O antigo líder do PSD (entre setembro de 2007 e junho de 2008) Luís Filipe Menezes analisa a resposta de Portugal à pandemia, lança alertas e deixa, nestas declarações ao DN, algumas questões que considera necessitarem de resposta. Frisa que a ministra da Saúde e a diretora-geral da DGS deviam estar mais bem preparadas em termos comunicacionais..Tem estado muito ativo nas redes sociais, onde analisa a situação da pandemia. Onde erraram as autoridades na fase inicial de contágio no nosso país? Agora apontar erros com acinte é um erro. Críticas construtivas e chamadas de atenção são legítimas, como são discordâncias pontuais. Mas com moderação. Toda a gente sabia muito pouco, sabe muito pouco sobre este vírus. Se tivéssemos começado desde o início a testar todas os doentes com patologia respiratória, se tivéssemos sido mais lestos a fazer stocks de proteção para os profissionais de saúde, se tivéssemos decretado mais cedo contenção, talvez assim nos aproximássemos mais dos resultados de países como Singapura, Japão ou Taiwan. Talvez....Tem também elogiado algumas figuras da política, como Rui Moreira... Tenho elogiado os mais proativos ou melhor comunicadores, matéria essa, a qualidade da comunicação, muito importante quando quase tudo é incerto. Miguel Albuquerque (presidente do governo regional da Madeira), Rui Moreira (presidente da Câmara do Porto), Carlos Carreiras (presidente da Câmara de Cascais), Salvador Malheiro (presidente da Câmara de Ovar), Ricardo Rio (presidente da Câmara de Braga), mas também muitos outros autarcas têm sido extraordinários (só que não têm culpa de a comunicação social não acompanhar a sua ação)..Recentemente afirmou existir falta de solidariedade de alguns governantes em relação à Madeira e ao presidente do governo regional. Em que sentido?.É passado. Não gostei de ver alguns em conferências de imprensa a tratar a Madeira como um inconsciente território "cismático". O que a Madeira estava era a ir à frente na prevenção..A autorização do regresso dos emigrantes foi um erro? Com total liberalidade, sim. Admito exceções para quem viesse assistir familiares. Todavia, a maioria só aproveitou o facto de estar dispensado do trabalho ou reformado para se refugiar-se na terra. Sem controlo, sem rastreio prévio. Um perigo para os que vieram, para os familiares que porventura cá tenham, para as comunidades para onde irão regressar. Há também muitos residentes que não podem ir do Algarve a Trás-os-Montes passar a Páscoa. Sacrifício igual para todos os cidadãos portugueses, vivam onde vivam. E a emigração europeia vive em países com excelentes cuidados de saúde..Defende também que se deveria analisar a origem do problema que já referiu poder ser um "Chernobyl biológico"... Longe de mim defender teorias de conspiração, para isso chegam Ali Khamenei (líder supremo do Irão) e Trump (presidente dos EUA). Todavia, é um facto que a epidemia começou em Whuan, onde está instalado o mais importante laboratório de investigação virológica da China (coincidência? talvez), é um facto que a nomenclatura chinesa escondeu o surto e a sua gravidade cerca de um mês e meio, é inaceitável que alguns médicos e jornalistas tenham "desaparecido" só por darem o alarme. O primeiro, jovem, médico, que alertou para o início da epidemia, é sabido que morreu da doença após ter sido previamente detido. Após isto, a China foi, aparentemente, solidária e colaborante com a comunidade internacional. A comunidade chinesa em Portugal foi, é, sempre impecável..Também apontou o dedo à postura da diretora-geral da DGS, Graça Freitas, e a Marta Temido (ministra da Saúde). No seu ponto de vista, já perderam credibilidade? Ninguém tem o direito de apontar o dedo aos mais responsáveis sem se colocar na difícil posição em que eles estão e estiveram. O que eu disse e reafirmo é que os rostos dos interlocutores numa situação destas têm de ser cuidadosos e muito bons comunicadores. A confiança e a esperança da população decorrem muito dessas conversas diárias. Não julgo a competência técnica e política de ambas, não é o momento, nem é justo, mas é evidente que são sofríveis a comunicar e, no início, atolaram-se em descredibilizantes contradições..Os números apresentados nos boletins diários suscitam-lhe dúvidas? Na generalidade não, na especialidade sim. Por exemplo nos últimos dias os números de infetados eram sempre dezenas certas! Era mais fácil acertar no Euromilhões! Mas esse é um detalhe. No entanto, ainda não entendi a política minimalista na realização de testes. Estratégia ou necessidade?.Que medidas deveriam ser implementadas de imediato para se conseguir conter a pandemia no nosso país?Nesta semana o ex-diretor do CDC disse a Fareed Zakharia, na CNN, que ninguém sabe de nada sobre o vírus. Se dá ou não imunidade, se o surto vai reincidir, se se propaga através de objetos, etc. Fico pasmado com as certezas dos especialistas portugueses que passam horas a definir doutrina absoluta nos diversos canais de TV. Bill Gates anda distraído, senão já teria importado em massa estes crânios. Por agora, só aconselharia o que parece óbvio, contenção, contenção, contenção, apoio total aos profissionais de saúde (logístico e técnico) e unidade nacional. E ainda um aumento radical de testes que permita liderar a epidemia e não atuar numa perspetiva meramente reativa. Como manda a OMS, testar, testar, e ainda testar..Em relação ao apoio às famílias e ao setor empresarial, o governo pode ou deve fazer mais? Pode e deve, mas é uma estultícia pensar que o pode fazer sem o apoio enérgico, com uma estratégia clara, das instâncias liderantes da União Europeia (uma triste e confirmada desilusão sempre que há crise). Também era altura de os bancos restituírem ao povo a solidariedade que o povo lhes deu, através de dolorosos sacrifícios, nos últimos anos.