O aviso já havia sido feito no dia do corte da energia, levado a cabo pelos profissionais da EDP, e até ser posto em prática não foi preciso muito tempo: "Eles que apaguem. Nós só teremos o trabalho de voltar a ligar", disse à Lusa um morador que ficou sem energia em casa..E foi isso mesmo que aconteceu. Horas depois, uma a uma, as luzes foram-se acendendo, restabelecendo-se a eletricidade, de forma clandestina.."Mas estavam à espera de quê? Que as pessoas morram de fome, de frio, vivam na escuridão, vivam num buraco? Se nos quiserem meter já no buraco que façam já a sepultura", declarou outra moradora, que viu dois familiares ficarem privados de energia, sendo que um deles tem um filho deficiente.."É difícil entender que não temos dinheiro para comer, não temos dinheiro para viver, quanto mais para pagar a luz? Temos que nos desenrascar de alguma forma", prosseguiu..Este cenário de ilegalidade não é algo que agrade ou satisfaça os moradores do Bairro do Lagarteiro que, na maioria, mostra a vontade de "um dia, poder pagar a dívida".."São valores muito altos. Não estou a falar de meses em falta, mas sim de anos. Muitos anos. Acrescente agora os juros. Mas eu não peço perdão, peço sim ajuda", afirmou uma outra moradora.."Sou pobre, tenho muitas dificuldades mas não sou mais que ninguém. Tenho que cumprir as minhas obrigações mas ajudem-me de alguma forma porque sem ajuda nunca vou conseguir. Nem que seja a pagar cinco euros por mês e pago até morrer", disse ainda..Aos poucos e poucos a normalidade vai regressando ao Lagarteiro, "o bairro do fim do mundo, o bairro que não pertence a ninguém", conforme vários populares lhe chamaram. .A esperança, essa, é agora mais luminosa, mas sempre na incerteza de quando se vai voltar a apagar.