Justin Bieber ainda clama por redenção
Os ponteiros do relógio ainda não apontavam as nove horas da noite quando Justin Bieber surge dos céus dentro de uma jaula de vidro. Enclausurado enquanto cantava Mark My Words, sob o olhar atento das mais de 18 mil pessoas que esgotaram há mais de um ano o concerto que assinalou o regresso do cantor à MEO Arena, em Lisboa, três anos depois da sua estreia em palcos portugueses.
"Mark my words, that"s all that I have", cantava Bieber, um tema que é claramente de redenção e na verdade toda a postura do músico em palco corrobora com essa necessidade que tem vindo a mostrar desde que em 2015 regressou à música, depois de uma pausa mediática que se sucedeu a um mar de acontecimentos controversos que fizeram as delícias da imprensa mais sensacionalista.
Os poucos momentos em que interagiu com o público vão ao encontro desse clamar por redenção, que teve o seu auge antes do primeiro encore, com Purpose, a canção que dá título ao álbum que editou há sensivelmente um ano e que o transformou numa estrela pop que vai muito além do fenómeno puramente juvenil.
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No entanto, o público que o admira com devoção não parece sentir qualquer necessidade de redimir Bieber. Basta a sua presença física para que tudo fique ganho. O próprio tem essa consciência, ou não se preocupasse minimamente em muitos momentos fingir sequer que cantava por cima da sua voz pré-gravada, mais preocupado em acompanhar a sua trupe de dançarinos e a caminhar pelo palco no meio de um espetáculo grandioso.
Bieber parece viver num impasse, entre o artista que provavelmente quer ser e a imagem que os fãs que o acompanham há já seis anos lhe impõem, mesmo que inconscientemente. No entanto, se em muitas alturas foi notório que a voz que se ouvia já estava gravada, por outro, quando quis mostrou o que valia sem distrações ou aparatos. Por exemplo, após fazer a festa ao som de Boyfriend (do álbum Believe, de 2012), surgiu um sofá no centro do palco e munido somente de uma guitarra Bieber cantou em versões despidas de efeitos os temas Cold Water (original dos Major Lazer, que conta com a sua participação) e Love Yourself (um dos singles mais celebrados de Purpose). O mesmo aconteceu na reta final do concerto, com a balada Life is Worth Living, onde provou que se não cantou sempre durante todo o espetáculo, isso não se prende com falta de capacidades vocais.
A produção que trouxe até Lisboa é verdadeiramente grandiosa. Basta referir que só para o concerto de Portugal Bieber veio com uma equipa de 200 pessoas, 27 camiões TIR e 11 autocarros de digressão. Não faltam jogos de luzes imponentes, um trabalho intrincado em torno de ecrãs e vídeos espalhados pelo palco, lasers, plataformas que se elevavam, fogo-de-artifício e até um palco suspenso que não era mais um trampolim gigante no qual Bieber pôde dar azo às suas acrobacias, durante a canção Company, do último disco.
Aliás, Purpose foi interpretado praticamente na íntegra, não faltando inclusivamente The Feeling, No Sense e No Pressure, cujos convidados originais, Halsey, Travi$ Scott e Big Sean, surgiram nos ecrãs gigantes.
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Ainda que por vezes transmitisse alguma distância emocional, essa foi interrompida em momentos como Children, durante a qual dançou com um grupo de crianças fãs da sua música e com quem partilhou momentos de afeição que no quadro geral servem, obviamente, para destacar uma emotividade que nem sempre era destacada.
No entanto, o público que encheu a MEO Arena estava conquistado à partida e seria muito difícil não sair da sala plenamente conquistado. O entusiasmo era tal que um fã, mesmo no final do espetáculo, ainda conseguiu subir ao palco, mas rapidamente foi travado pelos seguranças presentes.
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A despedida fez-se ao som de Sorry, numa festa épica e que reforçou o potencial de estrela pop que Justin Bieber tem. Basta querer sê-lo.