Lavrov diz que hospital bombardeado em Mariupol era base de extremistas ucranianos
O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, justificou esta quinta-feira o bombardeamento de um hospital pediátrico na cidade ucraniana de Mariupol devido ao facto de o edifício servir de base para um grupo de extremistas ucranianos.
"Esta maternidade foi tomada há muito tempo pelo grupo Azov e outros radicais", declarou Lavrov, acrescentando que os pacientes e o pessoal médico e administrativo tinham sido expulsos do local por elementos daquele grupo.
Lavrov, que falava aos jornalistas após um encontro com o seu homólogo ucraniano na cidade turca de Antália, acusou "os meios de comunicação ocidentais" de apresentarem apenas "o ponto de vista ucraniano".
"Há uma 'russofobia' em todo o Ocidente dirigida pelos Estados Unidos", afirmou.
Segundo o ministro russo, o Governo de Moscovo apresentou documentos ao Conselho de Segurança da ONU, numa reunião realizada em março, que corroboram que este centro hospitalar estava nas mãos do grupo nacionalista extremista ucraniano Azov e de outras organizações radicais.
Três pessoas, incluindo uma criança, morreram no bombardeamento russo que atingiu na quarta-feira aquela infraestrutura de Mariupol, no leste da Ucrânia, anunciaram hoje as autoridades desta cidade portuária. Um relatório publicado na quarta-feira pelas autoridades ucranianas informou que outras 17 pessoas ficaram feridas no bombardeamento.
O ataque ao hospital provocou a indignação das autoridades ucranianas e ocidentais.
Desde que iniciou a guerra na Ucrânia, em 24 de fevereiro, a Rússia tem sempre desmentido que esteja a atacar infraestruturas civis e acusa as forças ucranianas de as utilizarem como escudos humanos.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que considerou o ataque um "crime de guerra", partilhou vídeos mostrando a destruição - após um ataque aéreo - do edifício que abrigava uma maternidade e um hospital pediátrico, em Mariupol, porto estratégico no Mar de Azov (sudeste).
No interior dos edifícios podem ser vistos destroços, folhas de papel e cacos de vidro espalhados pelo chão.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou já a fuga de mais de 2,1 milhões de pessoas para os países vizinhos - o êxodo mais rápido na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, e muitos países e organizações impuseram sanções à Rússia que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A guerra na Ucrânia, que entrou hoje no 14.º dia, provocou um número ainda por determinar de mortos e feridos, que poderá ser da ordem dos milhares, segundo várias fontes.
Embora admitindo que "os números reais são consideravelmente mais elevados", a ONU confirmou hoje a morte de pelo menos 516 civis, entre os quais 41 crianças.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, entretanto disse que o bombardeamento de hospitais ucranianos pelas forças russas, como aconteceu com uma maternidade em Mariupol, constitui "um crime de guerra" que não pode ficar impunes.
O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, avisou os países que estão a fornecer armas à Ucrânia para combater a Rússia de que serão responsabilizados pelas suas ações, que considerou perigosas.
"Os colegas estrangeiros, incluindo a UE [União Europeia], agem perigosamente entregando armas mortíferas à Ucrânia", disse Lavrov, citado pela agência turca Anadolu.
"Estes países estão a criar um perigo colossal, inclusive para eles próprios", disse Lavrov, mas sem ameaçar com retaliações, segundo a agência francesa AFP.
O chefe da diplomacia russa referiu-se, em particular, à entrega de mísseis terra-ar à Ucrânia, alertando para o risco de serem utilizados contra a "aviação civil".
"Para onde irão estes milhares de sistemas portáteis [de mísseis] terra-ar, é uma pergunta que fazemos aos nossos colegas da UE", disse Lavrov.
Em 17 julho de 2014, um míssil russo destruiu um avião comercial da Malásia quando sobrevoava a região ucraniana de Donetsk, provocando a morte das 298 pessoas que seguiam a bordo, num ataque atribuído às forças separatistas pró-russas.
Na conferência de imprensa, Lavrov desafiou as sanções decretadas contra a Rússia por ter invadido a Ucrânia, há duas semanas, afirmando que o país tem "mercado suficiente" para a sua energia".
"E sempre teremos", disse, citado pela agência espanhola EFE.
Lavrov acusou o Ocidente de "utilizar petróleo e gás como arma" contra a Rússia e disse que Moscovo "nunca o fez".
"O Ocidente está a tentar utilizar a Ucrânia para minar a nossa economia, mas não conseguirá", disse Lavrov.
O diplomata russo reiterou a sua opinião de que os Estados Unidos da América (EUA) lideram o Ocidente como um todo.
"Nunca mais vamos depender do Ocidente (...). Sabemos que nos trairá novamente, tal como trai os seus próprios valores", afirmou.