Lenços vermelhos respondem nas ruas aos coletes amarelos
A chuva não demoveu cerca de 10.500 pessoas de desfilar em Paris pela "defesa da democracia e das instituições". À cabeça da marcha que ligou a praça da Nação à Bastilha a frase da ordem era "Sim à democracia, não à revolução". Ao contrário da manifestação do dia anterior, dos coletes amarelos, os participantes eram mais velhos, muitos deles apoiantes da República em Marcha (LREM), o partido de Emmanuel Macron.
"Queremos circular livremente, trabalhar livremente. Estou desempregada e todas as vagas a que me candidatei foram congeladas. Estou convencida de que temos de restituir o crescimento à França e não é bloqueando tudo que conseguiremos resolver o assunto", disse à AFP Myriam, de 52 anos, que viajou de Aix-en-Provence até à capital para denunciar a violência. "É totalitarismo: se não vestir o colete amarelo, não passa, se não assinar uma petição, não passa."
O grito "o fascismo não passará" foi muitas vezes ouvido na manifestação.
"Não quero ver o meu país transformar-se numa ditadura. Assistimos à ascensão de extremistas em toda a Europa, com chefes de Estado como Trump a querer ver a Europa dissolver-se", disse Christine, 63 anos, uma bancária reformada. "Compreendo que há problemas no final do mês (...) mas não podemos simplesmente sentarmo-nos na cadeira e esperar que a ajuda caia."
À chegada à Praça da Bastilha, os participantes foram recebidos por dezenas de coletes amarelos, com as faixas "A miséria de Macron" e "Já está tudo a arder", além de vaias e insultos.
Muitos dos lenços vermelhos dizem que partilharam algumas das exigências dos coletes amarelos, mas rejeitam a violência contra as instituições. Marie-Line, 62 anos, "não era contra a ideia original [dos coletes amarelos] de reclamar um pouco", mas a enfermeira de 62 anos diz que é tempo de parar com a violência.
Os manifestantes responderam ao "apelo à maioria silenciosa que está em suas casas há dez semanas", segundo as palavras do promotor da marcha, Laurent Soulié. Foi a partir da sua página no Facebook que este engenheiro de Toulouse lançou a ideia da marcha em meados de dezembro, antes de se juntar ao coletivo dos lenços vermelhos, nascido no final de novembro para protestar contra o bloqueio dos coletes amarelos.