Criticados pela atitude em relação ao regime de Vladimir Putin, o francês Emmanuel Macron, o alemão Olaf Scholz e o italiano Mario Draghi, representantes dos três países mais populosos e mais industrializados da União Europeia, fizeram uma viagem conjunta a Kiev para demonstrar todo o apoio à causa do país ocupado em parte pela Rússia. Enquanto os três líderes, a quem se juntou o presidente romeno Klaus Iohannis, visitavam a destruída Irpin e se reuniam com o presidente Volodymyr Zelensky, "numa mensagem de unidade europeia", Moscovo ameaçou com novo corte no fornecimento do gás..O chanceler alemão tem estado debaixo de fogo pela resposta hesitante e lenta às solicitações ucranianas; o presidente francês causou indignação por uma e outra vez não querer "humilhar Putin"; e o primeiro-ministro italiano apresentou uma proposta de paz que foi vista em Kiev como uma forma de pressão para fazer concessões territoriais. Além do mais, Scholz, Macron e Draghi não mostraram a iniciativa nem a coragem exibida pelos governantes da Polónia, Eslovénia e Rep. Checa há três meses, quando viajaram de comboio até à capital ucraniana e se lutava nos seus arredores..Em finais de abril, quando as visitas de alto nível começaram a suceder-se, Zelensky pediu para não lhe levarem "presentes nem bolos" mas "coisas específicas". A mensagem foi ouvida: o encontro dos quatro com o presidente ucraniano não se ficou pelo plano simbólico. Todos declararam estar de acordo com o estatuto de candidato "imediato" da Ucrânia à UE, depois de várias notícias que apontavam para divisões no campo europeu sobre a estratégia de alargamento. "Nós os quatro apoiamos o estatuto de candidato imediato" da Ucrânia à adesão ao clube europeu. "A Ucrânia pertence à família europeia", sintetizou Scholz..Este apoio de peso antecipou-se em horas à esperada recomendação favorável da Comissão Europeia ao estatuto de candidato. A decisão, porém, será tomada no Conselho Europeu dos dias 23 e 24, necessita de unanimidade entre os 27 países, e é feita ao mesmo tempo que os dossiês relativos à Moldávia e Geórgia. Segundo diplomatas ouvidos pelo site Politico, três países estavam contra. O estatuto de candidato é, sobretudo, um sinal, e o início de um caminho que, como advertiu Macron há semanas, pode "durar décadas"..Uma fonte diplomática francesa citada pela CNN disse que Paris defende "a restauração da integridade territorial em todos os territórios conquistados pelos russos, incluindo a Crimeia", uma clarificação às palavras de Macron: "Estamos com os ucranianos sem ambiguidade. A Ucrânia tem de resistir e vencer." O presidente francês, que durante a visita a Irpin se mostrou "emocionado" pela mensagem que leu num muro ("Façam a Europa e não a guerra"), prometeu a entrega de mais equipamento militar, em específico seis obuses de longo alcance CAESAR , no que foi secundado pelo chefe do governo alemão - com a diferença de que Berlim ainda não enviou qualquer material pesado, sejam tanques, sistemas de defesa antiaérea, ou obuses..O Kremlin reagiu à visita ao avisar os líderes europeus de que o envio de mais armas para a Ucrânia é "absolutamente inútil e causará mais danos ao país". Já o ex-presidente Medvedev classificou a visita de "admiradores de rãs, de salsichas de fígado e de esparguete" de "utilidade zero"..Twittertwitter1537362614715564033.Mais grave, mas não mais sério, o embaixador da Rússia na UE alertou que o gasoduto Nord Stream poderá deixar de funcionar devido a problemas de manutenção, ao que Draghi disse serem "mentiras". "O produto é nosso, as regras são nossas", afirmou o CEO da Gazprom Alexei Miller, como que a dar razão ao italiano. Alemanha, Áustria e Itália têm recebido gás em menor quantidade. Draghi acusou Moscovo de usar o gás natural como instrumento político, tal como está a fazer com os cereais ucranianos..cesar.avo@dn.pt