"Isto não é para eleger o Mister Simpatia", diz Jorge Coelho
O dia de ontem foi diferente para Maria de Belém. Sendo certo que incluiu (como habitualmente) uma Misericórdia e o respetivo lar de idosos, no caso em Mortágua (Viseu), também teve alguma alegria e até um jantar com cerca de 300 apoiantes em Viseu - um recorde absoluto desde que se iniciou o período oficial de campanha (até agora este tipo de iniciativas não tinha tido mais de 40 presenças).
A esta mobilização "inusitada" poderá não ter sido alheio o facto de Jorge Coelho se ter juntado à comitiva. Fê-lo aparecendo para almoçar com a candidata na cantina da fábrica da Vista Alegre em Ílhavo, que depois visitaram prolongadamente. À noite, no jantar, pertenceu a Jorge Coelho o discurso mais forte, como se esperava. O antigo todo-poderoso chefe do aparelho socialista levou para a campanha a energia que sempre se lhe conheceu. E tinha umas coisas para dizer.
Mas primeiro a alegria. Ela viu--se numa visita à "Cavalinho", uma fábrica de malas de senhora em São Paio de Oleiros (concelho de Santa Maria da Feira, distrito de Aveiro). As operárias receberam com sorrisos a notícia de que haveria um pequeno intervalo na laboração para que a candidata lhes dirigisse umas palavras. Garantiu--lhes que se for eleita elas terão na Presidência alguém "que as representará e que as ouvirá sem intermediários". E pediu-lhes que votassem: "Nunca devemos deixar de exercer os poderes que temos. Porque se deixarmos ficamos mais fracas." Maria de Belém posou para selfies com as operárias, ensinou--lhes o seu slogan ("Vota bem, vota Maria de Belém) e ouviu-as aplaudirem-lhe o discurso.
E depois seguiu-se o momento mais divertido do dia: a candidata visitou aquele que se apresenta como "o maior presépio do mundo", erguido há 11 anos pelos donos da "Cavalinho", chamariz de milhares de visitantes todos os anos, espaço permanente de quatro mil metros quadrados com inúmeras figuras animadas, desde as religiosas às políticas (Soares, Cunhal, Cavaco, Salazar, etc.). No final, como é da praxe, a candidata posou para os fotógrafos ao lado de um senhor anão mascarado de Pai Natal.
À noite, no jantar comício, Maria de Belém deixou por conta de Jorge Coelho um ataque cerrado a Marcelo (a candidata continua a não falar dos outros candidatos para "não lhes fazer a campanha" - mas depois alguém o tem de fazer).
Marcelo, disse Jorge Coelho, "passa-se da cabeça" quando é contrariado porque há 20 anos que está habituado a fazer os seus comentários políticos sem contraditório. E isso, segundo acrescentou, aconteceu durante os debates, por isso está "outra vez a tentar voltar à época de comentador" para limpar a má imagem que deixou nos confrontos televisivos com os adversários.
Ora acontece que "a situação é séria demais". "Temos de eleger alguém que dê confiança às pessoas" e "estamos aqui para eleger um presidente da República com maturidade, com experiências, que nos possa trazer confiança". Ou, dito de outra forma, "isto não é para eleger o mister Simpatia, é para eleger o presidente da República". "Estamos numas eleições para presidente da República ou para eleger a pessoa mais simpáticas, ou a mais divertida, ou aquela que diz hoje uma coisa e diz outra amanhã? É isto que queremos eleger", perguntou o antigo dirigente socialista, acusando ainda Marcelo de ser alguém que "retira a dignidade do cargo para o qual as eleições se fazem".
"As eleições são demasiadamente importantes para que se assista a este circo" e além disso nas características para um PR "é fundamental maturidade" e "bom senso". Sendo que, nos cargos políticos que ocupou, Marcelo só criou "grandes confusões", é essa a sua "grande marca" - e que o diga Francisco Pinto Balsemão, "ao que consta ainda hoje não se falam". E, por outro lado, o ex-líder do PSD é mesmo "o candidato da direita", neste momento ele e Passos Coelho só estão "a simular uma espécie de férias conjugais".
Antes do jantar, ao fim da tarde, a candidata foi recebida em Mortágua (Viseu) pelo presidente da câmara, José Júlio Norte, do PSD (embora eleito à frente de uma lista do PSD), velho amigo das lides das Misericórdias. José Júlio Norte desejou a Maria de Belém "as maiores felicidades". Mas depois, aos jornalistas, escusou dizer se votará na ex--ministra ou não.
Belém, pelo seu lado, voltou a insistir na tecla de que é preciso analisar o "perfil" dos candidatos, conhecer-lhes a biografia, saber o que fizeram ao longo da vida. "O nosso passado é a prova do nosso futuro", disse - e denunciando depois "aqueles" (sem dizer a quem se referia) que agora por causa das presidenciais "se aproximaram de compromissos que nunca tiveram no seu leque de opções".