Poucas vezes, se alguma, a escolha do candidato para a vice-presidência dos Estados Unidos recebeu tanta atenção. Não é difícil de perceber porquê: para os adversários políticos de Donald Trump há um sentido de urgência, talvez não compreendido em 2016, para impedir a vitória do empresário que em funções presidenciais tanto faz publicidade a produtos como dissemina teorias da conspiração..Sendo esse argumento válido para a eleição presidencial no seu conjunto uma candidatura forte à vice-presidência pode ter o condão de chamar eleitorado renitente em votar no antigo vice-presidente de Barack Obama..Se Biden vencer as eleições terá 78 anos quando tomar posse. Ciente desse facto, o democrata disse que será um presidente de um mandato único. Pesando estes dados, por um lado, as probabilidades de o número dois ascender à presidência por impedimento ou morte são mais altas - o recorde de mais velho presidente eleito dos EUA pertence a Trump, com 70 anos; por outro, quem quer seja o companheiro de Biden, deverá fazer destes quatros anos a rampa de lançamento para a candidatura, em 2024, ao cargo principal..Em 44 presidentes dos Estados Unidos, 14 desempenharam antes o cargo de vice-presidente..Nunca uma mulher ocupou qualquer um desses cargos. Em março, com a corrida democrata limitada a Joe Biden e Bernie Sanders, ambos se comprometeram em escolher uma mulher para a equipa presidencial. "Muitas mulheres têm qualidades para serem presidentes no futuro. Vou escolher uma mulher como vice-presidente", anunciou Biden..Que qualidades? Segundo o próprio explicou noutra ocasião, é ser alguém preparado para assumir as funções presidenciais. "O mais importante - e de facto já falei com Barack sobre isto - o mais importante é que tem de ser alguém que, no dia seguinte à sua escolha, esteja preparado para ser presidente dos Estados Unidos da América se algo acontecer.".Independentemente da sua competência, uma mulher na vice-presidência é uma escolha lógica. Biden leva vantagem confortável sobre Trump entre as mulheres e a escolha de alguém do sexo feminino para a Casa Branca só reforça a sua posição..A resposta de Trump tem sido dirigida em específico às mulheres, ou como o próprio diz, às donas de casas dos subúrbios. "Biden irá destruir o seu bairro e o seu sonho americano. Irei preservá-lo, e torná-lo ainda melhor!", escreveu no Twitter na semana passada..Com a comoção causada pelo homicídio de George Floyd pela polícia, a questão do racismo sistémico passou para a ordem do dia. Muitos democratas assinalaram que a candidata à vice-presidência devia ser negra. A senadora do Minnesota e ex-candidata nas primárias Amy Klobuchar, depois de ter sido duramente criticada pelo movimento Black Lives Matter pelo seu passado de procuradora do condado de Hennepin, retirou-se de entre as possíveis escolhas de Biden e disse que era altura de "escolher uma pessoa de cor".Os especialistas em sondagens também concordam. Numa sondagem realizada para o Politico, 60% dos eleitores mais novos de estados decisivos consideram importante a escolha de uma candidata afro-americana. Como estes eleitores são a faixa que mais contribui para a abstenção, a ligação com uma candidatura, ainda que da vice-presidente, pode fazer a diferença.."Estes dados mostram claramente que uma mulher afro-americana seria algo em que se poderiam ver a votar neste boletim e a dar-lhes um estímulo", comentou o especialista em sondagens Cornell Belcher..Kamala é aposta preferida.A ex-candidata nas primárias e senadora pela Califórnia Kamala Harris é a grande favorita. Assim o diziam alguns comentadores e é o nome que lidera as probabilidades nas casas de apostas. Se já estava na frente, mas ficou quando a Associated Press fotografou as notas de Joe Biden na conferência de imprensa de terça-feira.."Não guardar rancor", "Fez campanha comigo e com Jill", "Talentosa", "Grande ajuda na campanha", "Enorme respeito por ela" eram os tópicos que se liam por baixo do nome de Harris. O suficiente para que no site de apostas Smarkets a probabilidade de a senadora ser a escolhida por Biden passasse de 33% para 60% - embora tenha caído entretanto para 41%..Para dar mais sal à história o Politico chegou a publicar (e foi depois apagado) um texto em que noticiava que Biden havia escolhido a senadora filha de jamaicano e de indiana no dia 1 de agosto, com quatro dias de antecedência..A admiração de Biden por Harris é conhecida. Em dezembro passado afirmou: "Ela é sólida. Ela própria pode um dia ser presidente. Ela pode ser a vice-presidente. Pode vir a ser uma juíza do Supremo Tribunal. Pode ser procuradora-geral. Ela tem uma enorme capacidade".."Seria uma honra, se me convidasse, e sinto-me honrada por fazer parte da conversa", disse Harris a Stephen Colbert, em junho. "Farei tudo o que estiver ao meu alcance, onde quer que esteja, para ajudar Joe Biden a vencer.".A ex-procuradora de 55 anos não é a escolha preferida do eleitorado de Bernie Sanders, que devido ao seu passado como procuradora, a chama de polícia. Mas também não é bem vista nalguns círculos do Partido Democrata, nos quais é considerada desleal..Bass e Rice.Nos últimos dias tem havido uma campanha de pressão contra a escolha de Harris, propondo em alternativa dois novos nomes: Susan Rice e Karen Bass..O facto de ter sido Kamala Harris a fazer o ataque mais demolidor a Biden durante os debates democratas deixou marcas. Foi noticiado que Chris Dodd, membro da equipa de avaliação para o cargo de vice-presidente, ter-se-á queixado a um doador por Harris não ter mostrado "nenhum remorso" depois de ter acusado Biden de se opor ao busing, a operação, iniciada nos anos 70, que consistia em transportar estudantes de autocarro para escolas mais distantes com o intuito de promover a desagregação racial..John Morgan, o mais famoso advogado da Florida e importante financiador da campanha, lamentou que Harris "estaria a concorrer à presidência no dia da tomada de posse"..Neste contexto surgiram notícias de que outras mulheres estariam a gerar uma onda de entusiasmo, com Susan Rice e Karen Bass à cabeça..O ex-governador da Pensilvânia defende uma "escolha muito segura": Bass. Porquê? "A regra número um para escolher o vice-presidente? Não ser prejudicial." Segundo a CNN, o nome de Bass ganhou força depois de a presidente da Câmara dos Representantes ter dito há semanas que não se devia subestimar o seu nome..Desde então, a secretária-geral da organização Congressional Black Caucus (CBC), tem ganhado adeptos, com doadores e influentes membros da Câmara dos Representantes a recomendarem a representante da Califórnia, de 66 anos, no lugar da senadora do mesmo estado. A primeira presidente afro-americana de uma assembleia estadual, entre 2008 e 2010, transitou para a Câmara dos Representantes, onde é respeitada no Congresso, embora não tenha a visibilidade de Kamala Harris.."As pessoas estão a coçar a cabeça e perguntar quem é esta mulher (...) Penso que é mais forte do que pensam", comentou à CNN um dos grandes financiadores dos democratas, Bill Westly.."Está concentrada em resolver as questões, e não acredita necessariamente que a sua função consista em atrair muita atenção dos media ou em chamar a atenção para si. Ela está muito mais empenhada em congregar as pessoas ou em trabalhar em conjunto para que as coisas sejam feitas", comentou o assessor político dos democratas Bill Carrick ao Vox..Susan Rice não é um nome recente na lista de Biden, mas recebeu um enorme impulso nas últimas semanas. Trabalhou na mesma equipa do candidato à Casa Branca entre 2013 e 2017 enquanto conselheira de segurança nacional de Barack Obama..Se Bass diz "ser muito surreal" e "uma honra" ver o seu nome falado para tal cargo, Rice não esconde - como Harris - a ambição de ser a escolhida. "Quer eu seja a sua companheira de corrida ou voluntária a bater às portas, não me importo", disse Rice, de 55 anos, à NBC. "Vou fazer tudo o que puder para ajudar a que Joe Biden seja eleito e para o ajudar a ter sucesso como presidente.".Especialista em relações internacionais e em questões de segurança, Rice também pode vir a desempenhar o cargo de secretária de Estado, um cargo que recusou após a saída de Hillary Clinton. Apesar de não ter qualquer responsabilidade no ataque ao consulado de Bengazi, na Líbia, que resultou na morte do embaixador e mais três pessoas, Rice foi acusada pelos republicanos de enganar os norte-americanos. Então embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Rice prestou declarações na TV com base nas informações recebidas da CIA, tendo afirmado que o ataque às instalações diplomáticas "não teria sido premeditado" -- o que mais tarde veio a saber-se que não era verdade..É de esperar que Rice, cuja experiência na Casa Branca remonta ao período de 1993 a 2001, onde chegou a ser secretária de Estado adjunta para os assuntos africanos, venha a ser novamente alvo dos republicanos caso seja a eleita..Nascida na capital, Susan Rice formou-se nas prestigiadas universidades de Stanford e Oxford e tem um currículo que se destaca das restantes candidatas. No entanto, como sinal menos o facto de nunca ter ido a votos. É uma diplomata, uma funcionária de topo, não é uma política, pelo que não tem laços especiais com os membros do partido nem com a comunidade..Noutras eleições esse fator podia ser impeditivo, mas com a pandemia a condicionar a campanha eleitoral, a inexperiência em comícios é um pormenor.."Se há uma pessoa que sabe que Susan Rice esteve na sala [de emergência, a situation room] e pode lidar com a pressão, é Joe Biden", disse o assessor de campanhas democratas Solis Doyle à NPR..A quarta negra.Joe Biden confirmou que na sua lista existem quatro mulheres negras, o que faz com que se especule sobre quem será a quarta. Há três nomes em perspetiva, e de uma forma grosseira dir-se ia que Stacey Abrams está em queda nas apostas, Val Demings mantém-se low profile e Keisha Lance Bottoms é o mais recente nome e está em ascensão..Lance Bottoms, de 50 anos, mayor de Atlanta, distingue-se por ter apoiado Biden desde a primeira hora. Com os protestos pela morte de George Floyd, e a morte às mãos da polícia de um homem negro de 27 anos, em junho, a autarca ordenou uma série de reformas para combater a violência policial e o uso desproporcionado de força..No mesmo estado, Stacey Abrams, de 46 anos, que falhou por pouco a corrida ao cargo de governador da Geórgia, não esconde o desejo de ser a escolhida. A ativista pelos direitos civis e contra as táticas de supressão de voto também apelaria aos eleitores jovens, progressistas e das minorias pelo seu discurso apaixonado. No entanto, o facto de a sua experiência se resumir a representante democrata no parlamento estadual (entre 2011 e 2017) é o seu grande handicap..Oriunda de um estado decisivo, a Florida, Val Demings foi eleita pela primeira vez para o Congresso em 2017. A sua notoriedade aumentou com o processo de destituição de Donald Trump: fez parte do grupo de sete procuradores do julgamento de Trump na Câmara dos Representantes. Ex-policia, Demings, de 63 anos, chegou a ser chefe da polícia de Orlando, entre 2007 e 2011.."Uma pessoa muito competente, muito capaz", disse Biden de Demings em maio..Outras minorias.Mas Joe Biden não tem apenas mulheres de pele escura na sua lista. E poderá escolher mulheres de outras minorias. Nesse caso, os nomes de que mais se fala são Tammy Duckworth e Michelle Lujan Grisham..Duckworth, de 52 anos, é filha de um militar norte-americano e de uma tailandesa, tendo seguido a carreira do pai, perdeu ambas as pernas na guerra do Iraque, em 2004. Eleita para o Senado pelo Ilinnois pela primeira vez em 2017, Duckworth foi a primeira senadora em exercício de funções a ser mãe (o que obrigou o Senado a mudar o regimento e a permitir a entrada de bebés)..Uma voz combativa, embora considerada por alguns pouco ponderada, ganhou a admiração do adversário republicano que perdeu as eleições, Tom Walsh.."Quando ela estiver a lutar por algo, seja um veterano ou um eleitor, saia do caminho", comentou o senador Dick Durbin. "Há ali uma pujança, tenho a certeza disso, porque já a vi. Quando somos a pessoa por quem ela advoga apreciamos essa intensidade.".Na mesma linha de uma escolha de uma mulher de uma minoria, outra escolha possível seria a de Michelle Lujan Grisham. Aos 60 anos, é governadora do Novo México, a primeira mulher latina a chefiar o executivo de um estado. Antes, como representante daquele estado, foi a secretária dos latinos eleitos no Congresso..Luja Grisham é uma conhecida opositora de Trump, em especial pelas suas políticas relacionadas com os migrantes. Tendo sido secretária da Saúde do estado do Novo México, foi dos governadores que de forma mais resoluta atacou a pandemia, ao aplicar medidas de confinamento antes dos outros..Ficou também chocada pela forma como Trump pôs os governadores em competição uns com os outros para conseguirem obter materiais de proteção e não escondeu o espanto. "Nunca nos meus sonhos mais loucos estaria a perder o meu tempo a encontrar materiais de teste, os fabricantes certos, zaragatoas, e equipamento de proteção pessoal", disse ao Washington Post..E ainda....A escolha de Joe Biden pode recair numa mulher que não pertença a minorias. Nesse caso, as maiores probabilidades recaem em Elizabeth Warren e em Gretchen Whitmer. A senadora e adversária de Biden é sobejamente conhecida dos norte-americanos, e desde muito cedo se especulou que poderia ser o par perfeito com Biden para apelar aos votantes mais à esquerda, mas o seu nome de Warren, de 71 anos, quase desapareceu após o clamor por uma escolha racial.."A representação é importante, mas [a escolha] não pode ser apenas sobre representação", disse o afro-americano Maurice Mitchell, dirigente do Partido das Famílias Trabalhadoras, um grupo progressista que endossou Warren para presidente..Por fim, mas não necessariamente em última, Gretchen Whitmer. É governadora (desde 2019) de um estado decisivo, o Michigan, e tal como Lujan Grisham atirou-se a Trump devido à política federal de combate ao covid-19..A sua oposição em entrevistas em canais nacionais deu-lhe popularidade para lá do seu estado. "As pessoas começam a pensar mais na liderança no topo, por isso vêem a liderança da governadora. Whitmer e do estado de Michigan, e agora interrogam-se se a mesma liderança de Washington tivesse existido, talvez não tivesse existido [surtos de coronavírus] noutros estados em julho, quase agosto", disse Shauna Ryder Diggs, do Comité Nacional Democrata à NPR..Seja quem for, a decisão é tomada por Biden com a mulher, Jill. Um amigo de longa data disse à CNN que se por acaso já a fez não disse a ninguém. "Mas conhecendo-o só vai tomar a decisão definitiva no último segundo."
Poucas vezes, se alguma, a escolha do candidato para a vice-presidência dos Estados Unidos recebeu tanta atenção. Não é difícil de perceber porquê: para os adversários políticos de Donald Trump há um sentido de urgência, talvez não compreendido em 2016, para impedir a vitória do empresário que em funções presidenciais tanto faz publicidade a produtos como dissemina teorias da conspiração..Sendo esse argumento válido para a eleição presidencial no seu conjunto uma candidatura forte à vice-presidência pode ter o condão de chamar eleitorado renitente em votar no antigo vice-presidente de Barack Obama..Se Biden vencer as eleições terá 78 anos quando tomar posse. Ciente desse facto, o democrata disse que será um presidente de um mandato único. Pesando estes dados, por um lado, as probabilidades de o número dois ascender à presidência por impedimento ou morte são mais altas - o recorde de mais velho presidente eleito dos EUA pertence a Trump, com 70 anos; por outro, quem quer seja o companheiro de Biden, deverá fazer destes quatros anos a rampa de lançamento para a candidatura, em 2024, ao cargo principal..Em 44 presidentes dos Estados Unidos, 14 desempenharam antes o cargo de vice-presidente..Nunca uma mulher ocupou qualquer um desses cargos. Em março, com a corrida democrata limitada a Joe Biden e Bernie Sanders, ambos se comprometeram em escolher uma mulher para a equipa presidencial. "Muitas mulheres têm qualidades para serem presidentes no futuro. Vou escolher uma mulher como vice-presidente", anunciou Biden..Que qualidades? Segundo o próprio explicou noutra ocasião, é ser alguém preparado para assumir as funções presidenciais. "O mais importante - e de facto já falei com Barack sobre isto - o mais importante é que tem de ser alguém que, no dia seguinte à sua escolha, esteja preparado para ser presidente dos Estados Unidos da América se algo acontecer.".Independentemente da sua competência, uma mulher na vice-presidência é uma escolha lógica. Biden leva vantagem confortável sobre Trump entre as mulheres e a escolha de alguém do sexo feminino para a Casa Branca só reforça a sua posição..A resposta de Trump tem sido dirigida em específico às mulheres, ou como o próprio diz, às donas de casas dos subúrbios. "Biden irá destruir o seu bairro e o seu sonho americano. Irei preservá-lo, e torná-lo ainda melhor!", escreveu no Twitter na semana passada..Com a comoção causada pelo homicídio de George Floyd pela polícia, a questão do racismo sistémico passou para a ordem do dia. Muitos democratas assinalaram que a candidata à vice-presidência devia ser negra. A senadora do Minnesota e ex-candidata nas primárias Amy Klobuchar, depois de ter sido duramente criticada pelo movimento Black Lives Matter pelo seu passado de procuradora do condado de Hennepin, retirou-se de entre as possíveis escolhas de Biden e disse que era altura de "escolher uma pessoa de cor".Os especialistas em sondagens também concordam. Numa sondagem realizada para o Politico, 60% dos eleitores mais novos de estados decisivos consideram importante a escolha de uma candidata afro-americana. Como estes eleitores são a faixa que mais contribui para a abstenção, a ligação com uma candidatura, ainda que da vice-presidente, pode fazer a diferença.."Estes dados mostram claramente que uma mulher afro-americana seria algo em que se poderiam ver a votar neste boletim e a dar-lhes um estímulo", comentou o especialista em sondagens Cornell Belcher..Kamala é aposta preferida.A ex-candidata nas primárias e senadora pela Califórnia Kamala Harris é a grande favorita. Assim o diziam alguns comentadores e é o nome que lidera as probabilidades nas casas de apostas. Se já estava na frente, mas ficou quando a Associated Press fotografou as notas de Joe Biden na conferência de imprensa de terça-feira.."Não guardar rancor", "Fez campanha comigo e com Jill", "Talentosa", "Grande ajuda na campanha", "Enorme respeito por ela" eram os tópicos que se liam por baixo do nome de Harris. O suficiente para que no site de apostas Smarkets a probabilidade de a senadora ser a escolhida por Biden passasse de 33% para 60% - embora tenha caído entretanto para 41%..Para dar mais sal à história o Politico chegou a publicar (e foi depois apagado) um texto em que noticiava que Biden havia escolhido a senadora filha de jamaicano e de indiana no dia 1 de agosto, com quatro dias de antecedência..A admiração de Biden por Harris é conhecida. Em dezembro passado afirmou: "Ela é sólida. Ela própria pode um dia ser presidente. Ela pode ser a vice-presidente. Pode vir a ser uma juíza do Supremo Tribunal. Pode ser procuradora-geral. Ela tem uma enorme capacidade".."Seria uma honra, se me convidasse, e sinto-me honrada por fazer parte da conversa", disse Harris a Stephen Colbert, em junho. "Farei tudo o que estiver ao meu alcance, onde quer que esteja, para ajudar Joe Biden a vencer.".A ex-procuradora de 55 anos não é a escolha preferida do eleitorado de Bernie Sanders, que devido ao seu passado como procuradora, a chama de polícia. Mas também não é bem vista nalguns círculos do Partido Democrata, nos quais é considerada desleal..Bass e Rice.Nos últimos dias tem havido uma campanha de pressão contra a escolha de Harris, propondo em alternativa dois novos nomes: Susan Rice e Karen Bass..O facto de ter sido Kamala Harris a fazer o ataque mais demolidor a Biden durante os debates democratas deixou marcas. Foi noticiado que Chris Dodd, membro da equipa de avaliação para o cargo de vice-presidente, ter-se-á queixado a um doador por Harris não ter mostrado "nenhum remorso" depois de ter acusado Biden de se opor ao busing, a operação, iniciada nos anos 70, que consistia em transportar estudantes de autocarro para escolas mais distantes com o intuito de promover a desagregação racial..John Morgan, o mais famoso advogado da Florida e importante financiador da campanha, lamentou que Harris "estaria a concorrer à presidência no dia da tomada de posse"..Neste contexto surgiram notícias de que outras mulheres estariam a gerar uma onda de entusiasmo, com Susan Rice e Karen Bass à cabeça..O ex-governador da Pensilvânia defende uma "escolha muito segura": Bass. Porquê? "A regra número um para escolher o vice-presidente? Não ser prejudicial." Segundo a CNN, o nome de Bass ganhou força depois de a presidente da Câmara dos Representantes ter dito há semanas que não se devia subestimar o seu nome..Desde então, a secretária-geral da organização Congressional Black Caucus (CBC), tem ganhado adeptos, com doadores e influentes membros da Câmara dos Representantes a recomendarem a representante da Califórnia, de 66 anos, no lugar da senadora do mesmo estado. A primeira presidente afro-americana de uma assembleia estadual, entre 2008 e 2010, transitou para a Câmara dos Representantes, onde é respeitada no Congresso, embora não tenha a visibilidade de Kamala Harris.."As pessoas estão a coçar a cabeça e perguntar quem é esta mulher (...) Penso que é mais forte do que pensam", comentou à CNN um dos grandes financiadores dos democratas, Bill Westly.."Está concentrada em resolver as questões, e não acredita necessariamente que a sua função consista em atrair muita atenção dos media ou em chamar a atenção para si. Ela está muito mais empenhada em congregar as pessoas ou em trabalhar em conjunto para que as coisas sejam feitas", comentou o assessor político dos democratas Bill Carrick ao Vox..Susan Rice não é um nome recente na lista de Biden, mas recebeu um enorme impulso nas últimas semanas. Trabalhou na mesma equipa do candidato à Casa Branca entre 2013 e 2017 enquanto conselheira de segurança nacional de Barack Obama..Se Bass diz "ser muito surreal" e "uma honra" ver o seu nome falado para tal cargo, Rice não esconde - como Harris - a ambição de ser a escolhida. "Quer eu seja a sua companheira de corrida ou voluntária a bater às portas, não me importo", disse Rice, de 55 anos, à NBC. "Vou fazer tudo o que puder para ajudar a que Joe Biden seja eleito e para o ajudar a ter sucesso como presidente.".Especialista em relações internacionais e em questões de segurança, Rice também pode vir a desempenhar o cargo de secretária de Estado, um cargo que recusou após a saída de Hillary Clinton. Apesar de não ter qualquer responsabilidade no ataque ao consulado de Bengazi, na Líbia, que resultou na morte do embaixador e mais três pessoas, Rice foi acusada pelos republicanos de enganar os norte-americanos. Então embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Rice prestou declarações na TV com base nas informações recebidas da CIA, tendo afirmado que o ataque às instalações diplomáticas "não teria sido premeditado" -- o que mais tarde veio a saber-se que não era verdade..É de esperar que Rice, cuja experiência na Casa Branca remonta ao período de 1993 a 2001, onde chegou a ser secretária de Estado adjunta para os assuntos africanos, venha a ser novamente alvo dos republicanos caso seja a eleita..Nascida na capital, Susan Rice formou-se nas prestigiadas universidades de Stanford e Oxford e tem um currículo que se destaca das restantes candidatas. No entanto, como sinal menos o facto de nunca ter ido a votos. É uma diplomata, uma funcionária de topo, não é uma política, pelo que não tem laços especiais com os membros do partido nem com a comunidade..Noutras eleições esse fator podia ser impeditivo, mas com a pandemia a condicionar a campanha eleitoral, a inexperiência em comícios é um pormenor.."Se há uma pessoa que sabe que Susan Rice esteve na sala [de emergência, a situation room] e pode lidar com a pressão, é Joe Biden", disse o assessor de campanhas democratas Solis Doyle à NPR..A quarta negra.Joe Biden confirmou que na sua lista existem quatro mulheres negras, o que faz com que se especule sobre quem será a quarta. Há três nomes em perspetiva, e de uma forma grosseira dir-se ia que Stacey Abrams está em queda nas apostas, Val Demings mantém-se low profile e Keisha Lance Bottoms é o mais recente nome e está em ascensão..Lance Bottoms, de 50 anos, mayor de Atlanta, distingue-se por ter apoiado Biden desde a primeira hora. Com os protestos pela morte de George Floyd, e a morte às mãos da polícia de um homem negro de 27 anos, em junho, a autarca ordenou uma série de reformas para combater a violência policial e o uso desproporcionado de força..No mesmo estado, Stacey Abrams, de 46 anos, que falhou por pouco a corrida ao cargo de governador da Geórgia, não esconde o desejo de ser a escolhida. A ativista pelos direitos civis e contra as táticas de supressão de voto também apelaria aos eleitores jovens, progressistas e das minorias pelo seu discurso apaixonado. No entanto, o facto de a sua experiência se resumir a representante democrata no parlamento estadual (entre 2011 e 2017) é o seu grande handicap..Oriunda de um estado decisivo, a Florida, Val Demings foi eleita pela primeira vez para o Congresso em 2017. A sua notoriedade aumentou com o processo de destituição de Donald Trump: fez parte do grupo de sete procuradores do julgamento de Trump na Câmara dos Representantes. Ex-policia, Demings, de 63 anos, chegou a ser chefe da polícia de Orlando, entre 2007 e 2011.."Uma pessoa muito competente, muito capaz", disse Biden de Demings em maio..Outras minorias.Mas Joe Biden não tem apenas mulheres de pele escura na sua lista. E poderá escolher mulheres de outras minorias. Nesse caso, os nomes de que mais se fala são Tammy Duckworth e Michelle Lujan Grisham..Duckworth, de 52 anos, é filha de um militar norte-americano e de uma tailandesa, tendo seguido a carreira do pai, perdeu ambas as pernas na guerra do Iraque, em 2004. Eleita para o Senado pelo Ilinnois pela primeira vez em 2017, Duckworth foi a primeira senadora em exercício de funções a ser mãe (o que obrigou o Senado a mudar o regimento e a permitir a entrada de bebés)..Uma voz combativa, embora considerada por alguns pouco ponderada, ganhou a admiração do adversário republicano que perdeu as eleições, Tom Walsh.."Quando ela estiver a lutar por algo, seja um veterano ou um eleitor, saia do caminho", comentou o senador Dick Durbin. "Há ali uma pujança, tenho a certeza disso, porque já a vi. Quando somos a pessoa por quem ela advoga apreciamos essa intensidade.".Na mesma linha de uma escolha de uma mulher de uma minoria, outra escolha possível seria a de Michelle Lujan Grisham. Aos 60 anos, é governadora do Novo México, a primeira mulher latina a chefiar o executivo de um estado. Antes, como representante daquele estado, foi a secretária dos latinos eleitos no Congresso..Luja Grisham é uma conhecida opositora de Trump, em especial pelas suas políticas relacionadas com os migrantes. Tendo sido secretária da Saúde do estado do Novo México, foi dos governadores que de forma mais resoluta atacou a pandemia, ao aplicar medidas de confinamento antes dos outros..Ficou também chocada pela forma como Trump pôs os governadores em competição uns com os outros para conseguirem obter materiais de proteção e não escondeu o espanto. "Nunca nos meus sonhos mais loucos estaria a perder o meu tempo a encontrar materiais de teste, os fabricantes certos, zaragatoas, e equipamento de proteção pessoal", disse ao Washington Post..E ainda....A escolha de Joe Biden pode recair numa mulher que não pertença a minorias. Nesse caso, as maiores probabilidades recaem em Elizabeth Warren e em Gretchen Whitmer. A senadora e adversária de Biden é sobejamente conhecida dos norte-americanos, e desde muito cedo se especulou que poderia ser o par perfeito com Biden para apelar aos votantes mais à esquerda, mas o seu nome de Warren, de 71 anos, quase desapareceu após o clamor por uma escolha racial.."A representação é importante, mas [a escolha] não pode ser apenas sobre representação", disse o afro-americano Maurice Mitchell, dirigente do Partido das Famílias Trabalhadoras, um grupo progressista que endossou Warren para presidente..Por fim, mas não necessariamente em última, Gretchen Whitmer. É governadora (desde 2019) de um estado decisivo, o Michigan, e tal como Lujan Grisham atirou-se a Trump devido à política federal de combate ao covid-19..A sua oposição em entrevistas em canais nacionais deu-lhe popularidade para lá do seu estado. "As pessoas começam a pensar mais na liderança no topo, por isso vêem a liderança da governadora. Whitmer e do estado de Michigan, e agora interrogam-se se a mesma liderança de Washington tivesse existido, talvez não tivesse existido [surtos de coronavírus] noutros estados em julho, quase agosto", disse Shauna Ryder Diggs, do Comité Nacional Democrata à NPR..Seja quem for, a decisão é tomada por Biden com a mulher, Jill. Um amigo de longa data disse à CNN que se por acaso já a fez não disse a ninguém. "Mas conhecendo-o só vai tomar a decisão definitiva no último segundo."