Zeca Afonso/90 anos: petição pede a classificação da sua obra
José Afonso faria esta sexta-feira 90 anos. Por isso, este foi o dia escolhido pela Associação José Afonso (AJA) para entregar no Ministério da Cultura a petição, com cerca de 11 400 assinaturas que apela à salvaguarda e reedição da obra do cantautor.
Um dos nomes mais importantes da música portuguesa do século XX, José Afonso nasceu em 2 de agosto de 1929 em Aveiro e começou a cantar enquanto estudante em Coimbra, tendo gravado os primeiros discos no início dos anos 1950 com fados de Coimbra, pela editora Alvorada. "Voz de um povo sofrido, voz de denúncia, voz de inquietude. Voz sinete da revolução de Abril", como descreve a associação, José Afonso gravou álbuns como Cantares do Andarilho, Traz Outro Amigo Também, Cantigas do Maio, Venham Mais Cinco e Coro dos Tribunais. Autor de Grândola, Vila Morena, uma das canções escolhidas para anunciar a revolução de abril de 1974, José Afonso morreu a 23 de fevereiro de 1987, em Setúbal, de esclerose lateral amiotrófica, diagnosticada cinco anos antes.
"São as suas canções que queremos disponíveis às novas gerações. Porque é urgente que assim seja! É a sua obra, de enormíssima e incontestável grandeza, que queremos encontrar acessível. Porque é inadmissível que não existam no mercado discográfico todos os álbuns de um artista de tal valor!", explicou à Lusa Jorgete Teixeira da direção da AJA.
A associação lançou a petição com o objetivo de acelerar o processo de classificação da obra de José Afonso com vista à sua proteção e reedição, porque a maioria do trabalho do cantor está indisponível no mercado discográfico. Em junho, quando foi lançada a petição, o presidente da AJA, Francisco Fanhais, salientava que se estava perante "um imbróglio jurídico, porque a Movieplay [editora que detém os direitos comerciais da obra de José Afonso] está em situação de insolvência e não se sabe do paradeiro dos masters das músicas gravadas pelo Zeca Afonso", o que compromete a reedição destes trabalhos.
A 19 de julho, o parlamento aprovou um projeto de resolução do Partido Comunista Português (PCP) que recomenda ao Governo a classificação da obra de José Afonso como de interesse nacional, precisamente com vista à sua reedição e divulgação. Nessa semana, questionado pela agência Lusa sobre este assunto, o Ministério da Cultura, através de fonte oficial, afirmou que reconhecia "a importância da obra de Zeca Afonso" e que estava "a articular e a desenvolver diligências com o representante dos herdeiros de Zeca Afonso para encontrar formas de localizar e preservar os masters".
A família do músico José Afonso apoia a classificação e "o reconhecimento do interesse público" da obra fonográfica do cantautor português. Em nota enviada à Lusa, a família de José Afonso, detentora dos direitos da obra musical, explicou que "tem vindo a colaborar diretamente com o Ministério da Cultura, desde 2018, para que este desenvolva o processo de classificação dos registos".
A família considera que "as recentes iniciativas públicas relacionadas com este tema, incluindo uma resolução na Assembleia da República e uma petição, vieram reforçar o acerto e a oportunidade desta classificação". "Espera-se que este processo resulte, não apenas no reconhecimento oficial da importância maior desta obra, mas também na sua eficaz proteção e preservação para as gerações vindouras", sustentou.
Nos próximos dias estão previstas várias iniciativas culturais para assinalar o aniversário de nascimento de José Afonso, grande parte delas promovidas pelos diferentes núcleos da Associação José Afonso.
Entre elas conta-se, por exemplo, esta sexta-feira, o espetáculo "Como se fora seu filho" em Grândola, com atuações do cantor Francisco Naia e do rapper Xoto, e um concerto dos Cais da Saudade em Setúbal.
Em Lisboa, no sábado, José Afonso será evocado na apresentação do livro e disco José Afonso ao vivo pelo jornalista Adelino Gomes, com atuação de Filipa Pais, Maria Anadon, Zeca Medeiros e David Zaccaria.
Em Aveiro, será inaugurada uma silhueta do músico na estação de comboios da CP, da autoria de Marcos Muge, e no sábado haverá um concerto dos Couple Coffee.
O Seixal (Setúbal) celebrará a efeméride nos dias 9 e 10 com vários concertos, entre os quais de Francisco Fanhais, Manuel Freire, Tertúlia Coimbrã da Mira Tejo e Mário Barradas.