Uma procuradora sucede a uma procuradora-geral da República. O Ministério da Justiça nos últimos governos tem sido dirigido por mulheres - com exceção para o executivo de Passos Coelho que antecedeu a geringonça e durou menos de um mês. Quer isto dizer que as mulheres estão em maioria no setor? Estão e de que maneira - são já cerca de 60 por cento dos efetivos do Ministério Público e da magistratura judicial. Neste último caso, dominam os tribunais mas ainda estão longe dos cargos de topo. Mas é apenas uma questão de tempo..E se a Joana Marques Vidal sucedeu Lucília Gago na Procuradora Geral da República, se a Paula Teixeira da Cruz sucedeu Francisca Van Dunem no ministério (excetuando a breve passagem de Fernando Negrão), já houve alturas em que até os advogados eram liderados por uma mulher, Elina Fraga. Três mulheres foram simultaneamente os rostos da Justiça..A democratização do ensino superior e a abertura da profissão que até ao 25 de Abril estava vedada às mulheres pode ajudar a explicar o fenómeno. Nas faculdades de direito, o número de estudantes do sexo feminino ultrapassa em larga margem os do sexo masculino..[HTML:html|Mulheres.html|640|690].Líderes no Ministério Público.O Ministério Público é o setor da Justiça onde as mulheres estão em larga maioria. Quase 62% do total de 1645 procuradores são do sexo feminino - 1019 mulheres e 626 homens. Quando é feita a combinação da idade com o género, concluiu-se que as mulheres estão em grande número nas idades inferiores a 55 anos e, de forma particularmente intensa, nos grupos etários de 31-35 anos, 36-40 e 41-45. Como a própria procuradoria-geral da República refere no Quadro Estatístico dos Magistrados 2018, estas faixas etárias correspondem à idade fértil, "circunstância que explica o facto de muitas das ausências prolongadas se traduzirem em licença parental/gravidez de risco"..António Ventinhas, presidente do Sindicato dos Magistrado do Ministério Público, graceja com o facto: "Temos que pensar em arranjar quotas para os homens." E recusa que as magistradas do MP não cheguem a lugares cimeiros: "Temos uma procuradora-geral, as procuradoras distritais de Lisboa e Porto são mulheres... não me parece que não cheguem a lugares de topo.".É também do Ministério Público, pela natureza mais ou menos mediática dos casos que investigam, que algumas procuradoras se tornam conhecidas do grande público. Exemplos: Maria José Morgado está atualmente a liderar a Procuradoria-geral Distrital de Lisboa (cargo já ocupado pela própria ministra da Justiça), Cândida Almeida foi diretora do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP). O Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa (DIAP) é dirigido por Fernanda Pêgo. Auristela Pereira, por exemplo, coordena a 9.ª secção do DIAP de Lisboa que investiga a criminalidade complexa e o crime financeiro e Cândida Vilar tem a seu cargo o crime especialmente violento. No Porto, a Procuradoria-geral Distrital é liderada por Maria Raquel Desterro..Tribunais no feminino.Na magistratura judicial, que tem 1931 juízes no ativo, a situação não é diferente: 1147 mulheres contra 788 homens, ou seja, cerca de 59%, de acordo com dados do Conselho Superior da Magistratura. Em exercício nos tribunais judiciais, há 917 mulheres, enquanto os homens são menos de metade (429). No entanto, se a análise incidir nos juízes que ocupam cargos de desembargadores e conselheiros, o panorama já um pouco diferente..Amélia Catarino, em Lisboa, é uma das oito juízas que presidem a oito das 23 comarcas do país. Na sua opinião, a feminização das magistraturas é o reflexo do que acontece nas mais variadas profissões. Mas faz questão de frisar que se "as mulheres dominam isso só acontece em sentido numérico". Porque a maioria dos desembargadores e conselheiros são homens. De facto, há atualmente no ativo 277 desembargadores homens e 181 mulheres; nos conselheiros, eles são 51 e elas apenas 15..Mas a presidente da Comarca de Lisboa entende que "é uma questão de tempo". A predominância masculina nas relações e tribunais superiores acontece porque são os mais velhos. Com o passar dos anos, as mulheres subirão obrigatoriamente na hierarquia..As comarcas presididas por mulheres são Lisboa; Lisboa Norte, Lisboa Oeste, Porto Este, Viseu, Coimbra, Guarda e Portalegre..A preferência pelo MP.Antes de passarem para os tribunais, os magistrados judiciais e procuradores fazem uma formação no Centro de Estudos Judiciários, que tem vindo a fazer a caracterização sociológica dos formandos, auditores de justiça. O curso, que começou em 2017 e termina em 2019, é frequentado por 89 mulheres e 37 homens..Se analisarmos por género e área da magistratura que estão a estudar, verifica-se que 61 mulheres querem seguir a carreira no Ministério Público e só 28 preferem a magistratura judicial..Uma das razões para a preferência feminina pelo Ministério Público pode ser, segundo António Ventinhas, as questões sociais. Porque concorda que poderão ser mais sensíveis a questões, por exemplo, como a violência doméstica..Já Amélia Catarino considera que "eventualmente a maioria delas gostaria de ser advogada e o Ministério Público é a magistratura que mais se aproxima porque tem uma componente de investigação na parte criminal e na cível da defesa dos direitos."