João Pereira Coutinho, de milionário a devedor

Integrou quase todas as listas dos mais influentes homens de negócios do país. Tinha um jacto privado, um helicóptero e uma ilha em Angra dos Reis. Agora é notícia pelas dívidas à banca
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Quando a crise financeira mundial começou a ganhar forma, em 2007 - mais de um ano antes da queda do banco americano de investimentos Lehman Brothers - já João Pereira Coutinho vivia uma situação delicada. Mesmo sendo, na altura, considerado o quinto português mais rico. Mas a sua fortuna tinha pés de barro.

No dia 30 de Julho de 2007, Filipe Pinhal e Christopher de Beck, administradores do BCP, «formalizam um pedido de auditoria às condições em que tinham sido aprovadas operações de financiamento atípicas e com grau de risco superior ao normal a clientes/accionistas», como descreve um documento entregue por Pinhal ao tribunal que julgou, anos mais tarde, o seu caso. João Pereira Coutinho era um dos casos, especificamente apontados pelo banqueiro, de acionistas do BCP que usavam o seu poder para obter financiamentos arriscados para as suas atividades. Ou seja, à semelhança do que fizeram outros ex-donos do BCP, como Berardo, Nuno Vasconcellos, entre outros, recebia crédito do banco para se tornar acionista ali e noutras empresas.

Poucos anos mais tarde, em 2011, quando a troika chegou, a fortuna de Pereira Coutinho já não figurava entre as 30 maiores do país. Perdera-se no turbilhão financeiro. E na quebra de vendas em que se baseava o seu negócio de revenda de carros.

Avião e ilha à venda

O que se conheceu, a partir de então, foi a dimensão oposta da riqueza: a das dívidas. A holding de Pereira Coutinho, a SCG, apareceu em 2013 como uma das maiores devedoras a bancos do país, nos dados do relatório encomendado pelo Banco de Portugal (Exercício Transversal de Revisão das Imparidades das Carteiras de Crédito). No total, essa dívida era de 704 milhões de euros. Entre os credores estavam os maiores bancos nacionais - Caixa Geral de Depósitos, Banco Comercial Português, BPI e BES.

Desde então, as notícias sobre João Pereira Coutinho mudaram. Poucos anos antes, o empresário era descrito como o "milionário reservado" que convidara, em 2003, a família do então primeiro-ministro, Durão Barroso, para umas férias na sua ilha privada, em Angra dos Reis, no Brasil, e os transportara a bordo do seu avião Falcon 7X.

A ilha do Capítulo foi posta à venda, por 14 milhões de euros, no ano passado. O Falcon foi vendido. E o mesmo aconteceu ao helicóptero com que o empresário se costumava deslocar em Portugal.

Foi, nas palavras do próprio João Pereira Coutinho, em declarações ao Sol, o resultado de um "fim de ciclo".

Os seus negócios, em Portugal, estavam concentrados na revenda de automóveis, da marca Volkswagen. No Brasil, onde viveu depois do 25 de Abril e se licenciou em gestão, tinha vários negócios no imobiliário e turismo, mas tem vendido, recentemente, muitas das suas participações nessas empresas.

Quando começou, tinha uma garantia para dar, a fortuna familiar - o seu pai enriqueceu com a construção, adjudicada à sua empresa, dos caminhos-de-ferro de Angola e Moçambique. Mas as suas dívidas, à banca portuguesa, tornaram-se ingeríveis. Daí a reestruturação que culminou, com a venda da sua maior empresa, a SIVA, à Porsche por 1 euro - o que ditará uma reestruturação do grupo SAG. E se baseia num perdão de dívida que pode chegar aos 370 milhões de euros, por parte dos bancos.

O homem que se costuma gabar de ter apresentado Durão Barroso a Lula da Silva, receberá assim um novo, e ainda mais valioso, crédito: a possibilidade de recomeçar.

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