João Kopke, o candidato joker da Liga
João Kopke podia ter sido ginasta, mas preferiu ser surfista. Mas ginasta é talvez o único "chapéu" que o mais surpreendente candidato ao título nacional de surf, que se decide em Cascais a partir desta quinta-feira, deixou para trás. Porque continua a ser cantor lírico, contrabaixista clássico, fotógrafo, poeta e mais uma enciclopédia de coisas que este coloca ao serviço de algumas marcas em projetos de vídeo como o "Desfiltrado" ou "Riding Portugal". O primeiro, que mostra os bastidores da Liga Meo e o segundo, uma ambiciosa série de dois anos que é exibida nos suportes do seu principal patrocinador, a TAP.
Talvez seja injusto dizer que Kopke, que possui no currículo títulos nacionais de surf em todos os escalões de formação, dos sub-12 aos sub-18, é uma completa surpresa na corrida ao título, afinal, o ADN de competidor está lá e tem-no levado consistentemente ao "top 16" na Liga. Contudo, sempre faltou a "reta final"...até este ano. Afinal, depois de chegar à final na etapa da Figueira da Foz e ter conseguido um terceiro lugar na Praia Grande, o sempre sorridente João só depende dele próprio para ser campeão e não enjeita a possibilidade de todo. Mesmo que admita que a época está a ser uma surpresa também para o próprio.
"Não, não me passava de todo pela cabeça chegar à última etapa da Liga como candidato e a depender apenas de mim para ser campeão. Não é uma questão matemática; se vencer, sou campeão", explica enfaticamente, assumindo, também ele, a surpresa.
A época nem sequer começou bem para o surfista de Carcavelos. A primeira etapa, em Ribeira D"Ilhas, parecia confirmar mais uma época mediana, conforme recorda: "Na Ericeira, o resultado parecia confirmar que, de facto, eu estava concentrado nos meus projetos de vídeo e não tanto na competição. Mas tenho uma relação complicada com Ribeira, uma relação de ódio-ódio. É uma onda que é a antítese de tudo o que gosto, completamente oposta a Carcavelos: tem força mas é mole, lenta... e acho que pela primeira vez desde que me lembro de competir na Liga, perdi antes dos quartos de final."
Mas, conta Kopke, a derrota na Ericeira conjugada com o surf que estava a fazer para o seu projeto vídeo "Riding Portugal", acabou por acordar algo dentro de si: "De repente, comecei a sentir-me muito bem a surfar e com vontade de simular heats nos treinos. Cheguei ao Porto e perdi nos quartos com o Pedro Coelho e o Marlon Lipke, mas com a sensação que podia ter ganho. Isso acendeu uma chama qualquer, acho..."
Uma chama que na Figueira da Foz deu em incêndio: Kopke chega à final com Gony Zubizarreta, espanhol que já venceu a Liga (embora não possa reclamar título de campeão nacional devido à nacionalidade) e um dos melhores a surfar em Portugal. "O meu treinador já me tinha dito que ia ganhar na Figueira. Ri-me, mas comecei a passar heats e, de repente, estava na final com o Gony, um dos melhores surfistas que conheço e meu grande amigo." O ambiente foi tão divertido ou surreal que Kopke decidiu ir beber uma cerveja com Zubizarreta antes da final. "Se calhar foi o que me tramou", diz, no meio de uma gargalhada.
Para a Praia Grande, a disposição foi a mesma, de "completo relaxamento": "Acho que foi isso que me fez surfar tão bem outra vez e acabei em terceiro lugar, o que me coloca nesta posição tão favorável. Fui divertir-me e surfar bem mas inteligentemente. A querer passar o heat mas sem pressão para o fazer."
Então e para Cascais, a partir desta quinta-feira, o que é o que o "joker" da Liga vai fazer? "Sou o "dark horse", aquele que ninguém espera que vença. A verdade é que não estou a contar ser campeão mas vou a contar dar umas "trincas" e baralhar as coisas. Se ganhar, ótimo, se não...estou a viver o melhor ano de surf da minha vida e isso torna-me perigoso."