Joacine grita ao congresso: "Isto é uma perseguição. Elegeram uma mulher negra que foi útil para a subvenção"
Depois de ouvir, lidas do púlpito do IX congresso do Livre, as acusações de que é alvo na resolução da Assembleia do partido, Joacine Katar Moreira voltou a dirigir-se aos congressistas numa intervenção muito violenta, por vezes a gritar, em que acusa o partido de a querer agora descartar com base em mentiras.
Joacine diz ser alvo de "uma perseguição absoluta", "uma vergonha". "Isto é uma mentira absoluta. Como é que isto é possível, como é que ousam dizer isto?", questiona a deputada, visivelmente exaltada.
"Eu não fiz nada de errado. Ainda", continua Joacine, que perante o burburinho na sala face a esta afirmação, insiste: "Ainda. Eu sou humana". "Estive ali obcecada a defender todos os pontos dos quais esta eleição foi o resultado. Ousam meter em causa que eu não fiz esforço nenhum?! Usam o ódio do qual tenho sido alvo para me afastar", acusou do púlpito a parlamentar.
Garantindo que não vai deixar o Parlamento - "não vou renunciar, para que as pessoas que votaram nestas legislativas não se sintam defraudadas" - Joacine responsabiliza os membros do partido pela situação em que ficará.
"Fazem ideia que uma deputada não inscrita quase não tem tempo e intervenção? Vocês é que vão decidir se me vão silenciar", disse Joacine Katar Moreira, que terminou a intervenção a sugerir que foi usada pelo partido, que agora a quer descartar: "Elegeram uma mulher negra que foi útil para a subvenção". Na plateia ouviu-se a voz do assessor da deputada, Rafael Esteves Martins - "É isso mesmo".
Acabada a intervenção, Joacine continuou a gritar, exaltada: "É inadmissível, é uma vergonha". O congresso acabou por ser interrompido durante cinco minutos.
Depois a intervenção de Joacine, segue-se um período de intervenções dos membros do Livre, Ricardo Sá Fernandes, membro da Comissão de Ética e Arbitragem do partido, defende que "aquilo que querem fazer à Joacine é uma profunda injustiça". O advogado diz que não estão esgotados todos os mecanismos para ultrapassar o conflito entre a direção e a deputada, argumenta que a Comissão de Ética deveria ter sido ouvida pela Assembleia antes de aprovar uma resolução a defender a retirada da confiança política à deputada.
"Que se trate isto com bom senso, com dignidade e com espírito democrático", rematou, defendendo que a decisão deve passar para a Assembleia que for eleita neste congresso.
Depois de Ricardo Sá Fernandes é a vez de Rui Tavares, fundador e rosto mais conhecido Livre - um "partido de uma esquerda verde europeísta que discute com transparência". "Há partidos ecologistas que fazem congressos à porta fechada, não é o caso", prossegue o historiador, num remoque ao PAN.
Defendendo que as "caras teimosas" que estão na plateia têm direito a mais do que um congresso de um tema só (leia-se o diferendo com Joacine), Rui Tavares diz que vai votar uma das propostas que foi já anunciada pelo antigo dirigente do partido Miguel Won, que apresentou uma moção de confiança à direção cessante., que aprovou a resolução que propõe a retirada da confiança política a Joacine Katar Moreira. "O Livre prefere ser fiel aos seus princípios do que a qualquer cargo político" diz Rui Tavares.
Joacine Katar Moreira já tinha falado antes aos congressistas do Livre, numa intervenção também muito crítica para com a resolução aprovada pela Assembleia do partido, que propõe que lhe seja retirada a confiança política.
"Este relatório fere a minha honra, fere a minha dignidade, é um relatório cheio de inverdades, de mentiras, de omissões", afirmou a deputada, falando em acusações de "uma vulgaridade absoluta". "Isto é inadmissível, isto não é a cultura do partido Livre", prosseguiu Joacine, acrescentando - "Muitos de nós não estamos preparados para o voto que os portugueses nos deram a 6 de outubro".
No discurso a deputada queixa-se que o Grupo de Contacto - a direção executiva do partido - não respeitou a sua autonomia enquanto deputada desde o início do seu mandato. "Desde a minha eleição como deputada única representante do partido venho sucessivamente a ser confrontada com a restrição da minha liberdade de escolha, que começou com a definição do meu gabinete na Assembleia da República", sustentou, argumentando que está regulado que a deputada é que escolhe pessoas da sua confiança".
Joacine deixa antever que as escolhas que fez para o gabinete não foram bem vistas no partido, mas sublinha que "um deles é fundador do Livre, recolheu assinaturas" - "algo que muitos de vocês não fizeram", diz para a plateia -, e outra das assessoras escreveu o Manifesto da Diáspora na fundação do partido. "Quantos de vós aqui fizeram isso? Eu não fiz", prossegue a deputada, lamentando que "haja muito ruído, muito ódio, muita manipulação", interna e externa. "É normal que as pessoas não façam ideia da excelência do nosso trabalho porque isso não é noticiado", prossegue a parlamentar, falando em "dois meses de ação na Assembleia da República desvalorizados sistematicamente e manipulados".
"A minha consciência está tranquilíssima", disse ainda Joacine Katar Moreira, garantindo que "não houve falha nenhuma no cumprimentos dos ideais e do programa do partido" - "Isto é facilmente comprovável".
À chegada ao congresso, que está a decorrer no centro cívico Edmundo Pedro, em Lisboa, Joacine garantiu que "está fora de questão" renunciar ao mandato de deputada.
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