pode ser elevado para 9. O alerta implica o encerramento das três pontes que ligam a península de Macau à ilha da Taipa, de transportes e de quase todos os serviços.
O aviso de "storm surge" [maré de tempestade] de nível vermelho pode também ser emitido hoje à tarde, admitem as autoridades, que apontam para uma subida do nível das águas entre um e 2,5 metros.
Pelas 11:00 (4:00 em Lisboa), a tempestade tropical encontrava-se a cerca de 790 quilómetros a sudeste de Macau, encaminhando-se para a costa oeste da província de Guangdong, no sul da China.
O sinal 1, em vigor desde as 11:00 (04:00 em Lisboa), vai ser substituído pelo sinal 3 às 18:00 (11:00 em Lisboa), indicaram os SMG.
O super tufão, o mais forte da temporada, atingiu a costa filipina pelas 01:40 (14:40 em Lisboa), com ventos de até 240 quilómetros por hora.
Apesar de ter enfraquecido ao entrar em terra, as autoridades acreditam que a tempestade ainda representa uma "grande ameaça" a Macau e às regiões da foz do Rio das Pérolas.
O Observatório de Hong Kong já admitiu içar o sinal 10, o mais elevado na escala de alerta. As províncias chinesas de Guangdong, Guangxi e Hainan já suspenderam transportes e estão a retirar parte da população.
Na sexta-feira, o Governo de Macau garantiu o abastecimento de bens e essenciais para a população, tais como água, combustível e produtos alimentares, bem como a "estabilidade dos preços das mercadorias".
De acordo com as novas previsões, preveem-se "ventos muito fortes e inundações graves" nas zonas baixas, provocadas por "storm surge" [maré de tempestade]. O nível da água pode subir entre um e 2,5 metros.
A confirmar-se, os 16 centros de acolhimento de emergência de Macau vão estar abertos ao público, preparados para receber todos os cidadãos retirados das zonas baixas, disse em comunicado o Instituto de Ação Social (IAS).
Na quinta-feira, o chefe do Executivo de Macau, Chui Sai On, garantiu que toda a estrutura da Proteção Civil está preparada para responder ao "grande impacto" desta tempestade.
O Gabinete para o Desenvolvimento do Setor Energético (GDSE) já garantiu que a Companhia de Eletricidade de Macau (CEM) vai "desenvolver todos os esforços para minimizar o impacto do tufão (...) e destacar mais pessoal para manter o serviço de fornecimento de energia elétrica".
Também a Direção dos Serviços de Economia (DSE) afirmou já ter criado um mecanismo de comunicação com os 10 produtores e fornecedores de água engarrafada de Macau.
Em agosto do ano passado, o tufão Hato, o pior dos últimos 53 anos a atingir Macau, fez dez mortos, mais de 240 feridos e deixou um rasto de destruição na cidade, que sofreu interrupções no fornecimento de eletricidade e de água.
Muita água, bastantes conservas e a indispensável fita-cola fazem parte da lista de produtos essenciais com os quais a população de Macau se preparou nas últimas horas para enfrentar o super tufão Mangkhut.
A água, porque no ano passado o tufão Hato deixou muitas casas sem abastecimento durante vários dias, as conservas, para o caso de serem confrontados com cortes de energia, e a fita-cola, para reforçar a resistência das janelas que em 2017 foram dos primeiros materiais a ceder às violentas rajadas de vento.
"Tendo em vista que se prevê que [o super tufão] seja mais forte do que o ano passado, passei fitas em todas as janelas, cobri todas as frestas, comprei água, comida, para, se faltar água [ou] alimentos nos supermercados, já tenho tudo em casa", disse à Lusa Mariana Rabelo, de 24 anos.
Pedro Lopes, de 41 anos, explica que as compras foram feitas com tempo "porque houve um aviso antes" que permitiu que se prevenissem, evitando uma corrida aos supermercados, que bens essenciais voassem das prateleiras e a eventual especulação nos preços.
"Desta vez as pessoas tiveram tempo para se abastecerem", afirma à Lusa. Há um ano, "no pós-tufão, os supermercados estavam todos cheios e água não havia, e a pouca que existia era a preços exorbitantes", recorda.
Zélia de Oliveira Batista tem 64 anos, e é vice-presidente na Escola Portuguesa de Macau. Tem presente na memória a passagem de tufões por Macau durante 23 anos, mas até ao Hato, "uma experiência traumatizante", destaca, estes nunca lhe tinham causado medo.
Depois dos dez mortos, dos 240 feridos e do rasto de destruição deixado pelo tufão, em 2017, o pior dos últimos 53 anos, a professora admite à Lusa que hoje o respeito pelos alertas das autoridades é outro.
Era "uma coisita ou outra pontualmente" e o bom senso exigia que as pessoas ficassem em casa, recorda. "Era para ficarmos resguardados, porque há muitas coisas que voam, para não sermos atingidos (...), estávamos tranquilos, mas atualmente não, sentimos que há um receio muito grande em toda a comunidade", sublinha.
"Desta vez fomos avisados com muita antecedência", destaca, ao mesmo tempo que enuncia as provisões escolhidas para garantir um 'stock' confortável em casa, onde vive sozinha: "Foi água, essencialmente, porque após o tufão do ano passado, o Hato, não havia água" e "em termos de alimentos, também, os legumes, a fruta, também algumas conservas para o caso de não se poder cozinhar e outro tipo de alimentos porque pode deixar de haver eletricidade".
Ambas, Zélia e Mariana, alertam para o facto de ser essencial carregar todos os dispositivos eletrónicos que garantam que as pessoas fiquem comunicáveis, baterias inclusive, para prevenir qualquer falha na energia. Pequenas coisas que podem fazer a diferença, salientam.
Na ilha da Taipa, com vista para a península de Macau, perto da ponte Governador Nobre de Carvalho, um casal tira fotografias junto à água, num dia em que o sol, apesar de forte, parece convidar a população a sair de casa.
Nos supermercados, as pessoas fazem as compras habituais, sem pressas. E enquanto o alerta não subir pelo menos até ao nível 8, os transportes públicos continuam a garantir a mobilidade habitual da população em Macau.
"Espero que [este super tufão] não seja tão forte como está a ser previsto, mas se for, a gente tem que estar preparada para ele. Vida normal até lá", conclui Mariana Rabelo, com um sorriso.