Será uma promoção "meteórica" e, a confirmar-se, "daria uma mensagem interna profundamente nefasta, pois trata-se de alguém que nem nunca teve cargos dirigentes no Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED)"..Esta é uma das várias reações de apreensão produzidas por fontes que acompanham a atividade das secretas, ouvidas pelo DN, quando confrontadas com um dos nomes que estará em cima da mesa para ascender a diretor adjunto, o número dois deste braço externo do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP)..Trata-se de um ex-analista deste serviço, onde entrou pela mão do ex-diretor Jorge Silva Carvalho em 2010 - na mesma altura que o indigitado diretor, o ministro plenipotenciário Pedro Marinho da Costa era assessor diplomático do então primeiro-ministro José Sócrates ..Era, até há dias, oficial de informações ("antena") em Kiev, Ucrânia - foi substituído e está atualmente de férias - e o facto de nunca ter exercido nenhum cargo dirigente no SIED, nem ter qualquer experiência em operações, é o principal argumento para as críticas..Nas secretas esta escolha é dada praticamente como certa, de acordo com informação recolhida por este jornal, embora ainda não tenha sido confirmada oficialmente. Questionados os gabinetes do primeiro-ministro e da secretária-geral do SIRP, não responderam..Ainda assim, fonte governamental garantiu ao DN que a indigitação do número dois ainda não estará fechada e que, conforme tínhamos noticiado, poderá ainda avançar Teresa Pimentel, também quadro do serviço, atualmente no gabinete de Graça Mira Gomes, a secretária-geral, mas que já teve funções de direção no SIED e não causará tanta preocupação..Em comum, Teresa Pimentel e o outro nome (não o revelamos ainda porque se não for nomeado, nas atuais funções está sob segredo), têm ambos pais diplomatas, no caso embaixadores reformados..O ex-"antena" em Kiev é também irmão do chefe de gabinete de um secretário de Estado do governo e, antes de entrar no SIED percorreu vários postos ligados ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE). Apesar de não ser diplomata, a sua evidente ligação familiar e profissional, constitui outro argumento para os críticos do chamado "lobby" diplomático, que sairá, assim, reforçado..De acordo com a sua nota curricular publicada em Diário da República, foi conselheiro técnico na Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia (REPER) durante a Presidência Portuguesa; assistente no gabinete de Eurodeputado com atividades nas áreas dos Assuntos Constitucionais, Negócios Estrangeiros e Segurança e Defesa; Secretário Privativo na Delegação de Portugal junto da NATO; e técnico especialista na área da cooperação no Gabinete do Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação..No SIED foi um dos apelidados "meninos de ouro" de Silva Carvalho, que correspondia a um conjunto de cerca de duas dezenas de novos recrutamentos feitos nessa altura..Começou por ser analista no departamento Europa - América, mas seis anos depois seguia de novo para a REPER, desta vez como "antena" em Bruxelas..Com abertura, no ano passado, de um posto em Kiev, sua nomeação voltou a surpreender. "É um quadro com qualidades, como todos os que entraram na mesma altura, mas não está entre os 10 melhores, como sabem todos os seus contemporâneos, o que prejudicará a sua autoridade", revela um antigo dirigente que o chefiou.."Tem talento como analista, mas ainda não tem maturidade e saber organizacional para ser dirigente superior. Se isso acontecer, será um enorme erro e daria uma mensagem interna profundamente nefasta. Nem Diretor de Divisão foi no Serviço. A realidade de direção do SIED é muito mais complexa. Um trabalho de "antena" é muito específico, ainda por cima um trabalho isolado, limitativo do conhecimento de uma organização no seu todo. Será um grande erro e perda de um futuro dirigente capaz", completa outro antigo quadro superior..É por isso que um cenário de este quadro poder vir a subir ao topo da hierarquia está a criar uma nova onda de choque. A primeira tinha sido quando foi apresentado o nome de Pedro Marinho da Costa, este sem qualquer ligação aos serviços, mas, na linha do anterior diretor Carlos Pires (atual secretário de Estado da Defesa), também diplomata..Os "espiões" esperavam ver subir o atual número dois, major-general Melo Gomes, um dos mais experientes e respeitados quadros do SIED, com vasta experiência em operações. O militar já tinha sido preterido quando entrou Carlos Pires, em 2019. Desta vez não se conformou e decidiu bater com a porta, conforme o DN já noticiou..Nesta quarta-feira, as qualificações de Pedro Marinho da Costa serão apreciadas numa audição conjunta das comissões de Assuntos Constitucionais e da Defesa..Marinho da Costa faz parte do círculo familiar do seu possível número dois, através do já referido chefe de gabinete, esteve também na REPER e foi Diretor de Serviços dos Assuntos Institucionais, na Direção-Geral dos Assuntos Europeus, entre outros cargos no MNE, como o de Diretor de Serviços do Cerimonial, Deslocações, Dispensas e Privilégios, do Protocolo do Estado.