Jihadista da célula de Aveiro recebeu treino militar na Síria

O suspeito recrutador jihadista, em prisão preventiva desde ontem em Monsanto, remeteu-se ao silêncio durante o interrogatório do juiz Carlos Alexandre.
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Um dos suspeitos jihadistas da designada "célula" de Aveiro, Hicham el Hanachi, detido em França desde novembro por alegadamente estar preparar um atentado naquele país, terá estado na Síria onde recebeu treino militar com o exército do daesh. A investigação dirigida pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e pela Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT) da PJ, permitiu ainda apurar, através das informações da cooperação internacional, que Hanafi foi radicalizado por Abdessalam Tazi ainda em Marrocos.

Tazi está em prisão preventiva desde a noite de quinta-feira na cadeia de alta segurança de Monsanto, depois de ter sido extraditado da Alemanha, sob a suspeita de ter cometido em Portugal os crimes de recrutamento de jovens marroquinos para o daesh, de apoio e adesão a organização terrorista e de financiamento de terrorismo.

Os investigadores têm fortes indícios de que a viagem de Hanafi para Portugal foi preparada por Tazi já com a intenção de conseguir o asilo político e fazer do nosso país uma base da sua atividade para o resto da Europa. Tazi, 63 anos, já teria em Marrocos a função de recrutador para o Estado Islâmico. Identificava jovens que queriam emigrar e com abertura para as ideias mais radicais do islão, proporcionava-lhes documentos e bilhetes de viagem e acompanhava-os ao destino. Hanafi teve como destino Portugal.

Ambos chegaram em 2013 ao aeroporto de Lisboa com passaportes e identidades falsas, alegando ser essa única forma de fugir do país onde eram perseguidos politicamente. Na altura esconderam que se conheciam. Abdessalam Tazi era polícia em Marrocos e assumiu-se opositor ao regime marroquino, defendendo uma linha islâmica mais radical. Obtiveram estatuto de refugiados em 2014, mas o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) começou a monitorizar os seus movimentos. Foi quando confirmou que estavam tentar a radicalizar jovens, quer no próprio centro de refugiados da Bobadela, onde estiveram alguns meses, quer entre outros membros da comunidade marroquina em Portugal, que o SEF informou a UNCT, que tem competência exclusiva para investigar estes crimes, e as secretas.

Mas já não conseguiu impedir que, pelo menos, dois jovens, um deles também refugiado, acabassem por ser recrutados e e se fossem juntar ao ISIS na Síria. A atividade de Hanachi e Tazi passava por vários países da Europa e uma das maiores dificuldades da investigação foi mesmo o facto da enorme mobilidade de ambos, estando a maior parte do tempo fora de Portugal. Espanha, Inglaterra, França, Grécia, Turquia e até Brasil foram alguns dos destinos registados pelas autoridades internacionais, no âmbito de um pedido de "vigilância discreta" feito por Portugal.

Tazi tinha também residência na Alemanha, país onde acabou por ser preso por crimes menores, como burlas, falsificações e fraudes e que poderiam já estar ligadas ao financiamento da sua atividade. A sua eminente libertação levou o DCIAP a acelerar o pedido de extradição para que pudesse vir a ser julgado em Portugal pelos crimes de que é suspeito de ter cometido a partir daqui e sobre os quais a UNCT e o SEF reuniram várias informações.

Perante a evidência de que Portugal está na rota do daesh, demonstrada pela atividade de Abdessalam e Hanachi no nosso país, o governo mostra-se confiante no trabalho das polícias. Questionado sobre se alterar alguma prioridade no combate ao terrorismo ou se será reforçado o controlo de segurança nos centros de refugiados, o gabinete da ministra da Administração Interna salienta: "foi precisamente a existência de controlo de segurança e a eficaz cooperação policial e judiciária, nacional e internacional, que permitiram identificar e dar início ao processo de investigação criminal que levou à detenção destes dois suspeitos em dois países europeus distintos".

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