Lviv volta a ser alvo com a Rússia a iniciar a esperada ofensiva a leste

Zelensky afirma que os russos iniciaram a grande ofensiva a leste, horas depois de Moscovo ter redobrado ataques aéreos um pouco por todo o país, Lviv incluído. Putin e presidente do Banco Central com visões distintas.
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A Rússia redobrou os ataques à Ucrânia nas últimas horas, tendo atingido 300 alvos militares com mísseis de elevada precisão, disse o Ministério da Defesa russo. Afirmou ainda que os seus mísseis atingiram pontos de comando, depósitos de combustível e armazéns de munições em cinco cidades ucranianas do leste, bem como em Mykolaiv, no sul. Os alvos incluíam instalações militares nas cidades de Barvinkove e Huliaipole, dois locais estratégicos que poderão ser pontos de lançamento para a ofensiva da Rússia no leste.

Segundo as autoridades ucranianas, as forças russas atingiram Lviv, a mais importante cidade ocidental ucraniana, com três mísseis a caírem em instalações militares e um outro a atingir uma oficina automóvel, tendo matado sete pessoas e ferido 11. Segundo Kiev, Moscovo arrancou com uma "fase ativa" e tomou a cidade de Kreminna, na região de Lugansk. No mesmo dia em que Vladimir Putin e a governadora do banco central mostraram estar em desacordo sobre o estado da economia e as perspetivas futuras, o líder russo condecorou uma brigada acusada de crimes de guerra em Bucha.

A Rússia lançou a esperada ofensiva em larga escala no leste da Ucrânia, confirmou o secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional em declarações à TV. "Esta manhã [ontem], ao longo de quase toda a linha da frente nas regiões de Donetsk, Lugansk e Kharkiv, os ocupantes tentaram romper as nossas defesas. Começaram a sua tentativa de iniciar a fase ativa", disse Oleksiy Danilov. "Os nossos militares estão a resistir", comentou, tendo ainda acrescentado que as forças russas só poderão penetrar a frente em dois pontos.

Mais tarde, na sua habitual mensagem diária em vídeo, o presidente ucraniano confirmou a ideia. "Agora podemos afirmar que as forças russas começaram a batalha pelos Donbass para a qual há muito se preparam", disse Volodymyr Zelensky. "Uma parte muito significativa do exército russo está agora concentrada para essa ofensiva. Não importa quantos militares sejam enviados para lá, iremo lutar, iremos defender-nos. Fá-lo-emos todos os dias."

O chefe da administração regional de Lugansk, que faz parte do Donbass, disse que as forças russas invadiram e tomaram o controlo de Kreminna. "Constatamos que reuniram forças e recursos suficientes e lançaram ofensivas em grande escala em várias direções", disse Serhiy Haidai sobre as forças russas. Quatro civis terão sido mortos a tiro quando tentavam fugir da cidade. Haidai afirmou que "esta semana será difícil" e pediu aos civis que abandonem a região. "O exército russo já entrou com uma enorme quantidade de material bélico. Os nossos defensores recuaram para novas posições", escreveu no Facebook.

Não são apenas os ucranianos a observar o início da nova fase da guerra. "A grande batalha pelo Donbass já começou", disse o analista pró-Kremlin Yuri Podolyaka. "A atividade da artilharia e das forças aéreas russas intensificou-se de novo", notou.

Nesta nova ofensiva, Lviv voltou a ser alvo dos mísseis russos. Segundo o porta-voz do ministério russo da Defesa os aviões russos lançaram um ataque contra um armazém militar. "O centro logístico e importantes lotes de armamentos estrangeiros, fornecidos à Ucrânia durante os seis últimos dias pelos Estados Unidos e países europeus, que estavam armazenados, foram destruídos", disse Igor Konachenkov. Afirmou ainda que um grande armazém de munições também foi destruído perto de Vasylkiv, na região de Kiev. As autoridades ucranianas dizem que as instalações militares estavam vazias.

Enquanto isso, os primeiros carregamentos de um novo pacote de assistência militar dos EUA chegaram à Ucrânia para serem empregados na sua luta contra a invasão russa, disse um alto funcionário do Pentágono. "Ainda ontem chegaram ao teatro [de guerra] quatro voos dos Estados Unidos", disse o norte-americano, com um quinto voo previsto para breve. O pacote inclui pela primeira vez obuses de 155 mm (18), 200 veículos blindados de transporte M113, outros 100 veículos blindados, 11 helicópteros soviéticos Mi-17, e 40 mil munições de artilharia.

A Rússia queixou-se formalmente aos Estados Unidos sobre a sua ajuda militar à Ucrânia, alertando para "consequências imprevisíveis" caso os carregamentos de armamento avançado prossigam.

A União Europeia condenou os bombardeamentos "indiscriminados" em Lviv e mostrou mais uma vez solidariedade para com o povo ucraniano. Para o chefe da diplomacia europeia Josep Borrell, "as ataques a Lviv e outras cidades na Ucrânia ocidental mostram que nenhuma parte do país é poupada da ofensiva sem sentido do Kremlin".

Na segunda-feira, Zelensky entregou ao enviado da UE a Kiev, Matti Maasikas, uma resposta a um questionário de adesão que fora levado pela presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen. "Receberemos apoio para este trabalho, tornar-nos-emos candidatos à admissão, e então começará a próxima fase final. "O nosso povo está mentalmente na Europa há muito tempo", disse o chefe de Estado a Maasikas.

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Ao 56.º dia após a invasão ordenada por Putin, dois combatentes britânicos capturados pelas forças russas apareceram na televisão russa a apelar para serem utilizados numa troca de prisioneiros enquanto o político ucraniano Viktor Medvedchuk - conhecido como o "vice de Putin" - foi detido e apareceu num vídeo dos Serviços Secretos da Ucrânia a pedir para ser trocado pelos residentes de Mariupol, uma pretensão que foi de imediato negada pelo Kremlin por não ser um cidadão russo.

O líder russo assinou um decreto que concede o título honorário de "Guarda" à 64.ª brigada de infantaria motorizada, acusada pela Ucrânia de ter participado em crimes de guerra cometidos em Bucha, perto de Kiev. A Ucrânia acusou o exército russo, e em particular a 64.ª Brigada, de ter cometido um massacre contra civis em Bucha, que foi descoberto após a retirada dos soldados russos a 30 de março.

No mesmo dia em que deu honras a militares suspeitos de atrocidades, Putin mostrou-se otimista em relação à economia russa ao dizer que as sanções ocidentais não resultaram. "Destinavam-se a minar rapidamente a situação financeira e económica no nosso país, provocar o pânico nos mercados, o colapso do sistema bancário e uma grande escassez de bens nas lojas", disse num discurso transmitido pela televisão. "Mas já podemos dizer com confiança que esta política em relação à Rússia falhou. A estratégia de uma blitzkrieg económica fracassou."

Opinião distinta tem a presidente do Banco Central russo. Ao falar na Duma, Elvira Nabiullina disse que as sanções "começarão agora a afetar cada vez mais os setores reais da economia" e que piores dias virão. "O período em que a economia tem conseguido viver das reservas terminou. Já no segundo trimestre ou no início do terceiro trimestre iremos entrar numa fase de transformação estrutural", disse aos deputados.

Surgiram nas redes sociais fotografias e um vídeo de três segundos do que aparenta ser o Moskva, naufragado na quinta-feira. Segundo Kiev, dois mísseis Neptune atingiram o cruzador russo. Para Moscovo, um incêndio de origem não esclarecida traçou o destino do navio almirante da frota do mar Negro, que afundou ao ser rebocado "em condições tempestuosas", uma alegação que as imagens desmentem.

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