Joel, o Cruel. A longa jornada do camaronês que se destaca na Madeira
Um camaronês naturalizado brasileiro? Joel Tagueu tem 24 anos, mas uma história de vida já longa e recheada de aventuras. Em janeiro, aterrou na Madeira e desde então tem sido uma das grandes revelações deste campeonato. O ponta--de-lança do Marítimo já apontou oito golos na I Liga, suficientes para se ter tornado o melhor marcador da equipa na prova, juntamente com Ricardo Valente. No domingo, será uma ameaça ao Sporting num jogo crucial para a decisão do segundo lugar entre os leões e o Benfica, equipa à qual o nome de Tagueu já surgiu associado como possível reforço na próxima época.
O sonho de se tornar profissional de futebol, Joel Tagueu alimentou-o desde criança, nas ruas de Nkong-samba, cidade da província de Litoral, nos Camarões. E, tal como acontece com muitos jovens africanos, Tagueu teve de deixar a família muito novo, para fugir à pobreza e tentar a sorte como futebolista. Passou, sem sucesso, por África do Sul, Egito, Bulgária e Bélgica, até aterrar no Brasil com apenas 15 anos, levado, juntamente com outros talentos africanos, por um grupo de empresários que detinha o Iraty, clube do estado do Paraná.
Os primeiros tempos no Brasil não foram nada fáceis, recorda o avançado ao DN. "A adaptação foi muito complicada, pois sofri uma mudança brusca. O Brasil tem muitas diferenças culturais em relação aos Camarões, mas o mais difícil foi começar a falar a língua. Nossa, como foi complicado!", atira, com um sotaque agora perfeito, de tal forma que parece um brasileiro de gema. "Fui viver para o centro de estágios do clube e não percebia nada do que me diziam nem me conseguia exprimir. Tinha de ser tudo através de gestos, o que tornava as coisas difíceis... Muitas vezes, colocava o que queria dizer no Google Tradutor e as pessoas lá iam percebendo", conta.
Nesta altura, Joel era um rapaz triste, que só se animava quando falava com a mãe ao telefone. "A minha mãe deu-me muita força e foi graças a ela que não me fui abaixo. E eu próprio percebi que tinha de ser forte se quisesse cumprir o sonho de um dia ser jogador profissional", sublinha, acrescentando que tudo melhorou depois de começar a conseguir expressar-se em português.
Depois de quatro temporadas no Iraty, seguiu-se o Londrina, também no estado do Paraná, onde se estreou como profissional. Em 2014 chegou ao Coritiba, onde diz ter vivido a melhor fase da carreira no Brasil, e apontou oito golos em 20 jogos na sua estreia no Brasileirão, ganhando a alcunha de Joel, o Cruel pela frieza revelada na finalização. A boa temporada chamou a atenção do Cruzeiro, onde não teve grande sucesso (três golos em 25 jogos). Seguiu-se o empréstimo a outro grande, o Santos, onde fez sete golos em 35 jogos, e novas cedências, a Botafogo e Avaí, até surgir o Marítimo, em janeiro último.
Joel só tem elogios para a formação madeirense, com a qual tem contrato de empréstimo até ao final da próxima temporada. "Eu já tinha a ambição de jogar na Europa e quando surgiu este convite fiquei muito entusiasmado. Vim para Portugal e mal vi o complexo desportivo, e a história do clube, fiquei sem a mínima dúvida de que tomei a decisão correta", garante, elogiando o nível da I Liga portuguesa: "É um campeonato muito disputado. FC Porto, Sporting e Benfica são grandes clubes e a bola corre muito em Portugal, com os jogadores a conseguirem mostrar-se muito."
Um dos futebolistas que mais se têm destacado nesta segunda metade da época é Joel Tagueu, a tal ponto que já foi apontado como alvo do Benfica para a próxima época. "É um grande clube, quem não gostaria de jogar lá? Seria algo importante para mim. No entanto, não me chegou nada até agora e tenho contrato com o Marítimo", realça.
E como seria fazer dupla com Jonas? "Eu sou jogador do Marítimo, por isso não me posso imaginar a jogar com o Jonas, mas sim com o Rodrigo Pinho, o Ricardo Valente e os outros meus colegas do Marítimo", refere. Confessando estar a "adorar viver na bonita e tranquila ilha da Madeira", o único lamento é o facto de o Marítimo não ter atingido lugar de acesso à Liga Europa.
Mira apontada ao Sporting
Joel não marcou nos três últimos desafios, incluindo na derrota caseira frente ao FC Porto, mas já aponta a mira ao Sporting, esperando poder bater Rui Patrício. "Vou fazer por isso, mas já sairei satisfeito de campo com uma vitória, mesmo que eu não marque. Sei que vou ter dois grandes defesas centrais pela frente, principalmente o Mathieu, que já conhecia de ver jogar no Barcelona, mas vamos trabalhar para vencer", promete ao DN.
Um empate ou uma vitória do Marítimo poderão significar o terceiro ou quarto lugar para os leões, com o consequente afastamento da terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões. E apesar de o Marítimo não ter hipóteses de chegar à Liga Europa, uma vez que o sexto posto já não é alcançável, o camaronês garante que "a equipa tudo irá fazer para terminar com uma vitória", não devido a qualquer "gostinho especial" de impedir o Sporting de atingir o segundo lugar, mas sim porque "o profissionalismo do grupo assim o obriga, diz Joel Tagueu, uma das boas revelações desta Liga 2017-18.