Impressionante é dizer pouco. Basta analisar a estatística do desempenho pessoal de João Mário desde o início da carreira para perceber de imediato a excelente época que o médio do Benfica está a fazer. Tem 23 golos marcados e 12 oferecidos, o que significa que tem 35 participações em golos, mais do dobro da melhor época até agora : 17 participações em golo, em 2015-16, então pelo Sporting..Sob o comando do treinador alemão Roger Schmidt, já estabeleceu novos melhores registos da carreira e com destaque para os golos. Até esta época começar, o camisola 20 do Benfica tinha 27 golos marcados em onze temporadas de carreira... Agora soma 23 desde agosto. Ou seja, passou de uma média de 2,45 golos por época para 2,88 golos por mês!.Inteligente na ocupação dos espaços e taticamente evoluído, passou a funcionar como o patrão e um dos organizadores de jogo da equipa, a influência do internacional português, que se mantém no grupo da seleção nacional, que ontem entrou em estágio, vai muito para além dos golos que fazem dele o melhor marcador da I Liga, com 17 remates certeiros em 25 jornadas..Beneficiando do estatuto de marcador de penáltis, João Mário leva 12 golos marcados dos 11 metros, tendo superado no sábado os 11 do paraguaio Oscar Cardozo, em 2012-13, tendo ficado apenas a dois dos 14 de Eusébio, em 1966-67. O médio persegue ainda o título de médio mais goleador de todos os campeonatos europeus numa só época, que é do português Bruno Fernandes (31 golos em 2018-19, quando jogava no Sporting). Para já, lidera a lista com 23 golos..No Benfica, tem protagonizado um duelo interessante com o companheiro de equipa Gonçalo Ramos pelo título de melhor marcador do Benfica em todas as competições, perdendo para o avançado por apenas um golo nesta altura (23 contra os 24 do camisola 88). Nos últimos 20 anos, só um português marcou mais golos de águia ao peito numa só época: Pizzi que fez 30 golos em 2019-20 de águia ao peito..Esta época, João Mário já bisou em cinco partidas, sendo que o fez pela última vez frente ao V. Guimarães (vitória por 5-1, no sábado). Antes desta época, tinha apenas um bis no currículo: 5-1 ao Arouca pelo Sporting, a 19 de março de 2016, ano em que foi campeão da Europa pela seleção nacional..O futebolista que fez formação nos rivais FC Porto e Sporting e passou por Inter Milão (clube que vai encontrar nos quartos-de-final da Liga dos Campeões), West Ham, Lokomotiv Moscovo e Sporting, antes de renascer no Benfica na temporada 2021-22 e se preparar para uma época de sonho aos 30 anos..Também nas competições europeias está a deixar marca. A jogar a Champions pela segunda vez na carreira, o médio marcou em cinco jogos consecutivos e igualou um recorde de Eusébio. Afastado das duas taças, o Benfica lidera a I Liga, com 10 pontos de vantagem para o segundo classificado, o FC Porto. E João Mário é o quarto jogador mais utilizado por Roger Schmidt, depois de Vlachodimos, Grimaldo e Florentino, totalizando 3343 minutos em campo durante 40 jogos - está a cinco do máximo de partidas numa só temporada..A estreia como sénior aconteceu com 18 anos. Jogava nos juniores do Sporting quando Domingos Paciência o chamou à equipa principal para um jogo da Liga Europa com a Lazio, no dia 14 de dezembro de 2011. Os leões já estavam apurados para os 16 avos-de-final da competição e o então técnico resolveu chamar cinco jovens para o jogo com os italianos, no fim da fase de grupos..Aos 76 minutos, o Sporting perdia por 2-0 e Domingos promoveu a entrada do júnior João Mário, para o lugar do defesa americano Onyewu: "Estávamos apurados e escolhi os jovens em quem vi mais potencial e o João Mário era um deles. Sempre o admirei. Já o conhecia desde os nove anos quando jogava no FC Porto e acompanhei-o sempre na Academia. Também gostava de ter lançado o João Carlos, mas falava-se que ia para o Liverpool e optei por lançar aquele com quem poderia contar no futuro, o João Mário.".Na altura, quis que ele tentasse "segurar o jogo e ter mais bola", algo que ainda hoje é uma das suas características mais vincadas: "A forma de jogar é a mesma, é única, mas obviamente que a maturidade nota-se nas decisões que hoje toma. É alguém que transmite muita tranquilidade à equipa e ao seu jogo. Isso vê-se até nos penáltis. Ter 12 penáltis marcados é mérito. É o tipo de jogador que aparece no jogo aos poucos e este ano está a aparecer mais e com mais regularidade. Tem mais liberdade, que é como gosta de jogar.".A questão da falta de intensidade, defendida por alguns, é uma falsa questão, segundo Domingos, porque quem "dá intensidade ao jogo é a bola e o João Mário consegue ter a capacidade para acelerar e/ou temporizar o jogo, daí se destacar muitas vezes a sua inteligência e leitura de jogo"..Se é mérito de Roger Schmidt e do seu sistema ou da capacidade de João Mário moldar a equipa é uma questão "complexa de mais" para responder quem está de fora, mas "é inegável que está a fazer uma grande época"..isaura.almeida@dn.pt