Jerónimo garante "total liberdade e independência" do PCP

O líder comunista quis demarcar-se da política do governo PS. No fecho do Avante, defendeu que o seu partido e os Verdes "condicionam as decisões" para repor rendimentos ao povo. E espera para ver como será o OE 2017
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Jerónimo de Sousa conseguiu inflamar os ânimos dos milhares de presentes que torravam ontem, sob um calor sufocante no fecho da Festa do Avante!: "O PCP mantém total liberdade e independência políticas."

Num discurso de cerca de 50 minutos, no Seixal, o secretário-geral comunista declarou que a solução política saída das eleições de outubro passado - conhecida como geringonça - "traduziu-se não na formação de um governo de esquerda" nem na criação de uma maioria de esquerda no Parlamento nem numa "situação em que o PCP seja força de suporte ao governo" socialista de António Costa.

Pelo contrário, enfatizou Jerónimo de Sousa, nasceu "uma relação de forças em que PSD e CDS-PP estão em minoria" e tanto o PCP como os Verdes - nem uma palavra para o Bloco de Esquerda - "condicionam decisões e são determinantes e indispensáveis à reposição e conquista de direitos e rendimentos" para os trabalhadores e o povo.

Discursando no Palco 25 de Abril, acompanhado - pela primeira vez num comício do PCP - por intérpretes de língua gestual, Jerónimo de Sousa acusou também o PSD e o CDS de estarem "apostados na desestabilização do país a todo o custo", afirmando a seguir que as opções políticas do PS "são um grave bloqueio à resposta" para resolver os problemas do país - o que poderá deixar num dilema a "total liberdade e independência políticas" do PCP, se voltarem a surgir condições equivalentes às que levaram à queda do governo Sócrates e à vitória eleitoral da direita em 2011, pela qual muitos responsabilizaram o PCP e deixou, nas palavras do próprio secretário-geral, um "rasto de declínio económico com a destruição de força e capacidade produtivas do país".

Note-se que, apesar de afirmar que "a solução política alcançada não substitui a necessária e cabal resposta aos muitos e graves problemas que anos e anos de política de direita" implementada por "PSD, PS e CDS", Jerónimo de Sousa reconheceu que a geringonça "permitiu travar e inverter no imediato o curso de uma ofensiva brutal e responder [...] a problemas prementes dos trabalhadores e do povo" - para o que elencou muitas das medidas aprovadas com o contributo ou sob proposta do PCP.

Já com o início dos trabalhos parlamentares à porta e a serem dominados pela apresentação e discussão do Orçamento do Estado para 2017, Jerónimo de Sousa exclamou: "A nossa decisão será determinada sempre pelo seu conteúdo. O nosso compromisso é examinar a proposta, [...] propor e encontrar soluções para que prossiga uma linha de devolução e reposição de direitos, de respeito pelos salários, de aumento das pensões, mas também de dar resposta aos problemas do crescimento, do emprego e do desenvolvimento."

De frente para grandes painéis em torno do largo fronteiro e onde se liam frases como "Política patriótica e de esquerda, mais força ao PCP", "A banca ou é pública ou não é nacional", "Basta de submissão à UE e ao euro" ou "Renegociar a dívida, defender a soberania nacional", Jerónimo de Sousa mostrou-se enfático: "O futuro de Portugal exige a rutura com as imposições e chantagens que visam perpetuar a submissão, a exploração, o endividamento e o empobrecimento" de Portugal e dos portugueses.

Ainda sobre a atual solução política de um governo PS com o apoio parlamentar dos três partidos de esquerda, que "não substitui a necessária e cabal resposta aos muitos e graves problemas" existentes, Jerónimo denunciou o que qualifica como "a sistemática hostilidade e a forte resistência das forças do grande capital nacional e transnacional e dos seus aliados políticos internos e externos".

"Duas ameaças e uma ilusão"

"PSD e CDS intrigam e deturpam para confundir os portugueses. Mentem sobre a solução política e o atual quadro político", promovendo "toda uma campanha" que associa "tragédias e iminentes catástrofes" à política e propostas de "devolução de direitos e rendimentos", acusou o secretário-geral comunista, adiantando: "É vê-los a ampliar mentiras e manobras contra o interesse nacional, da inevitabilidade dos "planos B" de regresso ao saqueio do povo" à "germânica operação de um novo resgate".

É por tudo isso, argumentou Jerónimo de Sousa, que a solução dos problemas do país no quadro de "evolução da nova fase da vida política nacional [...] está confrontada com duas ameaças, que intimamente se articulam com a necessidade da superação de uma perigosa ilusão que permanece".

As ameaças que identificou foram a "insidiosa ação dos partidos do revanchismo, PSD e CDS, apostados que estão na desestabilização do país a todo o custo" e a que se "desenvolve a partir da UE com o mesmo objetivo de fazer implodir qualquer solução que ponha em causa a orientação da política dominante", acusou o líder do PCP.

Sobre "a ilusão", prosseguiu, resulta de se considerar que "é possível" resolver os problemas nacionais "com simples ajustamentos ao modelo imposto pelo processo de integração capitalista da UE e sem o libertar das amarras da política que o conduziu à crise e à ruína".

Nesse sentido é que Jerónimo de Sousa apontou também as baterias contra o PS, declarando que as suas opções políticas constituem "um grave bloqueio à resposta aos problemas do país" por "não romper com os constrangimentos externos" da UE nem com "os interesses do capital monopolista".

Acresce que essas opções do PS, insistiu o dirigente comunista a três meses da realização XX Congresso do partido, são "também uma forma de favorecer as forças que querem impor o regresso ao passado e continuar a levar o país pelo caminho da crise e ao declínio".

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