Liam Neeson, o bom malandro do costume

Em <em>Um Último Golpe</em>, Liam Neeson a fazer de Liam Neeson duro. Cinema de ação sem surpresas mas que é a grande estreia comercial destes tempos em que é raro encontrar cinema de Hollywood para o grande público.
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Na falta do efeito surpresa dos thrillers de Liam Neeson há algo com o qual o espetador pode sempre contar: precisamente o efeito do conforto "caseirinho" de se saber ao que se vai, neste caso, uma dose inofensiva de ação, heroísmo de um homem "maduro" e vilões algo rascas. Ou seja, no filme de Mark Williams (Um Homem de Família, drama que passou ao lado em 2016) está lá a tabuada toda da série B e dos filmes de pancadaria "mainstream". Neste caso, conta-se a história de um assaltante de bancos de bom coração que decide endireitar-se a partir do momento em que se apaixona perdidamente por uma psicóloga. Porém, quando pensa entregar-se ao FBI para ter uma pena leve depara-se com dois agentes corruptos que tentam despachá-lo e ficar com o dinheiro dos assaltos todos. É tempo então de deixar de ser um "ladrão honesto" e desmascarar os verdadeiros criminosos.

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Tal como na saga Taken e nos inúmeros filmes de ação onde se explora a dureza de Liam Neeson, Honest Thief vai direto ao assunto: criar entretenimento à base do carisma do ator irlandês, aqui de novo com uma personagem de solitário e jeitoso para a pancadaria e armação de bombas. É o tal "mais do mesmo", talvez aqui com uma falta de escala mais acentuada. As cenas de ação com dimensão de Hollywood são fraquinhas, as perseguições são mal encenadas e as próprias explosões denotam efeitos digitais "low-cost".

Ainda assim, o grande problema está no acumular de fatores inverosímeis da própria narrativa: as personagens competem entre si em decisões erradas e em estupidez humana. Para agravar, os atores secundários são quase todos erros de "casting", da insossa Kate Walch à falta de subtileza de Jay Courtney. Na volta é de propósito, apenas para fazer brilhar Neeson, que no "igual a si próprio" cumpre o que se pede, desta vez com uma lança mais romântica, afinal de contas, este é um anti-herói a pedir redenção por ter encontrado o amor depois dos 60 anos... Aos 68 deve ser um dos únicos que diz "vou ter de fazer isto à minha maneira" e não soar a ridículo.

Se é verdade que tudo isto parece uma repetição da fórmula Taken, também não é menos verdade que essa repetição é sempre abrigada de uma honestidade que não quer enganar ninguém. De alguma forma, a única tónica de novidade é que este cinema de ação está assumidamente mais "calmo" e até sentimentalão. Se não fosse a avalanche de esgares de adrenalina macho-macho francamente ridícula, Um Último Golpe até poderia ser um divertimento manso para fãs de Neeson. Nesta altura do campeonato, Liam Neeson está preso nesta ratoeira do herói engenhocas que arruma com tudo e com todos. Com pandemia ou sem pandemia, já tem pronto The Minuteman, onde sozinho protege um menino mexicano perseguido por um cartel mexicano...

** Com Interesse

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