Lisboa e Porto a uma voz

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Pouco eco se deu por cá a um momento refrescante que teve lugar nesta semana, em Cannes. Rompendo com a habitualmente umbiguista política autárquica e enterrando o costume tolo e injustificável de separar as duas maiores cidades portuguesas por barricadas regionalistas sem sentido num país com a dimensão e a riqueza de Portugal, Carlos Moedas e Rui Moreira foram juntos a França, falaram a uma só voz e deram as mãos na estratégia de captação do investimento de que o país tanto precisa para andar para a frente e começar a crescer.

Na maior feira de imobiliário do mundo, perante uma audiência de luxo e numa conversa moderada pela diretora deste jornal, Rosália Amorim, os presidentes das câmaras de Lisboa e do Porto promoveram o país como um todo, fazendo das suas diferenças vantagens, das particularidades das suas cidades mais-valias.

Numa altura em que saímos da frigideira de uma impensável pandemia diretamente para o fogo de uma absurda guerra na Europa, mais do que sinais, é de estratégias capazes de nos ajudar a levar o país para a frente que precisamos - e mais do que nunca. As sinergias que tantas vezes se pede aos empresários, a necessidade de nos juntarmos para ganhar escala e falar mais alto, a capacidade de encontrar chão comum para alisar dificuldades e chegar mais longe mais depressa, tudo isto tem mais razão de ser em estruturas com poder de planeamento e decisão.

É assim nas autarquias, como é verdade nas políticas prosseguidas pelo governo. E também a esse nível tivemos um recente exemplo que, revelando-se uma verdadeira mudança de rumo, será capaz de produzir resultados positivos para famílias e empresas portuguesas.

Recuperando a verdadeira razão de ser da concertação social, há uma semana, António Costa anunciou que iria reunir-se semanalmente com os parceiros sociais para deles ouvir dificuldades e sugestões que permitam tornar menos difícil a tormenta que todos atravessamos. Ao lado dos parceiros sociais, o primeiro-ministro - o mesmo que, no desespero de tentar manter viva uma já totalmente desengonçada geringonça, chegou a cilindrar as suas obrigações em sede de concertação social para tentar agradar a quem segurava o parlamento - quer agora gizar os caminhos que aqueles que patrões e sindicatos representam vão trilhar.

Portugal é muito pequeno para falar a várias vozes, para perder tempo a enaltecer uma parte da sua cultura, do seu território, da sua gastronomia, do seu povo à custa de deitar abaixo o resto. É Portugal que importa glorificar, mostrar em todo o seu potencial e diferença, não menosprezando ou obliterando as diferenças que encerra, mas antes valorizando-as, promovendo-as, exaltando-as em cada voz que possa representar uma fatia da incrível riqueza que o país encerra.

As cidades de Lisboa e Porto juntarem-se para mostrar o tanto que temos para dar pode ser apenas o início de uma estratégia vencedora para todos.

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