Durou 44 dias. Liz Truss demite-se do cargo de primeira-ministra
A primeira-ministra britânica apresentou esta quinta-feira a demissão, pouco mais de um mês depois de ter tomado posse. "Reconheço que, dada a situação, não posso cumprir o mandato para o qual fui eleita pelo Partido Conservador", afirmou Liz Truss.
Esteve apenas 44 dias no cargo, fazendo com que este seja o mandato mais curto de um primeiro-ministro do Reino Unido. O segundo mais curto foi o de George Canning, que exerceu funções durante 119 dias antes de morrer em 1827.
Na curta declaração que fez em frente ao número 10 de Downing Street, Liz Truss admitiu que assumiu funções como chefe do governo num "momento de grande instabilidade" a nível económico e internacional, referindo-se ao aumento do custo de vida e à guerra na Ucrânia.
"Famílias e empresas estavam preocupadas em como iam pagar as suas contas. A guerra ilegal de Putin na Ucrânia ameaça a segurança de todo o nosso continente", enumerou Liz Truss.
Durante a declaração que fez ao país, afirmou que o Reino Unido "está há demasiado tempo estagnado devido a um baixo crescimento económico". "Fui eleita pelo Partido Conservador com um mandato para mudar isso", prosseguiu. Considerou que o seu governo conseguiu fazê-lo em relação às contas da energia e à "redução das prestações à Segurança Social".
"Apresentámos uma visão para uma economia de carga fiscal baixa que tiraria proveito das liberdades do Brexit", destacou Truss, reconhecendo, no entanto, que, dada a atual situação, não consegue cumprir o mandato pela qual foi eleita pelo Partido Conservador.
Truss afirmou que comunicou ao rei Carlos III a sua demissão de líder do Partido Conservador e que esteve reunida com Graham Brady, o presidente do Comité 1922, tendo ficado acordado que "haverá uma eleição" para uma nova liderança, que deverá " ser concluída na próxima semana"
"Irá garantir que continuemos no caminho para cumprir os nossos planos fiscais e manter a estabilidade económica e a segurança nacional do nosso país", declarou.
Liz Truss afirmou que irá continuar como primeira-ministra "até ser escolhido um sucessor".
Graham Brady, presidente do Comité 1922 - grupo parlamentar responsável pela organização das eleições -, afirmou que "será possível concluir uma eleição até sexta-feira, 28 de outubro". "Devemos, portanto, ter um novo líder antes da declaração fiscal que ocorrerá a 31 de outubro", afirmou.
O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, já fez saber, entretanto, que defende a convocação imediata de eleições legislativas.
"O povo britânico deve ter uma palavra a dizer sobre o futuro do país. Devem ter a oportunidade de comparar o caos dos Conservadores com os planos do Partido Trabalhista para resolver a confusão", afirmou Starmer. "Devemos ter a oportunidade de um novo começo. Precisamos de eleições legislativas já", enfatizou em comunicado.
Também a primeira-ministra da Escócia defende a realização de eleições. "Não há palavras para descrever esta confusão", começou por escrever Nicola Sturgeon no Twitter. "A realidade é que as pessoas comuns estão a pagar o preço. Os interesses do partido conservador não devem preocupar ninguém agora. Eleições legislativas são agora um imperativo democrático", concluiu.
Também o partido Liberal Democrata defendeu eleições legislativas, acusando os conservadores de serem "incompetentes para liderar o país".
"Não precisamos de outro primeiro-ministro conservador a cambalear de crise em crise, precisamos de uma eleição nacional, precisamos dos conservadores fora do poder, disse, urgindo os deputados do partido rival a "cumprirem o seu dever patriótico, colocarem o país em primeiro lugar e darem ao povo uma palavra a dizer".
No Reino Unido, as eleições legislativas são convocadas pelo chefe do governo ou após a dissolução do Parlamento, que só pode acontecer após uma moção de censura.
Esta teria de ser apoiada por deputados do Partido Conservador, que tem a maioria parlamentar.
Analistas políticos consideram esta possibilidade improvável porque a vantagem de cerca de 30 pontos percentuais dos Trabalhistas nas sondagens mais recentes apontam para uma vitória esmagadora, dizimando o partido Conservador.
As próximas eleições legislativas não estão agendadas, tendo como prazo que se realizem até janeiro de 2025.
O Partido Nacional Escocês (SNP), o segundo maior partido da oposição, também defendeu que "uma eleição nacional é um imperativo democrático", disse a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon.
Truss, de 47 anos, foi declarada líder dos 'tories' em 5 de setembro com 57% dos votos, derrotando Rishi Sunak na eleição interna para substituir Boris Johnson.
Na origem da queda está uma crise política e económica desencadeada pela turbulência nos mercados financeiros registada após a apresentação de um "mini orçamento" em 23 de setembro com grandes cortes fiscais.
Truss foi obrigada a pedir desculpa pelos "erros", cancelar quase todos os cortes fiscais e a substituir Kwasi Kwarteng por Jeremy Hunt como ministro das Finanças.
O descontentamento no partido no poder agravou-se após alegações de coação física na quarta-feira à noite no Parlamento sobre deputados conservadores para apoiarem o Governo numa votação contra a proibição da exploração de gás de xisto.