Joaquim Gomes, viver para e pela Volta

Joaquim Gomes é um dos nomes mais importantes do ciclismo português. Venceu duas vezes a Volta a Portugal e atualmente é o presidente da prova.
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Reduzir Joaquim Gomes à tarefa de diretor da Volta a Portugal é, no mínimo, injusto para o homem que é a alma omnipresente da estrutura organizativa e cuja vida gira em torno da maior prova velocipédica nacional.

Óculos na cara, telemóvel em punho, numa verdadeira extensão da mão, um sorriso sempre presente e uns olhos azuis que transmitem a felicidade de estar de corpo e alma naquele que é o seu objetivo de vida desde os 15 anos: assim é Joaquim Gomes, o antigo campeão transformado em diretor da Volta a Portugal.

Sempre presente, conhece todos os rostos, todos os nomes. Não se engana nas datas, nos palmarés, trata por tu todos e cada um e nunca está mal disposto, um facto que se explica por uma imensa paixão.

"Eu tenho uma ligação umbilical a esta modalidade, o ciclismo ofereceu-me os amigos, espoletou o início da minha própria vida familiar. Tudo na minha vida está ligada à Volta e é assim que eu quero continuar. Agora há momentos difíceis, como em tudo na nossa vida, é preciso saber lidar com eles e mesmo nos piores momentos há que retirar deles pontos positivos", contou à agência Lusa.

O dia-a-dia de Joaquim Gomes inclui curtos diálogos com seguranças, polícias, perguntas constantes por parte da imprensa, um permanente ir e vir entre os carros das equipas, veículos oficiais da corrida ou o pódio.

"É um dia muito complicado, mas que não deixa de, apesar do muito stress, incutir prazer. Este é o meu mundo desde os 15 anos, conheço todas as vertentes organizativas, mas tenho que reconhecer que, pelo menos, os dois primeiros dias da Volta são muito stressantes, pois é preciso ter uma atenção impressionante, porque há muitos assuntos, a máquina ainda não está devidamente 'untada'", confessou.

E este é apenas o pré ou pós corrida, já que durante os quilómetros das etapas viaja na frente do pelotão, sentado no lado do pendura, controlando todos os pormenores, antevendo qualquer contratempo, gerindo um "manancial de informação" inesgotável, passível de ser enfrentado apenas depois do traquejo que foi adquirindo ao longo dos anos.

"Sei que a nossa capacidade de improviso a qualquer momento vai ser colocada à prova, mas acredito que as maiores responsabilidades daqui para a frente ficam nos ombros dos corredores e dos seus diretores desportivos", brincou, confessando que, ao longo de 11 dias, contacta com cerca de 2.500 pessoas.

No ano em que celebra dez anos à frente da organização da principal prova velocipédica do calendário nacional, Joaquim Gomes recordou com nostalgia o caminho que o conduziu ao seu presente.

"Deste lado são dez anos, mas, de qualquer maneira, quase que sou obrigado a recordar que em cinco dos últimos sete anos de carreira acabei por criar a minha equipa, na qual, além de corredor, desempenhava outras tarefas que me foram logo colocando com estas questões que em tudo são idênticas à organização de uma grande prova de ciclismo, desde a área comercial, ao marketing e à comunicação", relembrou.

Duas vezes vencedor da Volta a Portugal, não consegue imaginar-se longe dela, mesmo que garanta que o futuro a Deus pertence.

"Qualquer dia tenho 50 anos, cada vez mais me conformo que a minha vida vai continuar ligada ao ciclismo. A Volta é o meu objetivo de vida desde os 15 anos. Quer seja na organização da Volta, na federação ou ligado a qualquer outra entidade, creio que o ciclismo e a Volta vão continuar a nortear o meu destino", confessou.

Para Joaquim Gomes, de 47 anos, a experiência de ser diretor é quase como a de ser ciclista. E a explicação é simples: trabalha-se o ano todo para viver a felicidade em uma semana e meia.

"É como se a nossa visão ganhasse um ângulo de 360 graus, em que vemos tudo ao nosso redor. Os momentos mais difíceis são quando a Volta acaba, em que se sente um vazio enorme. A adrenalina falta e entramos nalgumas semanas de depressão, mas depressão a sério, em que sentimos a falta deste alvoroço", lamentou.

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