Iniciativa Liberal. Uma dúzia de outdoors mudaram a vida do 'partido do Twitter'

O partido começou por ser conhecido como do "Twitter", mas domingo chegou ao parlamento. Sem rostos conhecidos ou grandes recursos como conseguiu isto? Muita criatividade e uma dúzia de <em>outdoors</em> talvez expliquem grande parte do sucesso
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O outdoor que "mais rendeu" na campanha eleitoral da Iniciativa Liberal (IL) foi o #com primos, que colocado lado a lado com o do PS #cumprimos desconstruía a mensagem do sucesso governativo. Carlos Guimarães Pinto, líder da IL, agarrou a ideia enviada no WhatsApp por um simpatizante do partido e que "por via do efeito multiplicador das redes sociais e dos meios de comunicação chegou a muita gente". E, pelos vistos, convenceu mais de 65 mil pessoas, 1,29% dos votos, que lhe deram um deputado.

O Iniciativa Liberal nasceu em novembro de 2017, mas até há pouquíssimos meses era praticamente desconhecido da maioria dos portugueses. Foi notícia em agosto do ano passado quando o seu primeiro presidente, Miguel Ferreira da Silva, se demitiu após ter sido revelado que a página do partido no Facebook tinha sido inicialmente de apoio a António Costa nas primárias. A situação bizarra acabou esquecida, tal como o partido.

"Quando cheguei, faz domingo um ano, apresentei um projeto político e outro de comunicação irreverente", afirma ao DN Carlos Guimarães Pinto. O partido agarrou os dois e passou a "estar focado nas ideias e não nas pessoas". Quando os grandes partidos, ou até alguns pequenos - como o Chega de André Ventura (que também elegeu um deputado) e o Aliança de Santana Lopes (que não elegeu) - se fixam em figuras, a IL não o podia fazer.

"Eu não era um rosto mediático até há uma semana daí que tivesse de pensar como comunicar de forma eficaz e ainda para mais com poucos recursos", reconhece o líder da IL. Investir nas redes sociais era terreno seguro já que escrevia em blogs como O Insurgente a difundir as ideias liberais.. "Começamos por ser o partido do Twitter e hoje somos já a 4.ª força nas redes. Agora é muito fácil fazer passar a mensagem", assegura.

Após o sucesso nas redes, conseguido com uma equipa de quatro pessoas, a que se somou mais outra recentemente, era preciso encontrá-lo também na rua. Em janeiro, Carlos Guimarães Pinto conhece Manuel Oliveira, da agência de publicidade Mosca, criativo e apoiante da IL e, em conjunto, gizam toda a campanha que iria acompanhar os passos do partido até às legislativas de outubro.

O rasgo do Impostopoly

"Tínhamos pouco dinheiro e, por isso, queríamos que cada cartaz contasse", frisa o presidente da IL. Nenhum dos que foi colocado na rua teve mais de oito ou nove tiragens. A aposta foi colocá-los em sítios estratégicos em Lisboa e Porto, os centros urbanos que poderiam dar votos aos liberais.

Um dos outdoors mais famosos da coleção que colocaram na rua, o do Impostopoly, em que simularam o tabuleiro do famoso jogo com o Costa de cartola a apresentar, qual mágico, toda a carga fiscal do país, só teve dois exemplares, os quais foram colocados no Porto e em Lisboa, no Saldanha. "Colocámos dois, mas bastava um", garante Carlos Guimarães Pinto, tal o impacto que teve nos órgãos de comunicação social.

"Metade dos cartazes fui eu que desenhei e a outra metade foi o Manuel. No final estávamos muito alinhados", afirma o líder do IL. Ao todo diz que foram gastos perto de 54 mil euros nesta operação de criatividade, que surpreendeu pelo arrojo na forma de comunicar as ideias do partido. Que também passou por vídeos com muita ironia e até um polémico folheto a simular uma notificação das Finanças, enviada para as caixas de correio de muitos portugueses, e em que procuravam chamar a atenção para a "opressão do Fisco".

Mas de onde veio o financiamento para tudo isto?

"Veio das quotas dos membros e de donativos", assegura Carlos Guimarães Pinto e lembra que, de início, "até tínhamos uma quota muito elevada para os militantes, de 60 euros anuais". Os donativos que chegavam a conta-gotas no início da caminhada do partido, ganharam asas com a campanha eleitoral. "Se recebíamos 50 a 100 euros num mês, passámos a receber 100, 200, 300, 400 e 500 euros num dia. As pessoas ficaram entusiasmadas!"

A promessa eleitoral de abdicar da subvenção estatal que é dada aos partidos para financiar a campanha eleitoral é para cumprir. "Achámos que é excessiva e que não pode ser usada nas melhores formas de comunicação, quase resumindo-se a pagar jantaradas e comícios, feitos para os militantes dos partidos", afirma o presidente da IL.

A democracia, reconhece, "merece parte do Orçamento do Estado, mas essa subvenção não é bem pensada. Não pode ser usada para publicidade online, que é muito melhor do que panfletos, e só um quarto é que pode financiar os outdoors". E insiste, com resultados que estão à vista: "Os panfletos, jantares e comícios não servem para informar os eleitores. Toda gente sabe que os partidos enchem tudo com os seus próprios militantes". Por isso, remata, defendem que deve ser dado a todos os partidos "30 mil euros, e só, para as despesas de campanha". O PSD e o PS recebem cerca de um milhão... "As campanhas tradicionais são faustosas sem qualquer retorno e disse isso ao Presidente da República quando agora nos recebeu".

Deputado eleito, partido falado. A estratégia de comunicação é para prosseguir e já depois das eleições de domingo, enquanto prossegue a recolha dos outdoors antigos, a Iniciativa Liberal colocou três novos (foto em baixo), dois no Saldanha e 2.ª Circular e outro vai para o Porto.

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