Inauguração de academia leva Coimbra a "unir a China a todo o mundo da lusofonia"
Considerada como um "projeto estratégico" da Universidade de Coimbra (UC), a Academia Sino-Lusófona vai ser inaugurada na terça-feira, às 15:30, no auditório do Colégio da Trindade, com a presença do antigo presidente de Moçambique, Joaquim Chissano, o convidado de honra da cerimónia. "No fundo tentamos devolver a centralidade à Universidade de Coimbra no panorama mundial", resume ao DN João Nuno Calvão da Silva, subdiretor da academia e vice-reitor da UC para as Relações Externas e Alumni.
A inauguração oficial da Academia Sino-Lusófona surge no ano em que se assinalam os 40 anos das relações diplomáticas entre Portugal e a China. Com este projeto, os laços entre os dois países são reforçados e a UC assume um papel central. Passa a ser a "plataforma de uma rede de colaboração entre as maiores instituições universitárias do mundo lusófono e da China", explica o responsável.
Instituída em 2018, a academia tem desenvolvido um conjunto de parcerias que se vão traduzir "em múltiplas iniciativas concretas", que João Nuno Calvão da Silva espera ver concretizadas "em breve". E são elas workshops, conferências, simpósios, cursos, sobretudo oferta não conferente de grau académico, bem como a constituição think thanksmundiais, ou seja, laboratórios de ideias, centros de pensamento, produção e reflexão nas mais diferentes áreas. E ainda projetos de investigação, afirma o subdiretor da academia.
Aliás, o primeiro centro de reflexão, no âmbito da Academia Sino-Lusófona, foi criado aquando da visita do presidente chinês Xi Jinping a Portugal, em dezembro do ano passado. Na altura, a Universidade de Coimbra estabeleceu uma parceria com a Academia Chinesa de Ciências Sociais (CASS) para a criação do Centro de Estudos Chineses (CASS-UC).
Já este ano, em abril, a UC assinou uma parceria com a Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim, a Beijing Foreign Studies University (BFSU), com vista ao estabelecimento do Centro de Estudos sobre a China e os Países de Língua Portuguesa.
Dois centros de reflexão que pretendem envolver "todos os atores da sociedade civil". Como as empresas. No fundo, é associar a "teoria ao saber prático", de forma que o conhecimento desenvolvido seja projetado "numa perspetiva de dinamização do tecido empresarial da economia", explica João Nuno Calvão da Silva.
Ao abrigo da Academia Sino-Lusófona também foram assinados acordos com o Conselho Nacional do Ministério Público do Brasil, a Faculdade de Direito da Universidade de Fudan e a Universidade de Ciência Política e Direito da China.
Além das conferências, cursos, simpósios, entre outras iniciativas, esta "rede de grandes instituições universitárias lusófonas e chinesas" vai reforçar o intercâmbio e a mobilidade de estudantes. No fundo, esta é uma "tentativa de criação de um verdadeiro think tank", diz o vice-reitor da UC. "No sentido de afirmação mundial, porque não há muito disto feito no mundo que congregue toda a lusofonia, todo o espaço da língua portuguesa e a China", especifica Calvão da Silva.
Para testemunhar o arranque desta Academia Sino-Lusófona foi convidado Joaquim Chissano, o antigo presidente de Moçambique que tem uma ligação forte à Universidade de Coimbra. É desde 1999 Doutor honoris causa pela instituição. "É uma figura de grande prestígio no mundo da lusofonia", destaca sobre o também presidente do Comité Consultivo Internacional do Instituto China-África. "Uma figura que nos pareceu que concretizava este objetivo que é mostrar como podemos, em Coimbra, unir a China com todo o mundo da Lusofonia".
Além do diretor da Academia Sino-Lusófona, Rui de Figueiredo Marcos, e do Reitor da Universidade de Coimbra, Amílcar Falcão, a cerimónia de inauguração conta ainda com o embaixador da China em Portugal, Cai Run, o embaixador de Portugal em Pequim, José Augusto Duarte, o presidente do Conselho da Universidade de Macau, Peter Lam e o reitor da Universidade de Ciência Política e Direito da China, Huang Jin, entre outras individualidades.
O lançamento deste projeto segue a tendência do aumento do número de estudantes chineses, bem como a, cada vez mais expressiva, mobilidade de estudantes da UC para instituições chinesas.
"Neste momento somos uma universidade muito internacional. Temos 104 nacionalidades a estudar em Coimbra", sublinha o vice-reitor. Só estudantes brasileiros são cerca de três mil. "Somos a maior instituição do mundo, fora do Brasil, que mais estudantes brasileiros tem".
João Nuno Calvão da Silva confirma que há um aumento do número de estudantes chineses, "sobretudo para aprender a língua portuguesa". Atualmente, são mais de 200 os alunos chineses a frequentar a Faculdade de Letras "muito interessados em estudar português". E também tem sentido o contrário, o interesse de alunos portugueses em ir para a China aprender a língua do país.
É, no entanto, muito visível a aposta da China na aprendizagem da língua portuguesa. "Percebe a importância de Portugal, do português, da lusofonia. Dos chineses a aprenderem português para depois, dentro do seu conceito geoestratégico e através do conhecimento do Direito, trabalharem melhor as relações políticas, diplomáticas, económicas, empresariais com os países da lusofonia", explica o vice-reitor da UC.
Só na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 2017-2018, 785 alunos chineses estavam a aprender português. Entre julho de 2017 e setembro de 2018 foram 1070.
Na China, são cerca de quatro mil os alunos universitários que estudam a língua portuguesa em mais de 40 universidades. "Dentro de dois ou três anos haverá 50 doutorados em Português na China. É impressionante", constatou Luís Faro Ramos, presidente do Instituto Camões, em entrevista ao DN em abril passado.
Também o ensino da língua chinesa tem registado um crescimento em Portugal. Em dezembro do ano passado, o chinês era ensinado em 134 entidades - sete politécnicos e 22 universidades -, de acordo com os dados disponibilizados pelo Observatório da China ao DN.