Luanda Leaks. Jaime Esteves deixa de liderar fiscalidade da PwC em Portugal. E pode haver mais saídas
O Luanda Leaks, que expõe como foi construído o império da empresária angolana Isabel dos Santos - já provocou uma demissão de um alto quadro da PricewaterhouseCoopers (PwC). Jaime Esteves deixou de liderar o departamento de fiscalidade em Angola, Portugal e Cabo Verde. A decisão, justificou o próprio, surge devido à "seriedade das alegações do Luanda Leaks". "Entendi que devia deixar de liderar o departamento e pedi para ser substituído", afirmou ao jornal Observador.
Um dos sócios da consultora, Jaime Esteves mantém-se na empresa, mas demite-se do cargo que exercia desde 2009. Ao jornal faz saber que sai da função não pelo seu trabalho, mas por ter liderado um departamento que está a ser alvo de uma análise interna, tendo em conta as revelações da investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas (ICIJ).
Já na segunda-feira, a PwC confirmava o corte com Isabel dos Santos, que, de acordo com a investigação, terá desviado mais de 100 milhões de dólares (cerca de 90 milhões de euros) para o Dubai.
A consultora anunciou ter cessado os contratos de serviços a empresas controladas pela empresária angolana, na sequência da publicação de notícias que revelam transações suspeitas e esquemas alegadamente fraudulentos.
"Nós esforçamo-nos para manter os mais altos padrões profissionais na PwC e estabelecemos expetativas de comportamento ético consistente por todas as empresas da PwC na nossa rede global. Em resposta às alegações muito sérias e preocupantes levantadas, iniciámos imediatamente uma investigação e estamos a trabalhar para avaliar minuciosamente os factos e concluir a nossa investigação", comentou, num comunicado enviado à agência Lusa.
A mesma nota acrescenta que tomou "medidas para encerrar qualquer trabalho em curso para entidades controladas por membros da família dos Santos".
O nome da empresária angolana foi também retirado da lista de participantes do Fórum Económico Mundial de Davos.
Bob Moritz, presidente da comissão executiva da PwC, admitiu, entretanto, esta terça-feira que está "desiludido" e "chocado" com as revelações sobre as operações de Isabel dos Santos.
O CEO da consultora refere mesmo que está "desiludido por não ter identificado" os problemas mais cedo. "Esse foi o nosso erro", reconheceu ao The Guardian, à margem do Fórum Económico Mundial, que decorre em Davos.
Moritz admitiu que uma investigação interna pode levar a que elementos da consultora percam os cargos de liderança ou até mesmo os empregos. "Vamos esperar pela investigação. Mas precisamos de avançar rapidamente para tomar medidas para recuperar a confiança", defendeu.
O responsável afirmou, no entanto, que o seu trabalho não está em causa. "Não estou preocupado com o meu trabalho, mas sim em garantir que esta organização faça o que é preciso fazer", disse.
Um consórcio de jornalismo de investigação revelou no domingo mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de "Luanda Leaks", que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que estarão na origem da fortuna da família.
O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação, que integra vários órgãos de comunicação social, entre os quais o Expresso e a SIC, analisou, ao longo de vários meses, 356 gigabytes de dados relativos aos negócios de Isabel dos Santos entre 1980 e 2018, que ajudam a reconstruir o caminho que levou a filha do ex-presidente angolano a tornar-se a mulher mais rica de África.
Durante a investigação foram identificadas mais de 400 empresas (e respetivas subsidiárias) a que Isabel dos Santos esteve ligada nas últimas três décadas, incluindo 155 sociedades portuguesas e 99 angolanas.
As informações recolhidas detalham, por exemplo, um esquema de ocultação montado por Isabel dos Santos na petrolífera estatal angolana Sonangol, que lhe permitiu desviar mais de 100 milhões de dólares (90 milhões de euros) para o Dubai.
Revelam ainda que, em menos de 24 horas, a conta da Sonangol no Eurobic Lisboa, banco de que Isabel dos Santos é a principal acionista, foi esvaziada e ficou com saldo negativo no dia seguinte à demissão da empresária.