Iglesias deixa Governo e Podemos e baralha as contas em Madrid

Secretário-geral do Podemos candidata-se às regionais antecipadas, onde a esquerda teme que a extrema-direita chegue ao governo em coligação com o PP de Isabel Díaz Ayuso.
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As eleições antecipadas para a região de Madrid ganharam mais protagonismo e incerteza com o anúncio, ontem, de que o até agora vice-primeiro-ministro Pablo Iglesias irá concorrer à presidência da região mais rica de Espanha, e em consequência irá abandonar o governo de coligação. "Espanha deve-me uma. Tirámos Pablo Iglesias da Moncloa [o palácio do governo]", comentou a presidente de Madrid, Isabel Díaz Ayuso. A pouco mais de mês e meio das eleições, a campanha tem todos os ingredientes para não ser monótona.

A mudança é ainda maior, uma vez que o líder do Unidas Podemos vai também deixar o cargo no partido, tendo proposto para a sua sucessão a ministra do Trabalho Yolanda Díaz, de quem Iglesias foi assessor em 2012. No governo propôs que Díaz fique com o cargo de vice-primeira-ministra e que a secretária de Estado Ione Belarra seja promovida a ministra dos Direitos Sociais. O governo terá mais ministras do que ministros e serão quatro mulheres nos cargos de vice.

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O secretário-geral do Unidas Podemos explicou num vídeo a sua decisão, tendo relevado a importância do que está em jogo no sufrágio de 4 de maio. "O bipartidarismo não vai voltar, mas a democracia está ameaçada por uma nova direita trumpista, bem implantada no estado profundo e impulsionada por enormes poderes económicos e mediáticos", daí que o próprio se apresente, assim os militantes aprovarem, à presidência de Madrid. "Um militante deve estar onde é mais útil neste momento. Fiquem certos de que colocarei tudo o que aprendi ao longo dos anos, toda a minha cabeça e toda a minha energia e experiência de governo, toda a força do meu coração na construção de uma forte e ampla candidatura de esquerda para impedir que a extrema-direita assuma o controlo das nossas instituições e para ganhar o governo da Comunidade de Madrid."

A iniciativa de Iglesias apanhou de surpresa as outras formações de esquerda, a começar pelo líder do PSOE e primeiro-ministro, Pedro Sánchez, que desejou "felicidades"a Iglesias, mas como não será surpresa, o partido terá candidatura própria, protagonizada por Ángel Gabilondo.

A outra força de esquerda na assembleia da região é o partido Más Madrid, que tem aliás mais peso (20 deputados) do que o Podemos (sete). Mónica García, que seria ou será a candidata deste partido nascido de uma cisão com o Podemos, pediu "respeito" nas negociações e lembrou que estavam "preocupados se a Unidas Podemos ia passar dos 5% de votos", o mínimo para eleger deputados, como se lê no La Vanguardia.

Na média das sondagens realizadas desde dia 10, segundo o El Periódico, o PP aumenta a representação para 47 eleitos à custa da queda do Ciudadanos (7), que elege igual número que o Podemos. Ayuso não conseguiria maioria absoluta com a extrema-direita do Vox.

A moção de censura apresentada pelo PSOE e pelo Ciudadanos há seis dias ao governo e à autarquia de Múrcia continua a abanar as fundações dos partidos políticos. A iniciativa, apresentada como uma rejeição da corrupção local do Partido Popular (PP), levando ao romper da coligação dos conservadores com os liberais na região, acabou por se saldar num fracasso em todos os níveis. Em desrespeito ao pacto assinado em novembro pelos partidos para prevenir trânsfugas, o PP de Pablo Casado aliciou três elementos do Ciudadanos e abortou a moção de censura.

Antes, e em antecipação a uma possível réplica censória na comunidade de Madrid, onde o PP governava em tumulto com o Ciudadanos, Ayuso dissolveu a assembleia regional e convocou eleições.

Entretanto, a liderança de Inés Arrimadas no partido liberal continua sob fogo à medida que as demissões e saídas do partido se acumulam. A mais recente é a do líder na Comunidade Valenciana, Toni Cantó, que abandona tudo e regressa à carreira de ator.

Arrimadas reconheceu erros e prevê que a sangria de quadros prossiga nos próximos dias "e meses", em especial para o PP (como é o caso do ex-secretário Fran Hervías), e explicou o que é para ela o partido. "A nossa única intenção é que os espanhóis possam votar num partido limpo, liberal e centrista e continuar a fazê-lo. Ser membro do Ciudadanos é difícil, implica muitas coisas. Significa estar igualmente incomodado com a corrupção de um lado ou do outro. Ser ciudadano é trabalhar para construir pontes, de um lado e do outro."

Yolanda Díaz, de 49 anos, ministra do Trabalho e da Economia Social, viu a sua candidatura à liderança da Unidas Podemos e a vice-primeira-ministra anunciada por Pablo Iglesias num momento em que a popularidade de ambos está em pólos opostos. Díaz está entre os ministros mais bem avaliados pelos espanhóis. A confirmar-se, é mais um passo na ascensão da filha de um líder sindical comunis-ta e sobrinha de um deputado do Bloco Nacionalista Galego.

Licenciada em Direito pela Universidade de Santiago de Compostela, estudou ainda urbanismo, relações laborais e recursos humanos. Em paralelo à carreira de advogada por conta própria, defendeu causas da Galiza, foi dirigente da Esquerda Unida (que se juntou ao Podemos e concorre na Galiza sob o chapéu En Común) e eleita deputada em 2016. Como ministra tem procurado fazer pontes e advogado a estabilidade do governo, em contraste com o estilo de Iglesias.

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