"Lula é um perigo porque mente com muita convicção"

Há um ano, o PSDB discutia qual o melhor candidato do partido, de centro-direita, em 2018: José Serra, Aécio Neves ou Geraldo Alckmin. Os dois primeiros perderam força. Sobrou Alckmin. E João Doria, um fenómeno de súbita popularidade entretanto eleito prefeito de São Paulo.
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Só o ex-presidente Lula (PT) e o militar de extrema-direita Jair Bolsonaro (Patriotas) superam João Doria nas sondagens. Por enquanto. Com pose de aristocrata e excelente trânsito na alta finança paulistana, valeu-se do slogan "eu não sou político" para conquistar um país farto de políticos.

O presidente da República Michel Temer (PMDB) definiu-o recentemente como "uma liderança já nacional". Setores do PSDB falam no seu nome para a presidência em 2018. Nas sondagens, aparece como o mais forte candidato a candidato do seu partido. É, de facto, candidato?
Fico feliz e honrado mas não me apresento como pré-candidato à presidência da república pelo PSDB. Mas não deixo de me sentir enaltecido por, em todas as partes do Brasil que frequento, ser recebido com entusiasmo, aplausos, faixas e outras manifestações mais explícitas a propósito da sucessão presidencial. Não há quem não se sinta bem recebendo esse tipo de homenagens.
Temer está a completar um ano desde que tomou posse definitiva do cargo. Tem cumprido as expectativas?
Independentemente das turbulências políticas, a resposta é sim. Ele tem feito aquilo que se propôs fazer: um governo de transição. E assumindo ónus difíceis e pesados como a reforma política, do trabalho, da segurança social. Agora iniciou um programa de desestatização de aeroportos e da [companhia elétrica] Eletrobrás. São iniciativas corajosas, de nenhuma popularidade, mas que podem ajudar muito a salvar o Brasil.
Geraldo Alckmin, governador do estado de São Paulo e seu "padrinho", por tê-lo escolhido como candidato do PSDB a prefeito, é pré-candidato. Ele também seria um bom candidato ao Planalto?
Sim, seria. É um homem com uma trajetória de vida honesta e de eficiência na gestão pública.
Como vê o senhor a situação de outro nome que chegou a ser dado como o candidato natural do PSDB em 2018, o presidente do partido Aécio Neves? Tendo em conta as delações da JBS, teria sido mais prudente que ele se afastasse do cargo no partido?
Seria. Eu mesmo já fiz essa manifestação diretamente a ele mas cabe ao senador Aécio Neves tomar uma decisão. Porém, entendo que ele se protegeria e se defenderia melhor sem ocupar a presidência do PSDB. Espero que ele, com maturidade, ainda possa tomar essa decisão.
Como analisa os 13 anos do PT no poder?
Os 13 anos do PT no poder foram um desastre para o Brasil. A maior corrupção da história, a mais elevada ineficiência de gestão económica, a pior recessão do país desde sempre, com 14 milhões de desempregados. É um desastre consolidado em todas as áreas.
Mas Lula (PT) continua com um capital eleitoral forte, sendo, tal como Jair Bolsonaro (Patriotas), os únicos que o superam por agora nas diversas sondagens realizadas. O que acha do eventual candidato Lula?
Lula candidato é um perigo porque ele mente com muita convicção e engana com muita facilidade. Será precisa muita atenção para neutralizar as mentiras que já começam a ser veiculadas.
Em entrevista recente ao DN, o seu antecessor na prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, tido como o plano B do PT caso Lula não concorra, rompeu o silêncio sobre a sua gestão e considerou-a "um retrocesso". E ainda o acusou de só desconstruir em vez de construir. Qual o seu comentário?
Não é verdade. E é a prova de que o Fernando Haddad começa a enveredar pela linha "lulista" de desconstruir as pessoas, mas corre, ele próprio, o risco de ser desconstruído. Embora ele tenha feito uma gestão aparentemente honesta, apresentou dezenas de deficiências e uma administração globalmente má. Tão má que perdeu a eleição na primeira volta, se fosse boa e competitiva teria chegado, no mínimo, à segunda volta. O que espero é que o PT tenha a dignidade de não conduzir a sua campanha com xingamentos, agressões e ameaças.

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Portugal, fazendo as contas por alto, tem dez milhões de habitantes. São Paulo, fazendo as contas por baixo, tem 11. Quais as maiores dificuldades de gerir uma megalópole?
Na verdade, por baixo São Paulo já está com 12 milhões de habitantes. É uma cidade-estado. Tem a dimensão de um país, tem a população de um país e problemas de outros municípios dentro de um único município. É um grande desafio administrar a terceira maior capital do mundo, sétima maior cidade do planeta. Mas ao mesmo tempo é um desafio contagiante por aquilo que representa o resultado de ações de governo para a população mais carente. Os resultados aparecem muito rapidamente quando é feita uma gestão eficiente.
Os slogans da sua campanha, "acelera São Paulo" e "eu não sou político" ajudaram-no a uma vitória categórica logo na primeira volta nas eleições municipais do ano passado. Tem conseguido fazer a cidade acelerar e geri-la de forma mais profissional e empresarial?
Temos sim, com bons resultados até aqui, apesar de num período ainda curto de oito meses de gestão. Apresentamos inovações importantes na área de saúde, educação, segurança pública, desporto, vigilância urbana e habitação popular.
Se tivesse de escolher o desafio mais difícil, qual seria - trânsito, Cracolândia [área da cidade onde vagueiam traficantes e usuários de crack que o prefeito mudou recentemente de localização] ou outro?
Cracolândia, pelo lado humanitário e pela possibilidade de salvar vidas e ao mesmo tempo para servir de referência para outras cidades brasileiras que vivem o mesmo drama das drogas, do tráfico e da bandidagem.
O senhor recebeu no dia 10 de junho a visita conjunta do presidente da República e do primeiro-ministro portugueses que escolheram São Paulo para assinalar o dia de Portugal. As relações entre o país e a cidade e entre a cidade e a sua enorme comunidade luso-brasileira estão num bom momento?
Num momento excelente. São relações históricas, culturais, pessoais e institucionais consolidadas numa ação muito eficiente comandada pelo cônsul--geral de Portugal em São Paulo, o Paulo Lourenço. Nunca houve uma relação tão boa, como agora, entre Portugal e São Paulo.

São Paulo

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