João Félix enfrenta Real contra a maldição dos dérbis no Wanda
Atlético e Real Madrid disputam este sábado (20.00 horas) o primeiro dérbi da temporada na Liga espanhola. Um jogo aguardado com muita expectativa, afinal as duas equipas encontram-se separadas por um ponto quando estão decorridas seis jornadas. E um dos grandes aliciantes deste 223.º jogo oficial entre os dois rivais é saber se será desta que os colchoneros vão conseguir vencer o vizinho pela primeira vez no seu novo estádio, o Wanda Metropolitano, inaugurado a 16 de setembro de 2017.
O primeiro dérbi na nova casa colchonera terminou com um empate 1-1 (golo de Cristiano Ronaldo), enquanto no ano passado os merengues arrancaram um triunfo por 3-1. Aliás, o Atlético já não vence o Real em casa para a Liga desde fevereiro de 2015 e essa foi até a única vitória nos últimos 18 jogos entre as duas equipas. E para encontrar outro triunfo rojiblanco é preciso recuar a... 1999.
Mas estará esta tradição com os dias contados? Essa é pelo menos a expectativa dos adeptos do Atleti, embalados pela goleada de 7-3 que aplicaram ao eterno rival num jogo de pré-temporada em julho, disputado em New Jersey, nos Estados Unidos. E aí brilhou João Félix, que marcou um golo e fez duas assistências que ajudaram a destroçar o Real Madrid. "Estou muito contente com o que fiz no jogo, não imaginava que fosse assim", disse o avançado português no final desse primeiro dérbi madrileno.
João Félix é, aliás, um especialista a marcar nos grandes clássicos, pelo menos foi isso que mostrou em Portugal, enquanto jogou na primeira equipa do Benfica. É que marcou na estreia em duelos com o Sporting com um golo de cabeça que ditou o empate 1-1 no Estádio da Luz e depois marcou um dos golos no triunfo por 2-1 no Dragão frente ao FC Porto, que lançou a equipa de Bruno Lage para a conquista do título na época passada. Pelo meio ainda faturou em Alvalade na vitória por 4-2 para o campeonato. Ao todo, foram seis jogos do jovem avançado com leões e dragões, nos quais marcou três golos.
Depois de nove temporadas em que Cristiano Ronaldo foi protagonista dos dérbis madrilenos, com 22 golos em 31 jogos, eis que chega agora a vez de João Félix começar a escrever a sua história aos 19 anos. O ex-benfiquista leva seis jogos e dois golos marcados pelo Atlético, o último dos quais na partida desta quarta-feira na vitória por 2-0 em Maiorca, sendo cada vez mais o menino querido dos adeptos do clube, um estatuto que poderá reforçar se brilhar no seus primeiro dérbi oficial.
João Félix entra em campo como o jogador mais caro da última janela de transferências, graças aos 126 milhões de euros pagos pelo Atlético ao Benfica, superando mesmo o belga Eden Hazard, contratado pelo Real Madrid ao Chelsea por 100 milhões de euros. Ainda assim, os merengues foram quem mais investiu em reforços para esta época, totalizando 307,5 milhões de euros, contra os 243,5 milhões gastos pelo Atlético.
Ainda assim, de acordo com o site especialista em mercado de futebolistas Transfermarkt, Hazard é o jogador mais valioso entre os dois plantéis, estando cotado em 140 milhões de euros, seguido pelos colchoneros Jan Oblak e João Félix que apresentam uma cotação de 100 milhões de euros.
Estas serão três das maiores estrelas que vão desfilar no relvado do Wanda Metropolitano, com o plantel do Atlético a estar avaliado, ainda segundo a mesma fonte, em 872,5 milhões de euros, enquanto o do Real Madrid chega aos 1,19 mil milhões de euros. Aliás, os merengues têm a segunda equipa mais valiosa do mundo, apenas superada pelos 1,28 mil milhões de euros do Manchester City, por sua vez os colchoneros surgem no sétimo lugar do ranking mundial, atrás de Barcelona, Liverpool, PSG e Tottenham.
Diego Simeone, treinador do Atlético de Madrid, afirmou numa entrevista recente ao jornal La Nación que o seu clube estava a criar condições para deixar de ser a equipa do povo, uma vez que já tinha dinheiro para comprar jogadores como Thomas Lemar e João Félix, por verbas que há uns tempos eram impensáveis. Na realidade, os colchoneros foram sempre visto como o clube de Madrid que representava os mais desfavorecidos da zona sul da cidade, enquanto o Real foi sempre conotada com as classes mais altas que habitavam o centro da capital espanhola.
Esse tema voltou à baila na antevisão do jogo, com Zinedine Zidane, técnico do Real Madrid, a contornar a questão de uma forma politicamente correta. "Não entro nesse tipo de coisas, apenas digo que aqui as pessoas acordam cedo, trabalham duro. Se dizem que este é um clube de ricos e outros de trabalhadores, não sou eu que vou mudar isso", frisou, prometendo apenas que tudo irá fazer "para que os adeptos fiquem orgulhosos da sua equipa".
A goleada de 7-3 sofrida às mãos do rival na pré-temporada também não tira o sono ao treinador do Real Madrid nas horas que antecedem a este duelo. "Isso não tem nada a ver, nem sequer voltei a ver esse jogo", assumiu Zidane, pouco disponível para continuar a falar sobre esse momento infeliz da sua equipa.
O Real Madrid entra no Wanda Metropolitano como líder da Liga espanhola, mas Zizou não quer perder tempo com esse pormenor. "O que interessa é que seja um grande jogo e o que estejamos focados no que temos de fazer. Queremos fazer um grande jogo frente a um adversário complicado e que tem muitas armas", assumiu.
Sobre a equipa do povo, Diego Simeone limitou-se a dizer que "Zidane explicou muito bem", preferindo centrar-se naquilo que será o dérbi, garantindo que "o Real Madrid melhorou muito desde os 7-3 da pré-temporada, pois tem grandes futebolistas e um grande treinador", razão pela qual garante que a sua equipa "tem de fazer bem as coisas para dificultar o jogo do adversário".
O treinador do Atlético de Madrid destacou a frente de ataque do rival composta por Eden Hazard, Gareth Bale e Karim Benzema, jogadores que "podem causar problemas" à sua equipa, embora tenha destacado "uma coluna vertebral muito forte, onde Casemiro e Benzema são muito importantes".
Atlético e Real Madrid são conhecidos também pelas alcunhas de colchoneros e merengues, respetivamente, que atravessaram os tempos quase desde as respetivas fundações.
Quando foi fundado em 1903, o Atlético de Madrid começou por ser um clube satélite do Athletic Bilbau, bem mais poderoso nos primeiros passos do futebol espanhol. É por isso que usa a camisolas listradas a vermelho e branco desde 1911, pois na altura foram comprados equipamentos em Southampton e divididos pelos dois clubes espanhóis.
Só que nessa altura, em Espanha eram populares os colchões brancos com quatro tiras vermelhas. A comparação foi inevitável e depressa se tornou uma alcunha.
Já o Real Madrid passou a ser chamado de clube merengue também por causa das suas camisolas brancas, utilizadas desde a fundação em 1902, cuja cor depressa foi comparada a uma sobremesa de uma popular confeitaria de Madrid, feita com açúcar e claras de ovos batidas até formar picos firmes, a que se chamava... merengue.
Foi o locutor Matias Prats Cañete, considerado um pioneiro da rádio em Espanha, que começou a utilizar esta referencia de merengue ao Real Madrid, popularizando-a nos seus relatos de tal forma que dura até aos dias de hoje.