O pianista e compositor italiano Ludovico Einaudi (n. 1955) está de volta amanhã a Lisboa para um concerto no Coliseu. É o seu sétimo concerto cá e acontece ano e meio após a última aparição, centrada no álbum Elements, editado em 2015..A vinda a Lisboa acontece uma semana após o lançamento internacional da parte I de Seven Days Walking, um grande projeto discográfico (o primeiro após Elements) que irá acontecer ao longo de 2019 e que consiste de sete partes/episódios, chamados, respetivamente, Day One, Day Two, etc., a serem lançados individualmente em sete meses sucessivos. Einaudi explica que a inspiração para o mesmo foi uma série de passeios na montanha em janeiro de 2018 e a experiência de "notar como, devido à neve, todas as formas perdiam os seus contornos, forma e cor e ficavam reduzidas à sua essência"..Ele chama aos temas "variações sobre um mesmo itinerário, ou momentos distintos de um itinerário", em que "a cada vez se descobre sempre pormenores inapercebidos", resultando numa "espécie de labirinto musical unido por um fio invisível". Em última análise, uma introspeção nos mistérios do processo criativo e ilustração das "múltiplas direções que pode tomar uma ideia musical" e de como, finalmente, ela "se transforma ainda no momento em que é tocada/ouvida". As gravações decorreram no castelo de Elmau, nos Alpes bávaros, e em Londres, e para este projeto Einaudi faz-se acompanhar somente de violino (ou viola de arco) e de violoncelo..Um dos mais populares pianistas da atualidade, Ludovico Einaudi é dono de um estilo muito próprio, que funde as múltiplas influências formativas que recebeu e os percursos e cruzamentos que foi efetuando ao longo da sua carreira..Avesso a etiquetas e catalogações, até porque veemente "praticante" da liberdade de orientação criativa, da abertura e da curiosidade - conceitos que gosta de remeter para o seu professor Luciano Berio (1925-2003), famoso compositor erudito italiano, que homenageou no citado Elements -, Einaudi descreve a sua música como "um holograma, real e fantasmático ao mesmo tempo, que reúne o passado e o presente" e expressão do seu desejo de "poder restituir as coisas mais bonitas que me formaram, marcaram e emocionaram numa linguagem musical orgânica". Este lado "orgânico" traduz-se, para ele, em álbuns "cuja forma deverá estar organizada como se fosse um livro em vários capítulos" e nos quais se fundem "a minha existência e as minhas reflexões sobre a mesma com um sentido de arquitetura musical feito das formas individuais que cada tema me vai 'pedindo'"..Certo é que com esse seu estilo, em que convivem e harmoniosamente coexistem influências do erudito, do jazz, da pop, da world music, da eletrónica, do minimalismo e do new age, Einaudi conseguiu, enquanto pianista solo, uma rara popularidade e unanimidade internacionais, integrando uma linguagem com muito de "erudito" em eventos pouco conotados com ela, junto de públicos igualmente "inesperados". Diz que lhe agrada muito "a dimensão de comunhão que se cria no ambiente caloroso de um concerto pop-rock, no qual o momento do concerto é vivido como um rito coletivo de emoção e comunhão quase religiosa, que todos irmana"..Detém hoje já uma lista de mais de duas dezenas de álbuns editados ao longo de quase três décadas, à qual se juntam numerosas colaborações no cinema e, numa fase inicial da carreira, com o teatro e com a dança. Essas experiências "transversais" com outras artes ajuda(ra)m-no, diz, "a perceber a função expressiva da música; perceber que elementos musicais criam quais emoções e veiculam determinados significados expressivos e/ou determinadas sensações"..Cita como artistas que admira Brad Mehldau e Esbjörn Svensson e, no passado, Miles Davis. Noutro campo, surpreenderam-no pela positiva os Sigur Rós. Mas, acima de todos, venera o pianista Glenn Gould (1932-1982), sobre o qual declara que "diante do seu pianismo fico sempre sem palavras!"..Ludovico Einaudi.Lisboa, Coliseu dos Recreios.23 de março de 2019, 21.30