Liliana Cá esteve sem competir entre 2012 e 2017. Desafiada por Luís Herédio, seu antigo treinador, voltou ao ativo de forma bastante intermitente. Mas a tempo de alcançar um muito meritório quinto lugar no lançamento do disco nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020..Este é um dos exemplos que ilustram que, para além dos portugueses medalhados em Tóquio, outros houve com prestações bastante positivas. O DN conta a história de vida e de superação de três desses atletas, contada pelos próprios..Liliana Cá conseguiu o apuramento para a final do lançamento do disco com a marca de 62,85 metros. Na final, numa altura em que ocupava o terceiro lugar, torceu o pé esquerdo, depois de uma queda, e ficou impossibilitada de continuar a competir. Acabou por cair para uma inglória quinta posição final, o que não apagou a excelente prestação na sua estreia nos Jogos Olímpicos, aos 34 anos..O treinador Luís Herédio conta que o regresso de Liliana ao ativo aconteceu depois de um encontro casual. "Passei por ela num centro comercial nos arredores de Lisboa e não a reconheci. De repente, levei um forte encontrão, que quase me projetou contra a vitrina de uma loja. "Então, já não me reconheces?", perguntou-me. Ela estava com muitos quilos a mais e na altura lancei-lhe o desafio para que fizéssemos uns treinos, mas apenas na brincadeira", revelou ao DN..Liliana conta que a primeira reação não foi de aceitação: "O Herédio arranjou-me um clube para treinar, o Novas Luzes, em Loures, mas achei que a competição já não era para mim. Ao fim de um tempo lá apareci num treino, mas levei aquilo apenas na brincadeira, até porque demorava uma hora e meia desde a minha casa no Barreiro até Loures, mais outra hora e meia para voltar." E tudo isto com dois filhos pequenos, que na altura tinham seis e três anos. "Na escola deles tive de pedir umas horas extra no prolongamento. Eu vinha sempre a correr do treino, de autocarro, e quando chegava a escola normalmente já estava a fechar e eles estavam no portão à minha espera. Chegava a casa tão cansada do treino que eu e os meus filhos jantávamos e depois íamos logo para a cama", recordou..Entretanto, ao fim de alguns meses de treino, atingiu a marca dos 47 metros e começou a pensar que não seria assim tão irrealista conseguir estar nos Jogos Olímpicos. No entanto, teve um enorme desgosto, com o falecimento da mãe, o que levou a mais um retrocesso. "Havia dias que eu não comia e cheguei a ter tonturas nos treinos. O Herédio dava-me parte do lanche dele e eu lá ia arranjar forças, nem sei bem onde... Até que em outubro eu e o meu treinador tivemos uma conversa e ele disse-me que se queria estar nos Jogos, teríamos de treinar de forma regular", recordou..Luís Herédio sublinha: "A Liliana garantiu-me que ia bater o recorde da Teresa Machado e que eu iria orgulhar-me muito dela. E assim foi! Ela entrou nos Jogos Olímpicos preparada para garantir uma medalha e esteve muito perto de o conseguir", referiu..Liliana dedica esta vitória à falecida mãe, aos dois filhos e ao seu treinador: "O Herédio ajudou-me mesmo muito. Disse-me que quando eu estivesse triste, para colocar toda a minha raiva no treino. Segui o seu conselho e as coisas foram melhorando.".Antes desta história de superação tinham já tinham ficado quatro anos em Inglaterra, que também não foram nada fáceis. "Ainda treinei um ano num clube, mas os treinadores eram pouco profissionais, não tinham grande exigência... No início, estudei Inglês para ter noções básicas do idioma e depois trabalhei nas limpezas", revelou..Yolanda Sequeira estreou-se na prova de surf com um honroso quinto lugar. Mas a vida nem sempre lhe sorriu. "Passei por algumas dificuldades ao longo da minha vida, que se agravaram no último ano e meio, devido à pandemia. Chegou a faltar-me dinheiro para comprar comida. Felizmente tive a ajuda de pequenas empresas que me têm apoiado e só assim consegui prosseguir com o surf. E também quero agradecer muito ao meu treinador [John Tranter], pois vivi algum tempo em casa dele sem pagar quaisquer despesas", contou é Yolanda Sequeira ao DN, ela que é filha de pai português e mãe galesa e que conseguiu um excelente quinto lugar na estreia do surf nos Jogos Olímpicos..Ainda assim, queria mais. "Sou muito competitiva e fui a Tóquio com a ideia de conquistar uma medalha. Não foi possível mas claro que tenho de me dar por satisfeita, pois consegui um diploma olímpico e bati a segunda melhor do mundo [a francesa Johanne Defay, segunda classificada do circuito mundial, na terceira ronda]", realçou..Criada em Vilamoura e Quarteira, o facto de ser filha de um pescador levou-a muito cedo para o mar. "Dizem que aos dois anos já sabia nadar. O primeiro desporto que pratiquei foi vela, mas não gostei muito, pois sentia que não tinha controlo sobre o mar. Depois, experimentei a natação e aos oito anos surgiu o surf. Mal coloquei os pés em cima de uma prancha, vi-me invadida por um sentimento de amor", disse..Durante anos a fio surfou nas praias ao redor de Vilamoura e Quarteira. Também ia para Portimão, mas em todas elas sentia que o mar era muito estático e que não estava a evoluir. Aos 18 anos, tudo mudou: "A partir dessa idade e durante três anos, realizei um campo de férias de dois meses em Sines. Saía de Vilamoura na sexta-feira à tarde, ia para Sines e regressava aos domingos ao fim da tarde. Senti que evoluí muito nesses tempos.".No mundo do surf continua a ser conhecida pelo apelido Hopkins, isto apesar de em 2019 ter deixado claro que gostaria de ser tratada por Sequeira. "Yolanda Hopkins não é um nome nada português e eu quero que as pessoas saibam que nasci em Portugal e que vivi cá toda a minha vida, filha de um pescador algarvio. Mais portuguesa do que isso é quase impossível!", atirou. Fora do surf, descreve-se como "uma pessoa calma". O posto do que acontece na competição: "Aí sinto que as pessoas até têm medo de mim!".A nadadora Ana Catarina Monteiro terminou a sua meia-final nos 200 metros mariposa na quinta posição, falhando o acesso à final. Ainda assim, o 11.º lugar alcançado foi o melhor resultado de sempre de uma nadadora portuguesa nos Jogos Olímpicos. E se alargamos o espectro para o setor masculino, ficou apenas atrás de Alexandre Yokochi, que foi sétimo e nono colocado em 1984 e 1988..A atleta de 27 anos ficou satisfeita com a sua prestação. "Claro que queria ter batido o recorde pessoal e o nacional dos 200 metros mariposa, mas chegar aos Jogos e passar a ser a segunda melhor portuguesa de sempre é algo que me deixa orgulhosa. E fiquei a um segundo e pouco do recorde nacional, por isso, se continuar a trabalhar da mesma forma sei que tenho muitas hipóteses de um dia lá chegar", disse ao DN..Ana Catarina Monteiro começou na modalidade com apenas 2 anos. "Eu era muito destemida e queria imitar em tudo o meu irmão, sete anos mais velho. Nomeadamente em mergulhos para a piscina. Para ficarem mais tranquilos quando íamos de férias, os meus pais decidiram inscrever-me na natação", recordou..Foi aos 11 anos que as coisas ficaram um pouco mais sérias: "Tinha ballet e natação e tive de optar por uma delas, pois já não dava para conciliar. Acabei por optar pela natação e nem sei bem porquê... lá está, talvez porque me divertia muito com os meus amigos. Em 2007, como juvenil, representei pela primeira vez a seleção nacional e adorei o espírito que todos tínhamos, de irmos batendo os recordes pessoais.".Em 2012, Ana Catarina Martins já era a segunda melhor nadadora nacional na sua categoria. No entanto, não conseguiu a qualificação para os Jogos Olímpicos de Londres desse ano nem para o Rio de Janeiro 2016. O prémio tão esperado surgiu para Tóquio 2020, mas só pôde ser concretizado um ano depois da data prevista, por culpa da covid-19. Mas garante que todo o esforço valeu a pena. "É verdade que não houve público e que todos os nadadores sentiram falta do barulho e do apoio vindo das bancadas antes do início das provas, mas só o facto de ter estado na Vila Olímpica, ao lado de tantos campeões... é sem dúvida uma experiência que guardarei com carinho até ao fim da minha vida", sublinhou..A atleta do Clube Fluvial Vilacondense já pensa nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. "Vou desfrutar ao máximo destes três anos de preparação e tentar uma prestação em cheio naqueles que deverão ser os meus últimos Jogos, pois depois tenho objetivos na minha vida pessoal que quero cumprir", concluiu..dnot@dn.pt