A primeira apresentação, em jeito de teste, foi em setembro, num concerto no Teatro Maria Matos, em Lisboa, e não poderia ter corrido melhor. Afinal, o registo mais intimista e cantautoral a que JP Simões habituou os fãs nos últimos anos não poderia ser mais distante desta nova encarnação de Bloom, o alter ego anglo-saxónico do músico, agora novamente recuperado no novo disco Drafty Moon, já disponível em versão física e digital. "Essa primeira apresentação correu muito bem. Mesmo sabendo que a maior parte do público era composta por amigos, senti que as pessoas bateram palmas com muita força. Mas se calhar isso é apenas consequência deste processo pós-pandémico que estamos agora a viver. O melhor momento foi no final, quando saí pela porta dos artistas e vi as pessoas na rua, a falar sobre o concerto, ninguém fica a falar sobre algo que não gostou", diz com ironia..Bloom surgiu pela primeira vez em 2016, com o disco Tremble Like a Flower, e "apesar de ter passado tanto tempo e não ter sido muito regular a esse nível", considera o novo álbum "uma continuação com o seu quê de renascimento", por marcar "o regresso a um lado elétrico e poderoso", do qual, confessa "já sentia alguma falta". Porque é disso mesmo que se trata, de um conjunto de canções rock poderosas, com uma produção eletrónica que as torna ainda mais grandiosas, na melhor tradição de artistas como Roxy Music, David Bowie ou The Cure. "Será, porventura, das coisas mais sofisticadas e elegantes que já fiz", admite JP Simões, que teve como cúmplice o amigo Miguel Nicolau, músico dos Memória de Peixe. "Todas estas músicas cresceram muito na pós-produção, feita já em parceria com o Miguel. Foi um processo deveras estimulante, porque funcionamos quase por telepatia e ele tornou tudo aquilo que eu tinha pensado em algo ainda mais surpreendente", recorda..Composto por oito temas, Drafty Moon é apresentado com humor pelo seu autor como "um disco feito ainda com um pessimismo pré-pandémico". Segundo JP Simões, "algumas músicas já tinham 6 ou 7 anos e estavam apenas à espera da oportunidade certa". O álbum, aliás, "já estava praticamente pronto em 2019", num momento em que, assume, se encontrava "num pico de angústia em relação ao mundo", devido a toda a erupção de tendências e conflitos que têm marcado os últimos anos. "Tinha a sensação de fazer parte de uma raça maldita e dei por mim a torcer muito pelos miúdos que têm contestado a lógica do mundo dos adultos", conta. E foi precisamente esse o ponto de partida: "dar um lado enérgico e com algum humor a todo esse pessimismo". Depois, chegou a pandemia para baralhar tudo: "Senti uma coisa meio bizarra, de estarmos todos conectados por uma mesma situação, o que me trouxe uma estranha sensação de paz. Dos talibãs às irmãs da caridade, todos estávamos debaixo da mesma nuvem e comecei a acreditar que até poderia ser o primeiro passo para uma nova fase para a humanidade, mas entretanto já percebi que não e o título do disco acaba por remeter também um pouco para isso"..Reconhece que sempre fez música por "uma constante necessidade de reinvenção e de reestruturação pessoal", no sentido "da assunção de algumas dificuldades pessoais em lidar com o mundo" e este álbum não foge a essa regra. "Devo ser o artista com mais discos de autoajuda no mundo (risos)". Na forja tem já outro trabalho, com edição prevista "algures para a Primavera", esse sim, nascido durante os tempos do confinamento. "São as músicas que fiz quando estive enfiado em casa, como toda a gente. Vai ser um disquinho, apenas de voz e guitarra, sobre a doce revelação que foi para mim este período. Vai ser algo muito mais simples, mas não queria deixar de editar", salienta. E, tal como o presente álbum, será novamente assinado por Bloom. "Ultimamente tenho-me sentido mais à vontade a escrever em inglês e não estou para confundir ainda mais as pessoas que me ouvem", explica. Mas, por agora, a prioridade é mesmo Drafty Moon, que depois do lançamento, foi novamente apresentado ao vivo ontem em Coimbra, no Teatro Académico Gil Vicente, e hoje no Porto, no novo espaço Mo.uc.o. "Tenho-me sentido muito bem a tocar com a banda e espero sinceramente que este disco tenha uma boa carreira. Estes concertos vão ser uma celebração de tudo o que somos, bem como das miscelâneas de vida que estas músicas guardam. É isso, vão ser uma celebração da vida"..dnot@dn.pt