Povos ibéricos pré-históricos espalharam cultura pela Europa mas não os genes

O novo estudo inclui dados de ADN de 400 esqueletos pré-históricos recolhidos em vários locais da Europa
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Os habitantes pré-históricos da Península Ibérica exportaram a sua cultura para toda a Europa, da atual Grã-Bretanha à Polónia, mas não os seus genes. A conlusão é de um estudo genómico desenvolvido por 144 arqueólogos e geneticistas europeus e norte-americanos, que incidiu sobre a "portuguesa" cultura campaniforme, ou seja, a dos vasos de cerâmica decorados.

A cultura do vaso campaniforme remonta ao terceiro milénio antes de Cristo e terá tido origem na Estremadura portuguesa, junto do rio Tejo, sendo caracterizada pela produção de vasos de cerâmica decorados e em forma de sino. Essa cultura chegou à Grã-Bretanha, Sicília e Polónia e a toda a Europa central. Mas essa difusão não se deveu a grandes migrações de populações que tivessem levado a sua cultura, conclui o estudo divulgado na revista Nature, segundo o qual não há indícios de qualquer exportação genética da Península Ibérica para o resto da Europa.

Há 4700 um novo tipo de cerâmica em forma de sino foi disseminado por toda a Europa ocidental e central. Por mais de um século os arqueólogos têm tentado determinar se a propagação da cerâmica, e a cultura a ela associada, se deveu a uma migração em larga escala ou se foi antes uma troca de novas ideias.

"A difusão da cultura campaniforme da Ibéria é o primeiro exemplo de uma cultura que é transmitida como uma ideia, basicamente por uma questão de prestigio social (já que se associou às virtudes de ser viril e de ser um guerreiro), sendo por isso que é adotada por outras populações", disse o investigador Carles Lalueza-Fox, do Instituto de Biologia Evolutiva de Barcelona.

Veja um vídeo do Conselho Superior de Investigações Científicas espanhol sobre a cultura campaniforme (em espanhol):

O novo estudo inclui dados de ADN de 400 esqueletos pré-históricos recolhidos em vários locais da Europa e resolve o debate sobre que tipo de dispersão foi feita, se de pessoas se de ideias, concluindo que as duas aconteceram, mas em fases diferentes.

A conclusão é que a cultura campaniforme se estendeu da Ibéria à Europa Central sem um movimento significativo de populações, embora posteriormente se espalhasse por outros locais através de migrações - nomeadamente da Europa Central para a Alemanha, representando aqui um substituição de parte significativa da população. "Ou seja, as pessoas do neolítico que construiram Stonehenge (e que tinham uma semelhança genética maior com os povos ibéricos do Neolítico do que com os da Europa Central) quase desapareceram e foram substituídas por populações da cultura campaniforme da Holanda e da Alemanha", explica Lalueza-Fox.

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