Juros da dívida portuguesa são os que mais pesam na zona euro

Portugal é o único país do euro que não consegue baixar a fatia de juros em 2017, apesar de o valor ser inferior ao da Grécia ou Itália
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A economia portuguesa vai entregar, no próximo ano, 4,3% do produto interno bruto (PIB) apenas para saldar juros da dívida pública. São mais de oito mil milhões de euros que, em termos relativos, não encontram paralelo entre os países da moeda única. Portugal lidera o ranking, e com bastante vantagem.

De acordo com os vários planos orçamentais para 2017 agora entregues nos serviços da Comissão Europeia, e consultados pelo DN/Dinheiro Vivo, o valor mais próximo de Portugal quanto ao nível de riqueza hipotecada pelos juros da dívida é o previsto pela Itália, ainda assim 0,6 pontos abaixo do fardo português. Isto apesar de a dívida italiana (132,6% do PIB) até ser superior à portuguesa (128,3%).

O governo de Matteo Renzi prevê enfrentar no próximo ano uma despesa de 3,7% do PIB com juros. A dívida pública deverá chegar aos 132,6% no final de 2017 - menos 0,2 pontos do que em 2016 -, mas com uma taxa de juro implícita inferior à portuguesa, Roma acaba por pagar menos. Os italianos apresentam um juro implícito de 2,9% que, no caso de Lisboa, chega aos 3,5%.

Na mesma situação que os italianos em relação a Portugal estão os gregos, que ocupam o lugar de bronze neste ranking de custos com credores. O executivo de Alexis Tsipras calcula desembolsar no próximo ano uma fatura com juros 1,1 pontos abaixo da que será apresentada aos contribuintes portugueses. Serão 3,2% do PIB, depois de este ano a despesa ter sido de 3,3%.

Os gregos, apesar de não terem entregado o seu plano orçamental em Bruxelas - estão isentos porque ainda estão sob resgate -, já têm o Orçamento para o próximo ano disponível no site do seu Ministério das Finanças. Mas este é um caso específico: a dívida helénica não só já foi alvo de uma reestruturação significativa como viu grande parte dos juros serem diferidos a partir de 2013, o que, porém, acabará por elevar a fatura a médio e longo prazo.

São estas facilidades concedidas à gestão da dívida grega que explicam que Atenas pague menos juros do que Lisboa - em 2017 mas também nos últimos anos, aliás. Para se ter uma ideia do impacto destas facilidades nas contas gregas, note-se que em 2012 a Grécia gastava 6,3% da sua riqueza só com os juros da dívida pública.

Mas além de os contribuintes portugueses serem os que mais vão pagar em juros no próximo ano entre os países do euro, realce também para o facto de a economia portuguesa ser das poucas que não conseguem reduzir este fardo em 2017. No documento entregue em Bruxelas, Mário Centeno, ministro das Finanças, aponta para um gasto com juros de 4,3% do PIB tanto em 2016 como em 2017.

Portugal faz assim parte do pequeno grupo países da moeda única que não conseguem baixar a riqueza hipotecada em juros no próximo ano em relação a 2016. Apesar de contar com a companhia de outros quatro países neste grupo, a verdade é que há uma diferença significativa entre Portugal e os restantes: nenhum deles gasta sequer 2% do PIB em juros. Nesta situação, e além de Portugal, estão França (1,8%), Luxemburgo (0,4%), Estónia (0,1%) e Alemanha (1,25%). Já os restantes 14 países do euro conseguem todos baixar o peso dos juros da dívida.

Com este movimento generalizado de redução dos encargos com a dívida, também o peso médio dos juros entre os 19 países vai recuar. Se neste ano cada país enfrenta em média um custo de 2,07% do PIB, no próximo ano o peso dos juros recua para 1,94%. Ora como Portugal prevê pagar o mesmo em 2016 e em 2017 - os tais 4,3% -, então o esforço enfrentado pelos portugueses em comparação com os restantes europeus vai ficar maior. Os portugueses vão gastar mais 2,36 pontos do PIB em juros em relação à média - contra os 2,23 pontos de diferença em 2016.

Para este cenário contribui o facto de a taxa de juro implícita à dívida portuguesa em 2017 ser a mais elevada do euro - de 3,5% como a de Malta -, como a única que não baixa face a 2016, algo que apenas se verifica também com Chipre.

Os planos orçamentais da zona euro entregues em Bruxelas - a maioria dos quais em língua inglesa, como o português, mas nem todos - serão avaliados nas próximas semanas por Bruxelas, que irá pronunciar-se em novembro.

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