Juiz espanhol quis proibir imprensa europeia de publicar notícias da investigação Football Leaks
Um juiz espanhol decidiu proibir o diário El Mundo de publicar quaisquer notícias relacionadas com a investigação Football Leaks, alegando mesmo que o diretor do diário pode ser sujeito a uma pena de cinco anos de prisão se continuar a fazê-lo.
O objetivo do juiz de Madrid, Arturo Zamarriego, era mesmo o de proibir todos os meios de comunicação europeus, que fazem parte do consórcio European Investigative Collaborations (e do qual faz parte o semanário português Expresso), de publicar informação relativa a este caso, por considerar que poderiam ser divulgados dados de caráter pessoal que tinham sido obtidos ilegalmente.
O recurso à justiça para impedir a publicação de notícias sobre o caso foi iniciativa da Senn Ferrero, empresa especializada na assessoria em matéria legal, fiscal e laboral de desportistas, com sede em Madrid. Um dos responsáveis da firma alega que houve subtração de documentos dos servidores da Senn Ferrero, pelo que a informação teria sido obtida ilegalmente. Mas esta versão é contrariada pelo consórcio de jornalistas de investigação, que diz ter tido acesso aos 18,6 milhões de documentos - entre contratos, e-mails e folhas de cálculo - antes desse alegado ataque informático.
O juiz Zamarriego foi o único, em toda a Europa, que decidiu proibir a publicação das informações - que indicam que vários futebolistas e treinadores, inclusivamente portugueses, colocaram dinheiro em paraísos fiscais e participaram em esquemas de evasão fiscal. Os Repórteres Sem Fronteiras já condenaram a decisão do juiz, de aceitar a providência cautelar interposta pela empresa, considerando-a um ataque sem precedentes à liberdade de imprensa.
Em Portugal, as informações têm sido publicadas pelo semanário Expresso, que faz parte do consórcio europeu de jornalistas de investigação. E o governo espanhol já admitiu que irá investigar as informações avançadas pela investigação Football Leaks, que dizem respeito a jogadores bem conhecidos dos portugueses: Pepe e Fábio Coentrão, que jogam no Real Madrid, terão iludido a agência tributária espanhola, sem declararem receitas dos direitos de imagem que desviavam para sociedades nas Ilhas Virgens ou no Panamá. Já José Mourinho terá declarado gastos fictícios superiores a um milhão de euros e Cristiano Ronaldo terá desviado 150 milhões para as Ilhas Virgens.