Liga Moche volta à Costa em jeito de celebração do surf nacional
Foi na Costa de Caparica que Marcos Anastácio, acabado de se sagrar campeão nacional após a derrota dos seus adversários, comemorou o título do pontão, agarrando nos testículos e gritando "toma" para o público na areia. Estávamos em meados dos anos 90 e, após a provocação em território rival, o surfista de Carcavelos viu-se praticamente obrigado a fugir dos locais pelas pedras. Foi também na Costa de Caparica, em 1996, que João Antunes tanto comemorou o seu título nacional que não tem qualquer memória da festa. A sua reação quando o DN lhe perguntou sobre essa noite em particular foi qualquer coisa semelhante à célebre frase do tempo dos hippies, cuja autoria é coincidentemente atribuída a várias figuras da época: If you can remember the 1960s, you weren"t really there.
Para passar por cima da corda que delimitava a zona de banhistas em pleno verão, foi na Costa de Caparica que, na década de 80, Alexandre Dapin, numa final contra Frei Tuck (alcunha que se deve ao seu excesso de peso em criança), fez pela primeira vez na história do surf nacional um ollie - talvez os primórdios da manobra que hoje conhecemos por aéreo. E com o público na areia de olhos em bico com o que acabava de ver, Frei Tuck, sem medo, repetiu a proeza.
Foi na Costa de Caparica que Eddie Vedder, vocalista da famosa banda de rock Pearl Jam, deu início a uma relação de carinho com Portugal e com os nossos surfistas locais. Em Lisboa para dar um concerto, decidiu ir até à Margem Sul para ver o mar. Por acaso foi parar a uma praia onde então decorria um campeonato de longboard e, tentado a molhar a cabeça, pediu uma prancha emprestada. Quem lhe fez esse favor foi, nem mais nem menos, Bruno Bubas Charneca, o primeiro wildcard português a eliminar Kelly Slater na primeira etapa do circuito mundial alguma vez realizada no nosso país (Figueira da Foz, 1996). Outros como Ruben Gonzalez e Frederico Morais alcançaram o mesmo feito e com isso um trauma na cabeça do 11 vezes campeão do mundo cada vez que tem de surfar contra atletas nacionais.
É na Costa de Caparica que começa hoje a segunda etapa da Liga Moche, um evento que, além de determinante na luta pelo título nacional, tem tudo para ser uma alegre e composta celebração do surf português. Algo que começou como uma coisa improvisada, amadora e até inconsciente, é agora um campeonato maduro e tido por muitos como o melhor da Europa. Por isso, não haverá surfistas como Rui Bessone, que, no início dos anos 90, sabotava a performance dos adversários metendo-lhes óleo nas pranchas, e disputas renhidas não vão faltar. Em cartaz estão: Tiago Pires, a dupla Vasco Ribeiro e Frederico Morais, que há cinco anos dominam a luta pelo título, João Antunes, local da Costa e antigo tricampeão nacional, e o filho Afonso, de 12 anos, bem como muitos outros.
Após a primeira etapa que decorreu no mês passado na Ericeira, Gony Zubizareta e Camilla Kemp lideram o ranking. Além da prova da Costa, mais três outras irão decorrer até outubro, altura em que se conhecerão os campeões.